As associações militares concordam com o diagnóstico feito pelo Presidente da República no 25 de Abril sobre as Forças Armadas, mas lamentam que as palavras continuem sem passar aos atos e o investimento no setor permaneça insuficiente.

A agência Lusa questionou a Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA), a Associação de Sargentos e a Associação de Praças sobre o discurso do 25 de Abril do Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, no qual pediu “mais meios imprescindíveis” para as Forças Armadas e “um consenso nacional continuado e efetivo” para fortalecer este “pilar crucial”.

O presidente da AOFA, coronel António Mota, começou por sublinhar a satisfação pelo foco que foi dado “num dia tão especial” às Forças Armadas, deixando claro que as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa não surpreendem a associação porque são uma “evidência para todos os portugueses” e não trazem “nada de novo”.

“As Forças Armadas estão numa situação extremamente frágil, muitíssimo complicada, designadamente ao nível dos efetivos e das condições que os militares têm para exercer as suas missões”, enfatizou.

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Para o presidente da AOFA, aquilo que é “menos positivo é que das palavras nunca se passem aos atos”.

“O senhor Presidente da República, como Comandante Supremo das Forças Armadas, vai dizendo estas coisas reiteradamente, mas aparentemente não tem qualquer capacidade de influência perante o Governo porque a degradação das Forças Armadas é visível e tem vindo a ser acelerada nos últimos anos e nós não vemos rigorosamente nenhuma medida a ser efetivamente aplicada”, criticou.

Segundo o coronel António Mota, os oficiais estão “fartos de palavras há muito tempo”, dando como o exemplo do Orçamento do Estado para 2022.

Já o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), o sargento Lima Coelho, referiu que “em tese” todos devem estar de acordo com o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, ressalvando que “ficou por esclarecer exatamente qual será o foco desse investimento nas Forças Armadas”.

“Percebo o alerta do senhor Presidente da República, mas também nos causa alguma estranheza que aquela sensibilidade que quis apelar aos responsáveis políticos para olharem para as Forças Armadas, ele próprio não a tem manifestado porque ao longo destes quase sete anos de mandato, ainda não encontrou um espaço na agenda para receber as associações socioprofissionais para com elas partilhar das preocupações que temos”, criticou.

Concordando que foram “palavras muito bonitas”, Lima Coelho lamentou que estas acabem “por ser repetitivas porque são discursos feitos em circunstâncias muito próprias que depois não são materializados em atos”.

“Estamos cientes de que é uma abordagem importante, sem dúvida, mas gostaríamos era de ver os atos e as palavras serem mais coincidentes e com mais frequência”, apelou.

Também o presidente Associação de Praças, cabo mor Paulo Amaral, corroborou as “todas as palavras” do Presidente da República, revendo-se nos alertas que foram deixados porque “é necessário, é imperioso um investimento nas Forças Armadas”.

“Sendo o Presidente da República o Comandante Supremo das Forças Armadas e tendo feito ele um discurso tão assertivo, esperamos nós que o Governo cumpra com este desidrato do senhor Presidente da República porque senão mais uma vez temos que dizer que as palavras não se reveem depois nos atos. Acabam por ser palavras vãs, que ficam bem num discurso, mas que depois, passando aos atos, depois não verificamos absolutamente nada”, lamentou.