A luta política na Guiné-Bissau tem prejudicado os jornalistas, que têm medo de fazer o seu trabalho para evitarem retaliações ou serem despedidos, disse esta terça-feira a presidente do Sindicato de Jornalistas e dos Técnicos da Comunicação Social guineense.

“Hoje, na Guiné-Bissau, jornalistas ou profissionais da comunicação social sentem medo de fazer um trabalho jornalístico dentro dos padrões recomendados por medo de serem retaliados, despedidos ou retirados de algum grupo de jornalistas que podem beneficiar de algo”, afirmou Indira Baldé.

A presidente do sindicato falava na cerimónia para assinalar o Dia da Liberdade de Imprensa, que decorreu numa unidade hoteleira em Bissau.

“Os profissionais da comunicação social que tentam fazer o trabalho dentro das regras são vistos como inimigos do poder”, disse Indira Baldé, salientando que chegam a ser rotulados como “este não é nosso” ou “é contra nós”.

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Sublinhando que a luta política “tem prejudicado fortemente a classe jornalística”, a presidente do Sindicato de Jornalistas destacou que houve um aumento do “jornalista militante”, que tem tirado credibilidade à profissão.

Sejamos profissionais comprometidos com o país e não com indivíduos ou grupos, com a lei da imprensa, código de ética e deontologia profissional e o estatuto de jornalista”, apelou Indirá Baldé aos profissionais da comunicação social.

No seu discurso, a presidente do Sindicato de Jornalistas guineense pediu também ao Governo para criar condições para o livre exercício da profissão no país e aos deputados guineenses que legislem a favor da proteção e segurança dos jornalistas.

“Que a agressão aos profissionais da comunicação social seja considerada crime e punida por lei”, afirmou, pedindo igualmente à sociedade guineense que acompanhe os jornalistas na luta pela liberdade de imprensa e expressão.

Segundo a 20.º edição do ranking mundial da liberdade de imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, a Guiné-Bissau subiu do 95.º para o 92.º e continua a registar um ambiente difícil para o jornalismo, com uma “marcada deterioração da segurança para jornalistas, a par de pressões políticas e económicas”.

“Os jornalistas têm de lidar com uma instabilidade política crónica, como se viu novamente com a tentativa de golpe de fevereiro de 2022. A pressão é constante”, escrevem os analistas da RSF.

No relatório alertasse ainda que os jornalistas e os media são regularmente alvo de ataques físicos, como os ataques armados à rádio Capital FM e à casa de um dos seus jornalistas em fevereiro deste ano.