O atual ministro das Finanças, Fernando Medina, não vê razões para desconfiar das explicações dadas pelo antecessor, João Leão, a propósito da polémica com o ISCTE. “Tomo por boas” as declarações de Leão, diz Medina ao Expresso, em entrevista no podcast Money, Money, Money.

Ainda que sem entrar em detalhe sobre o caso em concreto, Medina diz não ter “nenhuma razão para não as tratar como tal”, frisando que a autorização de despesa das Finanças para o financiamento do projeto em causa — o Centro de Valorização e Transferência de Tecnologias, do ISCTE, onde Leão será agora vice-reitor — “constava dos mapas de despesa do Orçamento do Estado que tinha sido aprovado anteriormente”, mapas esses que “não foram alterados”.

Ou seja, Medina recorre a um argumento que Leão, através do gabinete de comunicação do ISCTE — instituição onde já dá aulas desde 2008, mas onde passa agora a ser vice-reitor — também já tinha usado: a autorização para o financiamento que teve de passar pelas Finanças (e embora Leão tenha garantido sempre que não teve qualquer intervenção direta no assunto) aconteceu já no Orçamento passado, quando o ex-ministro ainda não sabia que haveria crise política e que o Governo iria cair, e portanto não sabia que acabaria por voltar para o ISCTE.

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Outro dos pontos que Leão usa para se defender, de novo através do ISCTE, é que será outro vice-reitor, Jorge Costa, a encarregar-se deste projeto em particular. Ainda assim, o ex-ministro da Ciência e Ensino Superior, Manuel Heitor, disse ao Público que o projeto do ISCTE foi o único dos vários que o ministério apresentou a merecer luz verde das Finanças — e Leão já veio contrariar esta versão, dizendo que foi o único apresentado por uma universidade (houve outros três de politécnicos que não tiveram autorização para avançar).

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A outra dúvida relativa ao caso, que não representará uma incompatibilidade legal dado que o período de nojo obrigatório para políticos diz apenas respeito à passagem para entidades privadas na área que tutelaram (e o ISCTE é público), é ética e tem a ver com a rapidez com que Leão negociou o cargo: o ex-ministro foi convidado a 28 de março e nomeado três dias depois, o que significa que foi convidado quando ainda estava no Executivo e assumiu o cargo apenas um dia depois de deixar de ser ministro.