A equipa pode ser nova e com cada vez mais jovens talentos da formação a serem lançados com sucesso mas um dos maiores segredos da campanha europeia do Sp. Braga tem passado sobretudo pela maturidade que os minhotos têm revelado na Liga Europa. Foi isso que aconteceu na primeira mão do encontro com o Rangers, foi isso que já tinha acontecido na partida frente ao Mónaco na Pedreira, foi isso que aconteceu também na segunda mão da eliminatória com o Sheriff que começou com uma desvantagem de dois golos. Mais uma vez, era nesse ponto que entroncava um possível sucesso no Ibrox Stadium, onde os arsenalistas queriam dar mais um passo na campanha de sonho na competição que poderia valer a chegada às meias-finais.

Abel Ruiz lidera vingança minhota (a crónica do Sp.Braga – Rangers)

“Independentemente do resultado ou de quem vamos defrontar, o Sp. Braga joga sempre para vencer. Com respeito pelo Rangers mas vamos desde o primeiro minuto tentar vencer o jogo, está no nosso ADN. Não vamos transformar nada no nosso jogo. Existe uma atmosfera difícil, temos preparado os jogadores para o que se vai passar nas quatro linhas. Sabemos que temos de estar concentrados na tarefa, no que têm de ser feito, nos pontos forte e menos bons do Rangers e explorá-los até ao limite. Esperamos ser bem sucedidos, não será por falta de coragem que não chegaremos às meias-finais”, prometera Carlos Carvalhal.

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“Já no Mónaco a mensagem foi exatamente esta: vantagem de 2-0 mas para tentar vencer. Empatámos mas o objetivo era vencer. Não podemos defender, vamos procurar o resultado. São atmosferas completamente diferentes, aqui o público tem muito mais influência no jogo do que no Mónaco. A equipa tem uma matriz, se essa matriz fosse de espera e transições… A acontecer terá de ser pela capacidade dos  adversários, pelas circunstâncias do jogo e aí teremos soluções. Mas não queremos isso, queremos jogar o nosso jogo e que o nosso jogo seja melhor que o do adversário. Não adianta nada estarmos focados no destino mas sim no caminho”, acrescentara, num mote muito idêntico ao que tinha deixado nos oitavos no Principado.

A ideia estava lá, a prática saiu toda ao contrário na primeira parte. Pelo golo sofrido logo aos 70 segundos, pelo 2-0 antes do intervalo, pela expulsão de Tormena também nos 45 minutos iniciais. Em inferioridade no resultado e no número de jogadores, os minhotos quase não conseguiram chegar à baliza de uma formação escocesa que viu mais dois golos anulados mas foram ainda a tempo de, na sequência de um canto, levarem todas as decisões para o prolongamento. Só mesmo aí acabaram por cair de vez. É certo que nunca uma equipa portuguesa tinha ganho fora ao Rangers e também é certo que a última formação nacional a vencer na Escócia tinha sido o FC Porto há quase 40 anos mas a forma como a equipa conseguiu levar tudo para tempo extra “pedia” algo mais na fronteira entre um “trajeto espectacular” e o “domínio do fantástico”, as definições do próprio Carlos Carvalhal para ter chegado aos quartos e poder ainda atingir as meias.

A história daquilo que foi e do que poderia ter sido o encontro demorou apenas 70 segundos a ser escrita, o tempo que o Rangers demorou para empatar a eliminatória: cruzamento da esquerda de Barisic, desvio na área para o segundo poste e entrada a matar do lateral James Tavernier, a colocar a bola entre Matheus e o poste para lançar a explosão no Ibrox Stadium (2′). E a festa não foi maior pouco depois por obra e graça do VAR, que anulou um golo a Roofe depois de mais um bom cruzamento de Barisic aproveitando as facilidades concedidas por Fabiano que acabou invalidado pelo toque com a mão do lateral na jogada (5′).

Os minhotos estavam completamente perdidos em campo mas, apesar de mais uma ameaça de Roofe com um desvio ao primeiro poste que saiu ao lado (15′), foram aos poucos conseguindo ter mais bola e outro tipo de capacidade para controlar aquilo que muitas vezes se tornava incontrolável, sobretudo quando o Rangers colocava mais unidades na frente e jogava mais direto tendo Roofe como principal referência. Foi o avançado que, pouco depois da meia hora, acertou na trave na pequena área. E foi o avançado que, já muito perto do intervalo, sofreu a grande penalidade transformada por Tavernier (44′) que motivou também a expulsão de Tormena pelo entendimento de que Roofe poderia ter seguido isolado para a baliza contrária.

O contexto mudara por completo e até a inferioridade numérica pesava e muito na hipotética tentativa de chegar ao golo que voltasse a empatar as contas, o que fez com que o segundo tempo fosse sobretudo um desfilar de oportunidades falhadas pelo Rangers entre um golo anulado a Roofe por fora de jogo e outro a Aaron Ramsey por falta sobre Matheus na pequena área. Vontade não faltava aos arsenalistas e foi quase como destino que apareceu o 2-1 que fez o empate: numa fase em que os muitos adeptos minhotos s tinham levantado para cantar como se a equipa estivesse a ganhar, o Sp. Braga ganhou um canto na direita, Iuri Medeiros bateu de pé esquerdo com o arco para dentro e David Carmo desviou de cabeça (83′).

Existia a grande dúvida em relação à parte física dos minhotos, que além de jogarem com menos um ainda tinham sido sujeitos a um enorme desgaste por parte dos escoceses, mas os minutos iniciais mostraram um Sp. Braga inteligente na forma de gerir a partida mesmo não conseguindo esticar jogo até à área de McGregor mas o sonho ruiu de vez em menos de cinco minutos antes do intervalo do tempo extra, com Roofe a marcar o 3-1 após uma grande assistência de Joe Aribo (101′) e Iuri Medeiros a ver sem necessidade dois amarelos consecutivos, o segundo dos quais por protestos, e a deixar a equipa reduzida a nove (105′). Com o jogo virado do avesso e David Carmo já na frente com Vitinha, o Rangers teve mais oportunidades flagrantes e uma bola na trave mas a eliminatória manteve-se apenas a um golo de diferença até ao 3-1 final.