A Chiara

Chiara tem 16 anos e vive com a família numa vila da Calábria. Na noite a seguir ao 18º aniversário da irmã mais velha, o carro da família é incendiado e o seu pai desaparece pouco antes da polícia entrar em casa. Ninguém lhe quer dizer o que se passa e onde está o pai, e Chiara começa a tentar saber sozinha. Como estamos na Calábria a Máfia deve estar ligada ao caso, e o pai de Chiara pode muito bem pertencer a esta organização. Jonas Carpignano, o realizador de “A Chiara”, não rodou, no entanto, mas um filme de mafiosos convencional. Deixando de lado a violência e os “clichés” dos enredos deste género, concentrou-se sobre Chiara (interpretada com sugestiva concentração por Swamy Rotolo) e a sua determinação em desafiar o silêncio da família e dos amigos e saber a verdade sobre o pai, e fez um filme que, de narrativa de um teimoso e solitário inquérito pessoal, se transforma na história da emancipação da sua jovem protagonista.

Passarinhos e Passarões

Rodada em 1966 por Pier Paolo Pasolini, esta fita assinala o encontro do realizador de “Mamma Roma” e de “Rei Édipo” com o genial Totò, no papel de um sujeito humilde e ingénuo chamado Totò Innocenti que, acompanhado pelo filho Ninetto (Ninetto Davoli), tão humilde e ingénuo como ele, se vê propulsionado no tempo para a época de São Francisco de Assis, na companhia de um irritante corvo falante e marxista. “Passarinhos e Passarões” é uma sátira alegórica com elementos neo-realistas e da comédia do tempo do mudo, que acena aqui na direcção de Fellini e ali na de Rossellini, mas nunca deixa de ser desconcertante e jubilatoriamente pasoliniano. Pasolini deixa Totò ser Totò à sua vontade e o actor tem um dos mais formidáveis desempenhos da sua carreira, entre o patético e o burlesco, o realista e o surreal.

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Notre-Dame em Chamas

Em vez da simples montagem que lhe foi proposta de um filme composto só por imagens do incêndio que atingiu a Catedral de Notre-Dame a 15 de Abril de 2019, o realizador francês Jean-Jacques Annaud preferiu levar a cabo uma reconstituição o mais bem informada e fiel possível dos acontecimentos, mas que fosse também espectacular e emocionante, e que tivesse os bombeiros como herói colectivo. Para isso, recorreu a imagens de arquivo, que juntou a sequências rodadas em Notre-Dame e noutras catedrais francesas, e também em estúdio, aqui com a ajuda de uma maqueta em grande escala do templo, a que pegaram fogo. “Notre-Dame em Chamas” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.