Um sistema de gestão de trânsito e estacionamento anunciado em 2015 para a cidade de Fátima e descrito como uma peça-chave para a visita do Papa Francisco a Portugal em 2017 custou 820 mil euros a implementar, mas nunca funcionou, relata esta quinta-feira o Jornal de Notícias.

Trata-se do Sistema Integrado de Mobilidade da Cova da Iria, uma iniciativa anunciada em 2015 com objetivo de “monitorizar o estacionamento e orientar os condutores para os espaços mais adequados” — uma necessidade premente no Santuário de Fátima, onde em alguns momentos do ano, particularmente nas peregrinações de 13 de maio e 13 de outubro, estão presentes largas centenas de milhares de pessoas.

O Santuário de Fátima dispõe de 14 grandes parques de estacionamento em torno do recinto de oração, com capacidade para milhares de carros e autocarros, mas a inexistência de informações sobre a ocupação de cada um deles constituía um desafio à organização do trânsito na cidade.

O novo sistema, implementado ao abrigo de um protocolo entre o Santuário de Fátima, a Câmara Municipal de Ourém e a Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria, incluiu a instalação de equipamentos de controlo eletrónico da capacidade e ocupação dos parques e ainda um conjunto de equipamentos de sinalética digital por toda a cidade.

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Adjudicado à Soltráfego, o sistema, que custou cerca de 820 mil euros, nunca chegou a funcionar verdadeiramente. Devia ter estado a funcionar em maio de 2017, quando o Papa Francisco visitou Fátima para assinalar o centenário das aparições e canonizar os pastorinhos Francisco e Jacinta.

Dois meses depois dessa visita, o Jornal de Leiria noticiava que o sistema de controlo do trânsito continuava sem funcionar — e nenhuma entidade envolvida no processo se comprometia com uma data para a entrada em funcionamento. A Soltráfego garantia que, da sua parte, tudo estava devidamente executado e implementado, enquanto a câmara de Ourém afirmava apenas que o sistema se encontrava em testes.

Agora, cinco anos depois da visita do Papa Francisco, o Jornal de Notícias dá conta de que o sistema não só nunca funcionou como também vários dos equipamentos instalados na cidade de Fátima já se encontram danificados.

Um dos problemas apontados é a falta de marcação dos lugares em vários dos parques de estacionamento do Santuário de Fátima, que continuam a ser de terra batida, o que impede a correta contabilização da capacidade e da ocupação dos parques — inutilizando o uso do sistema eletrónico.

“O sistema foi bem idealizado, mas apresentava, desde o início, fragilidades que deveriam ter sido acauteladas, como a requalificação e consequente marcação dos parques de estacionamento do Santuário que ainda estão em terra batida”, admitiu ao Jornal de Notícias o presidente da câmara de Ourém, Luís Albuquerque (PSD), eleito em outubro de 2017, altura em que herdou a situação iniciada no executivo anterior, liderado por Paulo Fonseca (PS).

Luís Albuquerque reconhece que há “falta de diálogo e de articulação” entre o Santuário de Fátima e a câmara e admite que o sistema foi “uma boa ideia”, que acabou por não ser bem executada, havendo também problemas com o software contratado. A solução, diz o autarca, é uma “nova candidatura para melhorar o sistema”.