Casos de racismo, episódios brutais de violência entre claques e até uma garrafa atirada da bancada contra Payet enquanto o avançado se preparava para cobrar um pontapé de canto. Nos últimos tempos, França tem sido o epicentro das cenas menos bonitas a que o futebol europeu tem assistido. Esta terça-feira, porém, tudo foi longe demais. 

O contexto até era algo insuspeito: o Nice recebia o St-Étienne, num jogo a contar para a Ligue 1 e entre duas equipas que nem sequer estão propriamente a lutar pelos mesmos objetivos, com a primeira perto de garantir o apuramento europeu e a segunda à beira da despromoção. O Nice goleou o St-Étienne, sem grandes surpresas. A surpresa, essa, ficou totalmente reservada para aquilo que a dada altura se ouviu a partir das bancadas do Allianz Riviera.

Lyon-Marselha foi adiado depois de Payet ter sido atingido com uma garrafa de água vinda das bancadas

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A dada altura, os adeptos do Nice começaram a entoar cânticos que injuriavam Emiliano Sala, o jogador argentino que morreu tragicamente num acidente de aviação em janeiro de 2019: entre frases arrepiantes como “ele é um argentino que não sabe nadar bem, Emiliano debaixo de água”. A justificação — se é que a palavra pode sequer ser utilizada neste contexto — prende-se aparentemente com o facto de o Nice ter perdido a Taça de França para o Nantes, clube que Sala representou até morrer, no passado fim de semana.

O Nice, naturalmente, apressou-se a condenar os cânticos. “O clube não reconhece os seus valores ou os da família vermelha e negra nesta provocação impensável e abjeta, feita por uma minoria de adeptos. O Nice envia o seu apoio à família e aos amigos de Emiliano Sala”, dizia o comunicado do clube do sul de França. Christophe Galtier, treinador do Nice que na época passada levou o Lille até à conquista da Ligue 1, mostrou-se incrédulo com aquilo a que tinha assistido.

“Não tenho palavras para descrever o que ouvi. Ouvimos muitas coisas num estádio de futebol… Mas aquilo? De onde é que vêm insultos a um jogador que já morreu? Se a nossa sociedade é esta, estamos metidos em trabalhos”, disse o técnico francês.

“Gritámos o nome do Emi à espera de que nos ouvisse. Acabou em dor.” O duro testemunho da mãe de Emiliano Sala, três anos depois