Um, dois, três, dez. Em condições normais, este seria o momento em que o Bayern estava de uma forma incondicional em festa depois da conquista do décimo título consecutivo na Bundesliga num total de 32 quando o segundo com mais troféus na prova, o Nuremberga, tem apenas nove e o último no longínquo ano de 1968 quando os bávaros levavam apenas um. No entanto, e no meio dos tradicionais banhos de cerveja, todos sabiam que o nível da equipa e do clube está agora muito acima daquilo que foi conseguido esta temporada. E esse era o outro lado de umas comemorações que “fecharam” a época em Munique.

Depois da vitória a abrir a época na Supertaça frente ao B. Dortmund, o Bayern foi falhando objetivos até fechar as contas de uma Bundesliga que cada vez mais parte com um campeão definido e todos os restantes putativos candidatos a tentarem ocupar apenas as vagas com acesso à Liga dos Campeões. Caiu e com estrondo da Taça da Alemanha com uma goleada fora com o B. Mönchengladbach (5-0), foi eliminado nos quartos da Liga dos Campeões em casa com o Villarreal num jogo que acabou empatado com o golo dos espanhóis apenas a dois minutos do final (1-1). Também por isso, a conquista do Campeonato sabe a pouco. Mas foram mais os problemas que foram assolando a equipa ao longo de toda a temporada.

Logo à cabeça, a questão dos finais de contrato. No final da época, Niklas Süle (B. Dortmund), Sven Ulreich (Hamburgo) e Tolisso (ainda sem destino confirmado) vão sair a custo zero à semelhança do que tinha acontecido com David Alaba no último verão e os abandonos sem qualquer compensação não deverão ficar por aqui com estrelas à mistura: Lewandowski estará a preparar-se para rumar ao Barcelona em 2023, não se sabendo o futuro de nomes como Gnabry, Müller, Manuel Neuer ou Choupo-Moting. Se um dia o Bayern foi reconhecido como o clube mais cerebral a projetar equipas a médio prazo, há sinais que mostram que a inflação de ordenados no futebol mundial provocou dificuldades à gestão dos bávaros.

Depois, os dilemas táticos que o Bayern foi enfrentando ao longo da época. A ideia e modelo de jogo não foram alterados e são quase um ADN do clube mas a equipa foi-se perdendo nas tentativas de Julian Nagelsmann procurar outras formas de superar as densas muralhas defensivas contrárias com linhas de três que colocavam mais uma unidade na frente mas que nem por isso melhoravam o rendimento (como exemplo paradigmático disso mesmo esteve o empate em Salzburgo na primeira mão dos oitavos da Liga dos Campeões). E foi essa tentação de maior balanceamento ofensivo de um conjunto que só sabe jogar em modo ofensivo que acabou por valer a eliminação da Champions quando a eliminatória estava empatada.

Em paralelo, aspetos mais de pormenor (sendo em alguns casos constituem tudo menos isso) mas que não são comuns numa equipa como o Bayern: o caso dos cinco jogadores não vacinados que provocou cisões internas em especial com aquele que é um dos elementos de maior preponderância na equipa, Julian Kimmich; os 17 segundos em que a equipa esteve a jogar por distração com 12 jogadores e que no limite poderá dar ainda uma sanção de três pontos apesar da goleada por 4-1 frente ao Friburgo; as ameaças de morte que Julian Nagelsmann foi alvo após o afastamento da Liga dos Campeões; e a alegada tensão que foi descrita por meios germânicos sentida entre administração e treinador pela política desportiva do clube.

Não são propriamente aspetos normais de ver numa equipa da Bundesliga, não são aspetos normais num clube como o Bayern. No entanto, e por 90 minutos, tudo voltou a ser esquecido. E os bávaros não tiveram dúvidas em fechar as contas do título no primeiro match point, derrotando o B. Dortmund numa Allianz Arena mais uma vez cheia que viu o encontro ficar quase sentenciado na primeira parte com golos de Gnabry (15′) e Lewandowski (34′). Emre Çan, de grande penalidade, ainda reduziu no início do segundo tempo (52′) mas Musiala, a sete minutos do final, selou o resultado final e a festa do Bayern no dia em que o polaco confirmou a antiga equipa como habitual “presa”: 27 golos em 26 jogos, sendo que 16 foram conseguidos apenas nos oito encontros que realizou frente ao B. Dortmund na Allianz Arena…

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