Quase três milhões de pessoas em Moçambique tinham em 2021 uma situação alimentar de crise ou emergência, o número mais elevado desde a seca de 2016, conclui um relatório publicado esta quarta-feira.

De acordo com o relatório, publicado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e a União Europeia, no ano passado, 193 milhões de pessoas em 53 países estavam em situação de insegurança alimentar aguda, ou seja, precisavam de assistência urgente para sobreviver.

A classificação engloba os níveis entre 3 e 5 da escala internacional de segurança alimentar: crise, emergência e desastre.

Em Moçambique, segundo o estudo, 2,91 milhões de pessoas estavam no nível 3 ou acima: 2,65 milhões em situação de crise e 260 mil em situação de emergência.

Isto representa 16% da população analisada pela organização, que estudou 33 áreas em 11 províncias e 12 cidades, abrangendo 60% da população total de Moçambique, de 30,1 milhões.

Segundo as conclusões, 15 áreas no leste de Cabo Delgado, no sul de Tete, e na maioria dos distritos de Gaza e Inhambane, assim como no distrito de Dondo, em Sofala, e no de Magude, em Maputo, estavam em situação de crise.

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Todas as outras áreas analisadas estavam no nível 2 da escala internacional de segurança alimentar, na qual se encontravam 8,41 milhões de pessoas.

Quase 75 mil crianças com menos de 5 anos tinham baixa estatura em 2021, dos quais 27 mil de forma severa, e metade das crianças da província de Cabo Delgado tinha baixo peso, concluem os investigadores.

Os autores do documento sublinham que o número de pessoas em situação de crise ou emergência em Moçambique em 2021 foi superior ao de 2020 em 240 mil pessoas e foi o maior número registado desde que o país foi fortemente afetado pela seca de 2016, ligada ao fenómeno climático do El-Niño.

A crise alimentar foi agravada pelo conflito e consequente movimento populacional no norte de Moçambique, que provocou uma perturbação da produção agrícola e do fornecimento de alimentos e fez subir os preços, enquanto períodos secos, secas, chuvas intensas e inundações afetaram a produção agrícola em todo o país.

As restrições relacionadas com a pandemia de Covid-19 continuaram também a afetar as atividades económicas, pode ler-se no relatório.

Sublinhando que as pessoas obrigadas a abandonar as suas casas estão entre as mais vulneráveis à insegurança alimentar e à malnutrição, os autores do relatório contabilizam em 950 mil os deslocados internos — devido ao conflito e insegurança no norte do país e devido aos danos provocados pelos ciclones dos últimos anos no centro — e em 25 mil os refugiados e requerentes de asilo em Moçambique.

Nas suas projeções para 2022, os autores do relatório antecipam que a situação da insegurança alimentar melhore na maioria do país, exceto na região de Cabo Delgado, onde se estima que esteja 50% da população de Moçambique em crise alimentar ou pior.

O relatório estima que 1,86 milhões de pessoas no país estivessem em situação de crise alimentar ou pior até março de 2022, nomeadamente em Cabo Delgado, Manica, Tete e Gaza.