Uma conversa entre amigos a ver um jogo de futebol, um jantar na zona de Ipanema, um texto apresentado como “reportagem” de Renato Maurício Prado no UOL Esporte que promete continuar a ser falado durante vários dias sobretudo por uma das confissões feitas por Jorge Jesus: quer voltar ao Flamengo. E tudo aquilo que disse nesse encontro entre pessoas conhecidas desencadeou uma série de reações, a mais abrupta de todas por parte de Hugo Cajuda, agente de Paulo Sousa e Abel Ferreira que falou em “falta de vergonha”. E o tema não ficou por aí, ao serem conhecidos excertos de uma entrevista do técnico à SportTV Brasil.

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“Quero voltar, sim. Mas não depende só de mim. Posso esperar pelo menos até dia 20. Depois disso, tenho que decidir a minha vida”, terá admitido Jesus nesse encontro onde explicou também o porquê da saída do Flamengo e o que correu mal na possibilidade ventilada inicialmente de voltar ao clube do Rio de Janeiro. “A pandemia afetou-me demasiado. Foi algo absolutamente inesperado e devastador. Fiquei completamente só. Um funcionário deixava a comida na porta do meu apartamento e saía a correr. Era muito difícil. Por isso, quando surgiu o convite do presidente do Benfica, um velho amigo, aquela me pareceu a melhor opção. Inclusive para voltar a viver perto da minha família”, terá referido também nessa conversa.

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“No Brasil, só me interessa treinar o Flamengo. Já basta o que sofri, em Portugal, por trocar o Benfica pelo Sporting. Treinar a seleção do Brasil seria um sonho. É o tipo do convite irrecusável. Essa equipa [o Flamengo] ainda mexe comigo.  Incomoda-me vê-los em dificuldades. Tenho a certeza de que se eu tivesse continuado teríamos conseguido uma longa hegemonia. Estávamos bem à frente dos restantes. As melhores equipas que treinei? O Flamengo de 2019 e o Benfica do meu primeiro ano, campeão português em 2009/2010. Esse também era um timaço. Tinha Luisão, David Luiz, Fábio Coentrão, Ramires, Pablo Aimar, Saviola, Di Maria… Dava prazer. Mas o grupo que mais gostou de mim foi o do Flamengo.”, destacou, considerando mas uma vez o número 10 argentino, Aimar, como o melhor jogador que já treinou.

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“Aquele era um momento difícil para sair pois se eu pedisse a demissão do Benfica teria que pagar uma multa de dez milhões de euros. Por isso, tinha sugerido que só viajassem para Portugal no final de janeiro, quando a situação seria mais fácil para negociar. Mas quiseram ir em dezembro e a sensação que tenho é que, quando me visitaram, já tinham tomado a decisão de contratar o Paulo Sousa. Foram apenas cumprir uma obrigação social para comigo. Foram ver um jogo do Benfica no camarote do FC Porto, deram várias entrevistas, criaram uma balbúrdia desnecessária. Se me quisessem mesmo, teriam ido em janeiro, como sugeri, e poderíamos ter acertado”, revelou também na mesma conversa descrita por Renato Maurício Prado.

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“Houve muita pressão política no clube. Quando o presidente, que me levou de volta [para o Benfica], foi deposto, eu sabia que mais cedo ou mais tarde iriam tirar-me [da equipa] também. Houve um jogo, da Liga dos Campeões, que vencemos o Dínamo Kiev por 2-0 e fomos vaiados no Estádio da Luz! Isso aconteceu garantindo a classificação num grupo em que o Barcelona foi eliminado! Já não havia mais ambiente. Depois ainda houve a indisciplina do Pizzi [capitão de equipa], que disse um monte de disparates a um dos meus adjuntos, num jogo em que eu estava suspenso, e aí tudo desandou. Mas quando saí, o Benfica estava a três pontos dos líderes e apurado para os oitavos-de-final da Champions. Hoje, está a 15 pontos [n.d.r. são 14] da liderança. O problema era só eu?”, recordou também a entrevista que irá ainda passar a íntegra na SportTV do Brasil, dizendo que Rui Costa tentou demovê-lo da vontade de abandonar o clube da Luz.

“O Vítor Pereira é o melhor [treinador português no Brasil], basta ver os resultados dele em Portugal. Esse sabe fazer uma equipa jogar ofensivamente e marcar pressão. Talvez tenha problemas, com o plantel [envelhecido] que tem. Mas é muito bom treinador. No início, apesar dos títulos, não gostava muito da maneira do Abel jogar, quase sempre reativo e mais preocupado em não sofrer golos do que em marcá-los. Mas ele tem evoluído. O Palmeiras hoje é uma equipa muito mais criativa e passou a ser ofensiva. Joga o melhor futebol do Brasil”, confidenciou ainda nesse convívio, segundo Renato Maurício Prado.

“Perguntaram-me se eu voltaria para o Flamengo. Apenas disse que preciso resolver a minha vida até ao dia 20. Isso apareceu na comunicação social. Não posso estar a justificar-me mas foi isso que eu disse. A partilha desta conversa informal entre umas dez pessoas pode até atrapalhar uma eventual negociação com o Fenerbahçe”, terá referido mais tarde Jesus a amigos próximos segundo o Globoesporte.

“Sem surpresa assistimos a mais um momento deplorável, de alguém que só estando perturbado e desesperado pode revelar tamanha falta de ética, falta de respeito e falta de profissionalismo. Apesar do seu largo histórico, a referida pessoa consegue subir muitos patamares em mais um episódio vergonhoso. Esta é a continuidade do “eu” sempre a sobrepor-se ao “nós”, do uso da pandemia, um tema tão grave, para justificar desastres, como o que aconteceu no Benfica, ou como justificação para abandonar o Flamengo poucos dias após renovar e num momento delicado para o clube. As justificações e as desculpas deviam era ser dadas aos adeptos benfiquistas, por terem visto ser gastos 150 milhões de euros para conquistarem zero títulos”, comentou Hugo Cajuda, num comunicado com o título “A (falta de) vergonha sai à rua”.

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“A referida pessoa revela uma total ausência de sentimentos para com a instituição Flamengo, ao contrário do que apregoa, porque a tentativa de desestabilizar um clube ‘amigo’ desta forma é inaceitável. É um ataque nunca antes visto a colegas de profissão e compatriotas, mas mais do que isso é um ataque à classe dos treinadores profissionais de futebol, um ataque à ética e à dignidade. Agradecemos os muitos contactos de treinadores e outros profissionais do mundo do futebol, em especial dos que trabalham no Brasil e que nos têm procurado para manifestar o seu total repúdio para com esta situação com a qual não se reveem. Deveria ser uma obrigação pessoas com esta notoriedade terem comportamentos exemplares passando mensagens positivas ao mundo, ao invés daquilo a que estamos a assistir”, acrescentou.