O comentador da SIC Luís Marques Mendes quer saber porque é que o Governo, em particular António Costa, não informou as autarquias e a Alto Comissariado para as Migrações sobre as conclusões dos serviços de informações em relação a Igor Khashin, o russo responsável pela recolha de dados a refugiados ucranianos em Setúbal. Para o ex-líder social-democrata, a forma como o Governo geriu o processo revela “um abuso da maioria absoluta”.

Na sexta-feira, o Expresso noticiou que o Serviço de Informações e Segurança (SIS) já andava a monitorizar Igor Khashin antes de a polémica estalar. Marques Mendes diz que, nestas situações, os serviços costumam produzir relatórios que entregam depois a responsáveis políticos, neste caso o primeiro-ministro. O ex-líder social-democrata questiona, por isso: “O primeiro-ministro não deu nenhuma informação às autarquias que tinham responsabilidade na matéria? E ao Alto Comissariado para as Migrações? Falta esclarecer esta questão“.

Marques Mendes considera que deve ser António Costa a “tomar a iniciativa” de esclarecer esta dúvida. Caso contrário, deve ser a Assembleia da República a exigir um esclarecimento ao primeiro-ministro. Mas acrescenta que a falta de envio do relatório às câmaras municipais “não desculpabiliza o presidente da Câmara de Setúbal [André Martins, da CDU], que sabia das ligações” de Igor Khashin à Rússia.

Além disso, o comentador da SIC diz-se perplexo por o PS, fazendo uso da maioria parlamentar, ter “impedido” audições ao presidente da Câmara de Setúbal e à embaixadora da Ucrânia, que denunciou irregularidades no acolhimento a refugiados ucranianos.

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“Tudo isto é muito estranho. Ou o PS impediu, o que significa que tem alguma coisa a escolher, ou quer agradar ao PCP, fazer um favor, porque este tema é incómodo ao PCP”, atirou, considerando que se trata de um “mau exercício de maioria absoluta“. “Todos os partidos queriam esclarecer [a polémica] e o PS usa a sua maioria absoluta para impedir. Isto não é usar, é abusar da maioria absoluta“, critica.

PS recusa chamar presidente da Câmara de Setúbal e Embaixadora da Ucrânia à Assembleia

Sobre a proposta do candidato à liderança do PSD Luís Montenegro, que defendeu a realização de um inquérito parlamentar sobre o caso, Marques Mendes diz não saber se tal é possível, mas reitera: “É preciso esclarecer” as circunstâncias do acolhimento de refugiados em Setúbal.

Questionado sobre a posição do PCP, que alega estar a ser atacado, Marques Mendes atira que o partido está a ser “um bocadinho patético“. “Ninguém em Portugal está a defender que o PCP seja ilegalizado. Essa questão não existe. O PCP tem uma posição inacreditável sobre a Ucrânia, mas tem direito a tê-la. É o exercício da democracia”, acredita, da mesma forma que defende que o PCP “tem de se habituar que quem acha mal critica”.

“Foi um erro” PSD “demorar tanto tempo” a ir para eleições

Marques Mendes deixou ainda uma crítica ao processo eleitoral dentro do PSD, defendendo que a realização de eleições demorou demasiado tempo, numa altura em que o país precisa de uma “boa oposição”. “Foi um erro demorar tanto tempo a resolver situação. A democracia precisa de um bom governo, mas também de uma boa oposição”, afirmou.

Estas eleições, reconhece, não serão “muito mobilizadoras” para os portugueses, que estão mais focados na guerra, na inflação e na perda de rendimentos, e porque “os candidatos têm falado mais para dentro do que para fora”. E sugere ao partido que olhe mais para questões como a falta de professores e de médicos em vez de se focar na revisão constitucional.

O antigo presidente do PSD nota ainda que os apoiantes de Rui Rio, o líder cessante, estão divididos: Francisco Pinto Balsemão e Manuela Ferreira Leite apoiam Jorge Moreira da Silva; Alberto João Jardim e José Manuel Bolieiro apoiam Luís Montenegro.