O empate sem golos frente ao Famalicão que elevou para 15 o número de pontos perdidos no Estádio da Luz e a vitória do Sporting no Bessa praticamente fecharam a questão do segundo lugar, com a formação leonina a necessitar apenas de mais um empate para carimbar a entrada direta na Champions. Ou seja, e questões de orgulho e objetivos internos à parte (e na próxima semana há clássico com o FC Porto), as três últimas jornadas pouco ou nada contariam para as contas encarnadas. E a semana acabou por ser reflexo disso mesmo, com poucas alusões ao encontro no Funchal entre muitas alusões a tudo o resto.

Benfica volta aos triunfos na Madeira frente ao Marítimo com golo de Darwin Núñez aos 72 segundos

Alguns exemplos: a vitória do Benfica na Youth League, com uma goleada frente ao RB Salzburgo que teve Henrique Araújo como principal figura; a receção à equipa na Câmara Municipal de Lisboa, com Rui Costa a vincar a importância da formação no projeto desportivo dos encarnados; a confirmação à CMVM de um princípio de acordo com Roger Schmidt (que entretanto já assinou contrato por duas épocas mais uma de opção); a entrevista de Luís Filipe Vieira à CMTV com várias “farpas” ao atual líder e a promessa de que não vai ficar por ali; a troca de palavras mais azedas entre um adepto e Rui Costa já na Madeira. Do jogo e das ambições para as três rondas, pouco ou nada. E nem na conferência isso mudou muito.

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“É óbvio que já tenho o balanço praticamente fechado. Não é ainda o momento para o fazer. Temos três jogos com objetivos. Quem está de fora pode pensar que não temos objetivos mas queremos fazer três vitórias nesses três jogos. Este grupo deu-me sempre as garantias de que podemos lutar sempre pela vitória e cabe-me em última análise fazer as escolhas. Só 11 podem jogar, uns jogaram mais, outros menos, mas independentemente disso, e olhando para os últimos jogos, todos os jogadores que entrarem de início vão fazê-lo por mérito próprio e pelo que têm vindo a mostrar. Não se trata de oportunidades, são opções que o treinador tem de fazer”, referiu Nelson Veríssimo, abrindo a porta a possíveis mexidas no onze antes de abordar também a questão do seu futuro nos encarnados numa semana em que Schmidt assinou.

“O futuro do plantel já não será comigo. Já andamos aqui há alguns anos, sabemos que há fases sensíveis mas não sinto intranquilidade pelos nomes que podem vir a ser falados. Acho que os jogadores estão habituados a lidar com estas circunstâncias, há alturas da época em que isso acontece e temos de encarar isso com naturalidade. Sobre o novo treinador, o que percebi é que houve um comunicado a dizer que existem negociações. Ele preferiu não comentar a situação, não vou ser eu a fazê-lo. A minha intenção é dar continuidade à minha carreira de treinador principal fora do Benfica, um clube ao qual muito devo, e será desejo meu ser fora do país. É uma ideia, um sonho, gostava de experimentar”, assumiu o técnico.

Haverá tempo para despedidas mas, enquanto faz os últimos encontros pela equipa encarnada, Nelson Veríssimo continua a fazer o seu caminho. E foi esse caminho que fez com lançasse o quarto jovem da equipa B no conjunto principal, Sandro Cruz, depois de Paulo Bernardo, Tiago Araújo e Henrique Araújo. Com Grimaldo em risco de falhar o clássico, deixou o espanhol em Lisboa e recusou mais uma adaptação, fosse de Gilberto, de Lázaro ou de Gil Dias. Arriscou o jovem lateral numa fase complicada para o jogador, que enfrentou uma depressão reconhecida pelo próprio após ter sido alvo de insultos racistas no jogo da equipa B com o Rio Ave em Vila do Conde. Com isso, ganhou mais uma opção: começou nervoso, permitiu que Winck tivesse duas subidas com perigo, acabou o primeiro tempo a liderar as ações com bola, as ações defensivas, as recuperações e os desarmes e voltou a sorrir após duas semanas complicadas.

O encontro começou praticamente com o golo dos encarnados, sem que qualquer das equipas tivesse feito algo por isso: Gil Dias aproveitou um passe mal medido e uma hesitação dos insulares à saída do primeiro terço, ganhou a bola em boa posição, arriscou o remate em arco para o poste contrário e a defesa de Paulo Victor foi para a frente, apanhando Darwin Núñez no enfiamento para desviar de cabeça para a baliza deserta. Apenas 70 segundos depois do apito inicial, o Benfica passava para a frente com condições para assentar o seu jogo mas o Marítimo não acusou o golo, teve boas incursões pela direta, um remate de cabeça de Tagueu fácil para Vlachodimos e um remate de Beltrame que passou perto do poste (6′).

Os encarnados tinham pouca ligação ofensiva, jogavam de forma lenta e perdiam muitas vezes a hipótese de causar mossa em transições quando o conjunto da casa estava demasiado balanceados na frente. Assim, e como acontecera em vários jogos esta temporada, viviam dos rasgos individuais. E foi dessa forma que a melhor oportunidade da primeira parte surgiu, com Darwin Núñez a receber de Everton descaído no lado esquerdo, a fazer a diagonal e a rematar em jeito a rasar o poste (25′). Antes, e a nível de remates, só o Marítimo tinha existido ainda que sem grande perigo entre uma tentativa de André Vidigal para defesa fácil e segura de Vlachodimos e um pormenor artístico de Cláudio Winck à entrada da área por cima.

Após um lance mais duro que deixou Sandro Cruz no relvado, Nelson Veríssimo aproveitou para chamar Paulo Bernardo ao banco e dar algumas indicações mostrando o bloco onde foi tirando notas ao longo da primeira parte mas nem por isso o rendimento dos encarnados melhorou muito e foi o Marítimo que voltou a criar perigo, desta vez com nova incursão de Winck pela direita a assistir atrasado para Joel Tagueu que viu o remate prensado em André Almeida, que surgiu de forma oportuna a cortar (38′). No entanto, e em cima do intervalo, os dados do jogo iriam mudar e de forma radical, com Cláudio Winck a ser expulso com vermelho direto por uma entrada mais dura sobre Sandro Cruz e a deixar os insulares com dez.

Num recomeço sem alterações nas duas equipas, o Benfica conseguiu entrar melhor, empurrou o Marítimo para o seu meio-campo e teve duas aproximações com perigo sem finalização antes de um remate muito ao lado de Paulo Bernardo após combinação com Darwin Núñez. No entanto, e numa estratégia destemida que deixa a equipa bem mais exposta sem bola, os insulares foram dando largura aos seu jogo ofensivo com as subidas dos laterais tendo dois cruzamentos com perigo da direita que acabaram nas mãos de Vlachodimos (cabeceamento sem perigo de Joel Tagueu) e na linha de fundo (Joel Tagueu chegou tarde para o desvio). Esses lances seriam quase uma última tentativa antes do render de armas perante a quebra física e só mesmo perante os erros posicionais dos encarnados surgiam lances de perigo para os visitados.

Estava prestes a começar a dança das substituições não sem antes João Mário ficar muito perto do 2-0, num remate de primeira na área após cruzamento largo de Darwin (60′). O mesmo João Mário ainda veria Paulo Victor encaixar uma tentativa de meia distância mas o encontro caía ainda mais de qualidade, com o Marítimo sem capacidade de chegada ao último terço (Cléssio teve a única ameaça com algum perigo aos 83′) e o Benfica sem criar grandes ocasiões de golo a não ser um remate do inevitável Darwin para defesa de Paulo Victor. Assim, o ponto alto até ao final seria mesmo a saída de Sandro Cruz, que acabou a ouvir o seu nome cantado das bancadas pelos adeptos encarnados, e a estreia de Tiago Gouveia na equipa A.