O Presidente russo, Vladimir Putin, revelou esta segunda-feira que os serviços de inteligência russos desmantelaram um alegado plano do Ocidente para assassinar o jornalista e propagandista pró-Kremlin Vladimir Solovyev. Contudo, tudo não terá passado de um esquema de propaganda montado por Moscovo para incriminar a Ucrânia e o Ocidente.

Esta manhã, o Serviço Federal de Segurança parou as atividades de um grupo terrorista que planeava atacar e matar um famoso jornalista de televisão russo”, disse o Presidente russo. “Eles passaram ao terror — a preparação do assassinato dos nossos jornalistas.”

Apesar de Putin não ter avançado o nome do jornalista em questão, de acordo com a agência Interfax, citada pela Reuters, o alvo seria Vladimir Solovyev, apresentador de televisão que, na semana passada, no programa que tem em nome próprio no Russia-1, disse que, depois da Ucrânia, o objetivo do Kremlin seria a guerra “contra a Europa e o resto do mundo”.

Ainda segundo a Interfax, terá sido detido um grupo de nacionalistas que, sob as ordens de espiões ucranianos, estaria a conspirar para matar o jornalista. Entretanto, o SBU, o Serviço de Segurança do Estado da Ucrânia, já veio negar, via Telegram, a acusação: “A SBU não tem planos para assassinar V. Solovyev”.

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Os serviços secretos da Rússia, FSB, apressaram-se a divulgar várias imagens que, alegadamente, mostram as autoridades russas a desmantelar o plano. Num vídeo divulgado pelo FSB, é possível ver agentes russos a arrombar uma porta, a entrar na casa alegadamente ocupada pelos conspiradores e a detê-los com violência.

Todavia, é justamente a partir desse vídeo que é possível extrair pistas que colocam em causa a credibilidade da história.

No apartamento, teriam sido encontrados vários itens que comprovam que os conspiradores eram neonazis ucranianos apostados em minar o regime de Moscovo. Como? T-shirts com a cruz suástica, um retrato de Hitler e uma arma automática. Também é possível ver passaportes ucranianos no vídeo. O jornal britânico The Telegraph descreve a situação como “um conjunto de objetos relacionados com o nazismo digno de um museu”.

O mesmo jornal aponta dois outros detalhes encontrados no vídeo que fazem levantar a forte possibilidade de tudo ter sido, na verdade, montado pelos próprios russos para que se parecesse com uma conspiração ucraniana.

Entre os objetos encontrados no apartamento dos conspiradores estão três cópias do videojogo “The Sims” — algo que parece ter sido resultado de um agente ter interpretado mal uma indicação para lá colocar três cartões de telecomunicações SIM, algo que seria mais incriminatório naquele contexto.

Outro detalhe prende-se com uma dedicatória que surge num livro de literatura de extrema-direita. Ali, lê-se: “Para Timokha, obrigado pelo teu apoio! Mata para viver! Vive para matar!” E, no final: “Assinatura impercetível.” Algo que o The Telegraph descreve como uma “instrução aparentemente levada demasiado à letra”.