O Banco BPI lucrou 49 milhões no primeiro trimestre, com 28 milhões do quais relativos à operação em Portugal. O resultado consolidado cai 18% em relação ao período homólogo, em parte devido a um ganho extraordinário que ocorreu no primeiro trimestre de 2021. Sobre a subida das taxas de juro, o banco diz que os indexantes podem subir até 1% e 1,5% num horizonte mais alargado, possivelmente 0,5% até ao final deste ano – o banco diz estar prudente, tanto que não reverteu as provisões colocadas de lado no início da pandemia, mas não mostra grande preocupação em relação à capacidade dos clientes em aguentar subidas nas prestações de crédito.

“Nós já vivemos em 2008 as taxas de juro estavam a 5,5%”, lembrou João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI, em conferência de imprensa. “Agora esse custo anda pelos 0,83%”, afirmou, lembrando que no final da década de 2000 “aumentou um pouco o malparado mas não de forma significativa”.

Nesta fase, “não acreditamos numa subida muito significativa” das taxas de juro: a previsão oscila entre 1% e 1,5%, num horizonte para 2023/2024. Até ao final do ano os indexantes podem rondar os 0,5%, prevê o BPI.

Porém, “aquilo que temos analisado na capacidade dos nossos clientes de fazer face a estas subidas é que ela é muito confortável“, garante o banco. “As taxas de esforço que calculámos e a folga que existe no valor das casas” é algo que tranquiliza o banco. Ainda assim, “cá estaremos para encontrar todas as soluções para as situações mais difíceis”.

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Ainda assim, com a subida das taxas de juro, “a gestão do orçamento familiar vai ser mais exigente, sobretudo para as pessoas com rendimentos mais baixos”, mas o presidente do BPI diz que pode haver fatores mitigadores, como o aumento da tendência do teletrabalho, que pode ajudar as pessoas a poupar em despesas como comer fora ao almoço.

“Acreditamos que a inflação em 2023 será mais baixa do que 2022 mas é apenas uma visão, não é mais do que isso. Esta prudência nas imparidades também está relacionada com isso”, afirmou João Pedro Oliveira e Costa, acrescentando que a “inflação não se resolve por decreto nem com subsídios“.

Quanto aos resultados, a comparação com o resultado homólogo é influenciada pelo facto de se ter incluído no 1º trimestre de 2021 ganhos extraordinários de 23 milhões com a venda de créditos não produtivos. A impulsionar o resultado do BPI estiveram fatores como as comissões, cuja cobrança subiu 12%, para 71 milhões.

No campo das comissões, cresceu 17% a cobrança de comissões por conta e serviços associados, bem como mais 25% para fundos e seguros de capitalização. Como um todo, o produto bancário comercial cresceu 4% na comparação homóloga, para 189 milhões de euros.

A carteira de crédito do banco aumentou 9%, para 28.247 milhões, o que tem implícita uma conquista de meio ponto percentual da quota do BPI no mercado de crédito em Portugal, para 11,2%. Em particular no crédito à habitação, a quota de mercado do BPI é superior: 17%.

O banco sublinhou, na conferência de imprensa de apresentação de resultados, que pagou mais 12,3% em custos regulamentares, o que inclui 21,2 milhões na contribuição sobre o setor bancário e 3,9 milhões relativos ao “adicional de solidariedade sobre o setor bancário“, uma contribuição que o presidente do banco defendeu que “não faz qualquer sentido“, por não ser aplicada a mais nenhum setor.

Apesar de defender que “não faz qualquer sentido”, João Pedro Oliveira e Costa disse, claramente, que não antecipa que este “adicional” caia no próximo Orçamento do Estado (para 2023). “Não há recetividade nesse tema”, afirmou, referindo-se ao plano político.

A atividade do Banco no primeiro trimestre foi muito positiva, com crescimento dos proveitos, com ganhos de quota de mercado em praticamente todos os segmentos comerciais, ao mesmo tempo que manteve os custos contidos, apesar do forte investimento na transformação digital. O Banco apresenta robustez em todos os indicadores fundamentais: adequada capitalização, baixo perfil de risco e liquidez confortável, o que permite continuar a aumentar o crédito às empresas e famílias e apoiar decididamente a retoma da economia portuguesa”, afirma o presidente do banco, João Pedro Oliveira e Costa.

O banco manteve uma “imparidade não alocada” de 72 milhões de euros que já vem do tempo do início da pandemia mas que o banco não alterou. “Podíamos ter anulado essa imparidade agora, e apresentar uns resultados fantásticos”, mas o banco preferiu manter a prudência não só relativamente ao possível impacto da guerra na Ucrânia mas, ainda, os riscos da pandemia que, por exemplo na China, continua a causar incerteza na economia global, afirmou o presidente do BPI.

Temos de manter prudência” e pelo menos um terço desses 72 milhões está a ser alocado a possíveis riscos relacionados com a guerra e com os riscos de inflação. O BPI diz não ter exposição direta às geografias onde decorre a guerra mas o presidente do BPI destaca que algumas empresas que são clientes do banco têm operações em países como a Rússia, Ucrânia e outros daquela região.

Nós estamos a acompanhar a inflação, há bastante incerteza mas há uma parte da inflação que, infelizmente, terá vindo para ficar”, acrescentou.

A 29 de abril, na apresentação dos resultados da casa-mãe do BPI, o espanhol CaixaBank já tinha elogiado a “dinâmica muito positiva” do BPI, com uma “contribuição muito positiva para os resultados do grupo”.

Sobre possível envolvimento em possíveis fusões e aquisições no mercado português, o líder do CaixaBank, Gonzalo Gortázar, garantiu que o grupo espanhol está “absolutamente concentrado” no crescimento orgânico e não prevê qualquer tipo de aquisições no mercado português nem em nenhum outro.