A Tesla fez saber que, apesar de utilizar um sistema com a voltagem tradicional de 400V, em todos os seus modelos, prepara-se para abrir mão desta solução e conceber sistemas a 800V para os próximos Cybertruck e Semi. Resta saber quais serão os ganhos em matéria de potência para recarga, bem como a redução do tempo necessário para levar o acumulador até aos 100%.

A generalidade dos veículos a bateria monta sistemas eléctricos a 400V, excepção feita para os construtores que adquiriram tecnologia aos croatas da Rimac, como é o caso da Audi, Kia, Hyundai e Porsche, que apostaram na possibilidade de trabalhar a 800V, o que permite reduzir os amperes e, com isso, recarregar mais facilmente a uma potência superior. A Tesla, pelo seu lado, continua fiel aos 400V nos Model 3, Y, S e X, em parte porque os seus concorrentes a 800V ainda não conseguiram diferenciar-se neste capítulo.

As baterias aquecem quando são recarregadas a grande potência, mas é sobretudo a amperagem que as limita. A potência resulta do produto da voltagem (em volts) pela intensidade da corrente (em amperes), o que significa que um sistema com o dobro da voltagem necessita de metade dos amperes para atingir a mesma potência. Ou o dobro da potência sem necessitar de incrementar o valor referente aos amperes e, com isso, o esforço devido ao incremento da temperatura.

A Tesla não contesta esta realidade, mas enquanto os seus veículos puderem recarregar livremente a 250 kW, apesar dos seus 400V, e os melhores concorrentes oscilarem entre 225 e 270 kW (como é o caso do Porsche Taycan), mesmo a trabalhar a 800V, não há grandes motivos para realizar já a mudança. Tanto mais que há que ter em conta a rede dos postos de carga, bem como a respectiva disponibilidade em termos de energia, proporcionada pela rede eléctrica local, que já obrigou a Tesla a ter de recorrer a baterias estacionárias quando trocou os Superchargers V2 (a 150 kW) pela geração V3 (a 250 kW). Seria mais fácil contornar esta limitação se uma estação de carga da Tesla oferecesse apenas dois carregadores, como acontece com a Ionity, que fornece 350 kW, mas com estações com entre oito e 12 Superchargers, como acontece em Portugal, é algo difícil de materializar face à rede local.

A próxima pick-up Cybertruck e, sobretudo, o tractor para camiões semi-reboque Semi vão montar packs de baterias com maior capacidade, especialmente quando comparadas com os 75 kWh dos Model 3 e Y, ou os 100 kWh dos Model S e X. O responsável pelos motores e sistemas de energia da Tesla, Andrew Baglino, afirmou à InsideEVs que “nos veículos com baterias mais pequenas, há vantagens e inconvenientes em adoptar os 800V, com o saldo final a não ser evidente”. Para de seguida avançar que, “nos modelos com baterias maiores e que necessitam de mais binário, como a Cybertruck e o Semi, optar por uma voltagem superior é benéfico”.

Ambos os modelos vão começar a ser fabricados em 2023 e não é improvável que também o Roadster tenha igualmente de recorrer a uma voltagem superior, uma vez que o seu acumulador será bem superior a 100 kWh.

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