No habitual espaço de comentário televisivo, Luís Marques Mendes falou de um “Orçamento do imposto escondido”, referindo-se à proposta de Orçamento do Estado entregue pelo ministro das Finanças na passada quarta-feira. “É o Orçamento da inflação, e a inflação é uma espécie de imposto escondido, é um imposto que come rendimento”, disse no comentário semanal no Jornal da Noite emitido na SIC.

Marques Mendes não deixou de indicar cinco aspetos positivos que diz ver no OE: as medidas sociais, sobretudo nas pensões e nas creches; a redução do défice; a redução da dívida em percentagem do PIB; as medidas para compensar a subida dos preços, e ainda o fim do imposto “Costa Silva”, referindo-se às medidas que o ministro da Economia tinha admitido lançar e que acabaram por cair — “Percebe-se que o ministro foi desautorizado”.

Tendo em conta os aspetos negativos, o comentador político enumerou a perda de poder de compra dos funcionários públicos, mas também dos pensionistas; a não atualização dos escalões do IRS, e, como “último defeito”, a “falta de ímpeto reformista”, com o atual documento a seguir a “tendência” dos OE anteriores.

Marques Mendes diz que Fernando Medina subscreveu “o discurso das contas certas”, o que considera ser uma política “correta e responsável”. “O PS está mais aberto para falar explicitamente da redução do déficit porque não há geringonça”. O comentador especula ainda o seguinte: se Fernando Medina “quer introduzir uma marca é no OE de 2023”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Este, afirma, é o primeiro OE de António Costa em que há uma diminuição dos rendimentos e não um aumento. “Há perda de poder de compra em vários segmentos da sociedade por causa da inflação”, motivo pelo qual o PS “vai ter uma pressão” por parte da opinião pública. “Isto é um bónus para o PCP e para a CGTP.”

Artigo de Cavaco Silva “pode ajudar” candidatos à liderança do PSD

Marques Mendes iniciou o comentário político desta noite fazendo referência ao artigo de opinião de Cavaco Silva, publicado no jornal Público. Admitindo que os artigos do ex-Presidente da República causam por norma “alvoroço” e “polémica”, justifica que o autor é muito “acutilante” e que “praticamente não há oposição em Portugal”, pelo que este tipo de posições são necessárias.

“Desta vez, este artigo de Cavaco Silva pode ter um outro resultado”, diz, referindo-se à ajuda que o mesmo pode dar aos candidatos à liderança do PSD: “Este artigo pode influenciar os programas” no sentido de “contribuir” para que estas mensagens possam ser incorporadas “nos discursos” tendo em conta as eleições internas do partido. Marques Mendes defende que tanto Luís Montenegro como Jorge Moreira da Silva não “vão deixar de incorporar nos seus discursos” as respetivas mensagens.

Rui Moreira e a “descentralização de fachada”

Perante o descontentamento de Rui Moreira, que ameaçou sair da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), Marques Mendes diz que a questão de fundo é saber se a descentralização está ou não a ser bem feita.

Explicador. Moreira quer bater com a porta, autarcas dizem que falta dinheiro. A polémica da descentralização em cinco perguntas

“Aí Rui Moreira tem toda a razão, teve a coragem de ir ao ponto: é uma descentralização de fachada”, disse, comentando que no sector da saúde o que está em causa “é um simulacro de descentralização”. Marques Mendes assegurou ainda que existe um estudo independente da Universidade do Minho que dá razão aos municípios.