A polícia do Chile intercetou esta quarta-feira, no aeroporto de Santiago, o comerciante português procurado pela Interpol suspeito de introduzir “elementos explosivos no Líbano”, que resultaram na trágica explosão ocorrida em 2020 no porto de Beirute.

O português, que tinha embarcado em Madrid com destino a Santiago do Chile, foi intercetado por agentes da Polícia de Investigação do Chile, na sequência de um “aviso amarelo emitido pela Interpol”, explicou a chefe da Polícia Internacional do Aeroporto Arturo Merino Benítez, citada pela agência EFE.

Por ter introduzido “elementos explosivos no Líbano”, este “comerciante de nitrato” português é suspeito numa investigação sobre a explosão em Beirute em agosto de 2020, onde morreram mais de 200 pessoas e 6.500 ficaram feridas, incidente que causou a devastação de bairros inteiros na capital libanesa.

Em agosto de 2020, a Fábrica de Explosivos de Moçambique (FEM) confirmou à Lusa que encomendou as 2,7 toneladas de nitrato de amónio que estiveram na origem das explosões em Beirute, salientando que a carga apreendida pelas autoridades libanesas foi substituída por outra remessa.

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A encomenda foi feita pela FEM, em 2013, à empresa Savaro, da Geórgia, e o local de descarga previsto era o porto da Beira, em Moçambique, mas aquela carga “nunca foi entregue”, uma vez que o navio ficou retido em Beirute, por ordem das autoridades locais, acrescentou fonte da empresa na altura.

Em janeiro de 2021, a Interpol tinha emitido um mandado contra o comerciante português que, em 2014, examinou o armazém no porto de Beirute onde estava o carregamento de nitrato de amónio. Segundo noticiou na altura o jornal “Público”, o português alvo de investigação é Jorge Moreira, comerciante de nitrato.

Após o mandado da Interpol ao funcionário português, a FEM explicou que este visitou o porto de Beirute em 2014 como prática profissional habitual. A FEM é detida pela empresa Moura, Silva & Filhos, com sede na Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga.

As autoridades do Chile adiantaram ainda esta quarta-feira que, depois de identificado, o português foi devolvido a Espanha, onde será recebido de acordo com a legislação espanhola e as instruções da Interpol.

Quase dois anos após o desastre de Beirute, a investigação continua a decorrer e foi feito pouco progresso, devido ao que várias organizações de direitos humanos consideram obstrução deliberada por ex-autoridades consideradas suspeitas neste processo.

A explosão, anunciada como uma das mais poderosas detonações artificiais não nucleares da história, levou o governo libanês a declarar estado de emergência durante duas semanas, em resposta ao desastre. Como resultado, eclodiram protestos contra o Executivo pela sua incapacidade em evitar o desastre.

Em 2013, o navio “Rhosus”, com bandeira da Moldávia e proveniente da Geórgia, fez uma escala em Beirute, a caminho de Moçambique, de acordo com uma fonte de segurança libanesa, mas a embarcação nunca mais saiu daquele porto, devido a problemas técnicos.

A bordo tinha 2.750 toneladas de nitrato de amónio, que pode ser usado na composição de certos explosivos para uso civil, mas também pode ser usado como fertilizante.

Líderes como o presidente libanês, Michel Aoun, e o então primeiro-ministro, Hasan Diab, reconheceram que sabiam da sua existência antes do incidente. A explosão de cerca de três mil toneladas desse fertilizante causou uma onda de choque que devastou vários bairros da capital libanesa, deixando ainda cerca de 300 mil pessoas temporariamente desabrigadas.