A Caixa Geral de Depósitos (CGD) aumentou os lucros do primeiro trimestre em 80,5%, para 146 milhões de euros, informou o banco público em conferência de imprensa em Lisboa e em comunicado enviado ao regulador do mercado. Os dados mostram que a Caixa conseguiu aumentar em 6,2% o novo crédito às empresas (num trimestre em que esse mercado, como um todo, caiu) e concedeu mais 20% em crédito à habitação.

“No contexto desafiante do primeiro trimestre de 2022, marcado pelo início de um conflito militar em território europeu, aumento de pressões inflacionistas e subidas de taxas de juros, a Caixa encerrou os primeiros três meses de 2022 com um resultado líquido consolidado de 145,6 milhões de euros“, indica o banco em comunicado. O resultado compara com os 80,7 milhões de lucro que tinham sido obtidos no primeiro trimestre de 2021 e representa um aumento do return on equity (o retorno do acionista) de 4,2% para 7,2%.

Um dos indicadores mais importantes para os bancos, a margem financeira, disparou 14,1%, sendo este, em termos simples, um valor que reflete a diferença entre aquilo que o banco paga para se financiar (depósitos, BCE, etc) e os juros dos créditos que concede. A margem financeira foi “impulsionada pelo desempenho das unidades em Moçambique e Angola, mas também pela atividade doméstica (+5,1%), com evidentes ganhos de produtividade comercial evidenciados pelo crescimento do crédito nos segmentos de empresas e particulares e, neste último, nas vertentes habitação e consumo”, afirma o banco.

Também na rubrica das comissões o banco tem uma evolução positiva: foram cobrados mais 20% em comissões na operação doméstica (para um total de 116 milhões de euros), apoiadas na venda de produtos de investimento, segundo o banco. Em termos consolidados, a rubrica dos serviços e comissões aumentou 16% para 147 milhões.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na apresentação feita por Paulo Macedo, o presidente da comissão executiva do banco indicou que os “impactos diretos da guerra na Ucrânia sem materialidade direta atendendo à exposição residual do banco e das empresas portuguesas”. O crédito à habitação (nova produção) ascendeu a 871 milhões de euros, mais 20%, ao passo que o crédito ao consumo cresceu 65%, para 75 milhões, um aumento de 65% que a administradora financeira Maria João Carioca garantiu estar a ser um aumento “responsável”.

Prestações a subir? Estamos “prudentes, cautelosos mas confiantes”

Questionado na conferência de imprensa sobre os riscos associados à subida da inflação e das taxas de juro, Paulo Macedo diz que “obviamente estamos preocupados com esta situação anormal e com o impacto que existe nas empresas, sobretudo, nesta fase, e que poderá vir a haver nas famílias”.

“Temos, no entanto, fatores significativos que permitem mitigar este aspetos e estar bastante mais otimistas do que na última crise financeira”, referiu o presidente da comissão executiva do banco público. “Temos uma situação de desemprego totalmente diferente, temos escassez de mão-de-obra, quer qualificada quer menos qualificada. Estamos perto do pleno emprego”, atirou.

Além disso, temos um “buffer significativo nas Euribor”, ou seja, uma margem de conforto. “Na última crise financeira tínhamos Euribor a 400 pontos, agora as Euribor são negativas para já”.

Juros vão subir e “haverá impacto nas prestações”, mas banqueiros dizem-se serenos

“Por outro lado, as famílias têm um poupança acumulada bastante mais significativa”, embora se saiba que não são todas as famílias, reconheceu o banqueiro. Ainda, “a banca acolheu a diminuição dos prazos máximos de empréstimos, da menor taxa de esforço e já não há, há bastante tempo, financiamentos a 100%”. E “os preços das casas não caiu a pique como na crise anterior”, acrescentou Paulo Macedo.

Poderá haver mais incumprimento, não escamoteamos que haverá famílias com acréscimo de prestações mas não antecipamos incumprimentos generalizados. Há uma monitorização muito próxima daquilo que está a acontecer, há razões para, tendo Portugal crescimento económicos significativos previstos para este ano, há razões para estarmos prudentes, cautelosos mas confiantes”, afirmou Paulo Macedo.

CGD vai deferir “número significativo” dos 400 pedidos de pré-reforma

Paulo Macedo indicou, ainda, que há três meses havia 300 pedidos para pré-reformas e reformas antecipadas e esse número subiu para cerca de 400.

Garantindo que “a Caixa não faz despedimentos, como outros bancos fizeram”, disse o presidente da Caixa: “Iremos deferir um numero significativo desses pedidos mas despedimentos coletivos não iremos fazer”.

Paulo Macedo confirmou, também, que o Governo já está a ocupar “um bocadinho de uma ala” no edifício da Caixa, cerca de três mil metros quadrados. A estimativa nesta fase é que o Governo irá ocupar 30 mil metros quadrados no edifício, porque foi esse o espaço que a Caixa libertou, num calendário a definir.

Questionado diretamente, pelo Observador, sobre se exclui que a Caixa possa ser um potencial comprador para o Novo Banco, Paulo Macedo não excluiu diretamente essa hipótese: “A Caixa entende que para cumprir o seu papel tem de ser um agente relevante”.

“Estamos atentos ao que acontece. Não faz parte do nosso plano estratégico comprar o novo banco, faz parte continuamos a ter a liderança do mercado”, atirou.