O Festival Dias da Dança (DDD) “ganhou maturidade”, na edição deste ano, e assumiu uma “missão mais clara e um olhar mais longo” em que o contemporâneo não é “uma disciplina”, mas “o que se está a fazer hoje”.

Em declarações à agência Lusa, o diretor artístico do DDD e do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, assumiu satisfação e surpresa com a procura do público pelos espetáculos, depois de a edição de 2020 ter sido cancelada e de a de 2021 ter sido feita maioritariamente via ‘online’.

O DDD começou no dia 19 e decorre até 01 de maio, incluindo 44 espetáculos, entre estreias mundiais e nacionais, com artistas consagrados e novos talentos de diferentes nacionalidades, apresentando-se em 10 palcos e vários espaços públicos no Porto, Matosinhos e Gaia.

“Tivemos uma edição cancelada em 2020 por causa da covid-19, outra quase toda ‘online’ em 2021, tivemos tempo de maturação para imaginar o que seria um DDD depois da reabertura dos teatros, ou seja, a edição de 2022”, apontou Tiago Guedes.

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Segundo o responsável, o DDD 2022 “abre-se bastante mais, com a dança contemporânea, não como uma área específica da dança, uma disciplina, mas com o contemporâneo no sentido do que se está a fazer hoje, das várias danças que são contemporâneas umas das outras”.

Desta forma, explicou, “há aqui, em termos de programação e dos conceitos do festival, um reencontro do próprio festival, que assume uma missão mais clara e com um olhar mais longo”.

Para Tiago Guedes, o DDD regressa este ano diferente, assumindo que há um “DDD antes covid” e outro “depois covid”: “O DDD cresceu na sua maturidade, mas para crescer na sua maturidade ele teve que diminuir na sua quantidade. Tem agora muito mais camadas, muito mais camada, com um ‘DDD Out Corpo + Cidade’ muito mais desenvolvido, por exemplo, ou com o projeto ‘DDD Guest'”.

Sobre este último, o diretor artístico do Teatro Municipal do Porto salientou o “objetivo de acompanhar jovens artistas que estão a começar o seu trabalho e que se pretende que se apresentem, ou não, na próxima edição” do festival.

“Um acompanhamento mais a longo prazo e de proximidade com estes artistas, dar-lhes a possibilidade de se encontrarem connosco de outra maneira, assistirem a todos os espetáculos, contactarem produtores, programadores, outros artistas, ficarem a saber sobre difusão e venda de espetáculos, dar ferramentas que os artistas precisam para desenvolverem os seus trabalhos”, resumiu.

Este é um projeto que Tiago Gudes considera ser “virtuoso” e que espera ter continuação: “Queremos continuar. Começarmos este ano com quatro artistas, para o ano estes quatro artistas podem apresentar os seus espetáculos, estar no DDD já como parte da programação, e outros quatro começam o caminho deles”, disse.

Quanto à recetividade por parte do público, Tiago Guedes confessou-se surpreendido.

“Nota-se uma avidez de espetáculos. Nota-se de facto. Isso é muito interessante para nós, não tínhamos de facto essa consciência de que o DDD era assim de facto tão aguardado”, salientou.

“Tínhamos consciência que era um evento importante no panorama cultural nacional e internacional, mas sentimos que, depois de dois anos sem DDD, os espetáculos esgotaram muito mais cedo, mesmo havendo mais lugares disponíveis pela duplicação de espetáculos, que antes não fazíamos”, explicou.

Tiago Guedes levantou ainda o pano sobre o que se pode esperar do DDD em 2023.

“Estamos a estudar muito o que são as práticas sociais de dança, o que faz as pessoas dançarem. Todos nós dançamos. A dança está em todo o lado e a mim interessa-me muito como é que as práticas físicas e culturais estão em todos nós, mesmo sem nós sabermos”, disse.

“Se calhar para o ano vamos ver um espetáculo onde a pesquisa que se apresenta é, por exemplo, dança de pares, tango, salsa”, adiantou.