Dezenas de advogados, arguidos, jornalistas e a própria Procuradora da República estavam já reunidos na sala de audiências, preparados para um dia inteiro de alegações finais do Ministério Público — e para a primeira sessão de mais de 50 em que o uso de máscara já não é obrigatório – quando se soube que o julgamento relativo aos incêndios de Pedrógão Grande não ia avançar. Pouco antes das 10h00 desta quarta-feira, a presidente do coletivo entrou na sala acompanhada apenas de uma juíza: faltava um terceiro elemento, o juiz adjunto António Centeno. A razão? O magistrado tinha testado positivo à Covid-19 na tarde do dia anterior. Por isso, o tribunal decidiu adiar as alegações finais para a próxima semana, mas sem data definida.

Dão-se sem efeito as sessões designadas para hoje e amanhã, 5 de maio. Por enquanto, mantém-se a sessão marcada para o próximo dia 9 de maio para salvaguardar a possibilidade de o teste PCR ter resultado negativo”, disse a juíza Maria Clara Santos na sala de audiência.

O juiz António Centeno aguarda agora o resultado de um segundo teste, o PCR, encontrando-se já com sintomas, nomeadamente febre. A juíza apontou duas datas possíveis para retomar o julgamento: 9 de maio, caso não se confirme o positivo; 11 de maio, se o magistrado estiver mesmo infetado. Neste último cenário, o juiz terá de ficar em isolamento até dia 10 de maio e, por isso, só retoma ao trabalho no dia seguinte.

Julgamento de Pedrógão Grande. Alegações adiadas após teste positivo à Covid-19 de juiz adjunto

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São 11 as pessoas que estão a ser julgadas e que enfrentam uma possível condenação: dois responsáveis da EDP acusados de não terem acautelado a criação das faixas de limpeza junto a uma linha de média tensão — que teve uma descarga elétrica de causa não apurada que desencadeou o incêndio; cinco autarcas, três da Câmara de Pedrógão Grande, entre eles o próprio presidente, Valdemar Alves, que está acusado de sete crimes de homicídio por negligência e quatro de ofensa à integridade física, dois deles graves. Da lista constam ainda autarcas de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, a quem são apontadas falhas na limpeza dos terrenos junto a estradas.

Três responsáveis da concessionária Ascendi Pinhal Interior estão acusados também de falta de manutenção das estradas. Outro nome da lista é o do comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, António Arnaut, que terá omitido informações que poderiam ter levado ao corte da Estrada Nacional 236 onde morreram 47 pessoas.

Terão falhado na limpeza de terrenos e impedido o corte da EN 236-1. De quem é a culpa da tragédia de Pedrógão Grande?

O julgamento chegou às alegações depois de 52 sessões em que se ouviram dezenas de testemunhas. Embora sem data definida, a Procuradora da República Ana Mexia, que está em exclusividade neste processo, terá o dia todo para apresentar as suas conclusões e, no final, apelar ao tribunal que condene ou não os arguidos e a que penas. Já na sessão seguinte estão previstas as alegações dos advogados dos assistentes do processo e, depois, alegam as defesas dos arguidos.

O julgamento, que entra assim numa fase final, já decorre há quase um ano: a sessão de arranque foi no dia 24 de maio de 2021 — altura em que já tinham passado quase cinco anos desde os incêndios. A leitura do acórdão só é marcada depois das alegações — e caso nenhum arguido queira prestar mais declarações ou os próprios juízes queiram ouvir alguma testemunha ou perito para esclarecer qualquer dúvida.

Sete arguidos em silêncio e 50 pessoas numa sala. Um início atribulado do julgamento do “tsunami” de Pedrógão Grande