Era a meia-final mais improvável. Não olhando para os resultados anteriores, era a meia-final mais desequilibrada. Relativizando a profundidade de cada plantel, era a meia-final com menos história. No entanto, o Liverpool-Villarreal foi-se transformando na meia-final que todos foram seguindo. A meia-final com toque de imprevisibilidade. A meia-final com o destino ainda desconhecido traçado. Anfield seria o palco de uma segunda ronda da cimeira entre clubes ingleses e espanhóis pela coroa da maior prova europeia de clubes logo no dia seguinte ao melhor encontro da presente edição da Liga dos Campeões que deixou tudo em aberto para Madrid entre a realeza histórica e história que a nova realeza ainda procura. E até aquilo que Salah fosse capaz de fazer podia pesar naquilo que será uma corrida aberta à Bola de Ouro.

“Analisámos o Villarreal ao detalhe, claro. Já tinha muito respeito pelo Unai Emery e pelo Villarreal mas agora que os pude ver como deve ser… Uau! É um treinador obcecado pelos detalhes e com diferentes formas de abordagem ao jogo. Contra a Juventus e contra o Bayern tiveram alguma vantagem porque os subvalorizaram mas nós não o faremos. Precisamos do ambiente fenomenal e de uma grande exibição. Haverá momentos em que teremos de saber sofrer mas vamos fazê-los sofrer também”, comentara Jürgen Klopp no lançamento da partida, dando o mote para o que era necessário fazer para evitar surpresas no melhor momento de uma época onde pode juntar Premier, Taça de Inglaterra e Champions à Taça da Liga.

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“Estou a viver este momento com naturalidade, a exigência que se impõe e a possibilidade de crescer como treinador. Estamos aqui porque merecemos. A partir daí, queremos competir e tentar vencer um grande favorito. Vejo um Liverpool numa versão atualizada e melhorada, com a identidade criada por Klopp. Já não se coloca o fator surpresa agora, quem está na meia-final da Champions é porque merece. O Liverpool sabe que temos uma grande presença europeia, que eliminámos duas grandes equipas e que não vai ser fácil. Vão sentir-se favoritos, é normal, mas com respeito”, dissera Unai Emery, senhor Liga Europa que tentava agora assumir-se de forma ainda mais vincada como senhor Champions numa equipa que não tinha qualquer derrota depois da vitória caseira com o Bayern e que vinha de dois triunfos consecutivos.

O submarino virou autocarro mas foi o porta-aviões a meter água (a crónica do Bayern-Villarreal)

Voltou a falar-se de Yellow Submarine mas com o Liverpool vestidos de Beatles a interpretarem o tema como mais queriam. Vontade não faltava a um Villarreal cheio de sonhos e com 3.000 adeptos em Anfield, mais do que aqueles que tinham marcado presença na final da Liga Europa na última época (ou seja, um recorde do clube). No entanto, e sem que isso retirasse mérito à campanha fantástica até aqui, o submarino amarelo bateu num icebergue chamado realidade. E se os ingleses não podem achar que fecharam por completo a eliminatória, o caminho para voltarem a uma final europeia ficou bem mais próximo, tendo em conta até o histórico da presente temporada em que o Liverpool só sofreu três derrotas em 55 jogos.

O Liverpool começou com o habitual ímpeto ofensivo a empurrar os espanhóis para o seu meio-campo com uma boa reação à perda mas só de bola parada conseguiu criar perigo, primeiro num desvio de Konaté que Sadio Mané não empurrou para a baliza e depois num cabeceamento de Salah ao primeiro poste por cima. O Villarreal só muito raramente conseguia posses mais prolongadas ou esticar o jogo até ao último terço contrário mas os ingleses demoravam a engatar na frente apesar de mais um cabeceamento de Mané por cima (12′) e um remate após diagonal da esquerda para o meio de Luis Díaz que Rulli defendeu (14′). Os reds estavam por cima em todos os aspetos do encontro mas os visitantes lidavam bem com isso.

A estratégia de Unai Emery deveria ter preparada outra capacidade de saída para causar também mossa na equipa contrária e obrigar a que a linha defensiva não se aventurasse tanto mas o resumo do encontro até ao intervalo foi feito na baliza de Rulli. Que apanhou um susto num cruzamento/remate de Henderson que bateu na parte de fora do poste (22′), que viu Salah rematar duas vezes muito por cima (26′ e 35′), que defendeu mais um remate forte de Luis Díaz da ala para dentro (31′), que teve uma dose de fortuna à mistura numa tentativa de Mané que bateu em Albiol e rasou o poste (33′) e num remate de Thiago ao poste (42′). O Liverpool estava a fazer tudo o que devia e conseguia fazer mas o nulo arrastava-se de uma forma teimosa para o descanso com mérito também para Albiol, Pau Torres e restante companhia.

No segundo tempo, foi ainda melhor. E foi melhor porque o Liverpool conseguiu descobrir os espaços entre linhas que tinham escasseado na primeira parte, porque conseguiu outra dinâmica ofensiva com Salah e Mané a pisarem terrenos diferentes para tirarem referências, porque conseguiu encontrar a “estrelinha” que tem sempre a sua influência. Em menos de três minutos, chegou o 2-0 e já depois de um golo anulado a Fabinho por fora de jogo de Van Dijk na assistência: Estupiñan desviou de forma involuntária um centro de Henderson após grande jogada ofensiva e fez a bola passar por cima de Rulli (53′), Salah conseguiu receber e virar antes de assistir Mané pelo meio (55′). O submarino ia começando a afundar.

Os ingleses ainda teriam mais um golo anulado, desta vez a Andy Robertson após um fantástico passe do flanco oposto do também lateral Alexander-Arnold (64′), e um remate traiçoeiro de Van Dijk que obrigou Rulli a uma defesa de recurso para a frente (68′). Foi esse lance do central neerlandês que acelerou as mexidas de Unai Emery numa equipa que estava tão atrás que permitia ao número 4 chutar a meio do terreno dos espanhóis. Nem assim melhorou, conseguindo um canto e pouco mais numa partida em que Alisson fez uma única defesa, fácil, aos 87′. E ainda foi Luis Díaz a deixar mais uma ameaça, ganhando espaço na esquerda agora com a finta para fora mas a rematar ao lado da baliza de Rulli (80′).