Era um plano arriscado e ideologicamente controverso. Durante a Guerra Civil Espanhola, em que a Segunda República tentava lutar contra as tropas nacionalistas, os diplomatas republicanos tiveram uma ideia para tentar travar o apoio alemão e italiano à causa de Francisco Franco.

Numa troca inusitada, a Segunda República comprometia-se a compartilhar a soberania das Ilhas Baleares, das Canárias e ainda dos território espanhóis no Norte de África com a Itália de Benito Mussolini, apesar das divergências ideológicas. Para tal, segundo o El Mundo, bastava que as forças italianas deixassem de enviar tropas para Espanha, não intervindo mais na Guerra Civil.

A reunião entre o dirigente da Segunda República e um representante de Mussolini ocorreu num café no Mónaco, a 7 de março de 1937. Os termos da proposta foram discutidos, mas Itália rejeitou dividir a soberania das ilhas com Espanha. Em vez disso, Roma pretendia enviar 200 mil italianos para Espanha, metade dos quais iam para as Baleares e o resto iria para o território continental. O representante do Duce também sugeriu a criação de uma ou duas bases aéreas nas Baleares e ainda um regime económico mais favorável para estas ilhas.

Este encontro foi investigado por Manuel Aguilera no livro “O Ouro de Mussolini”. Em declarações ao El Mundo, o escritor considera que se tratou de uma “medida desesperada”, após a Segunda República se ter dado conta de que “França e o Reino não iam combater ao seu lado” – isto ao mesmo tempo que “Itália e Alemanha tinham uma maior presença” em Espanha. “A República não tinha para onde ir e foi ter ao inimigo.”

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Mesmo tendo apresentando uma contra proposta, o represente de Mussolini não ficou convencido com a ideia, já que considerava que os republicanos não tinha qualquer hipótese de vencer a guerra contra Francisco Franco.

Esta operação foi ideia do embaixador espanhol em França, Luis Araquistáin, que a divulgou a outros dirigentes políticos. Tendo em conta a política externa italiana, que queria expandir a sua área de influência no Mar Mediterrâneo, bem como isolar França, o controlo das Baleares parecia ser uma peça fundamental para alcançar aqueles objetivos.

Mas este plano não contou apenas com Itália — houve igualmente negociações com a Alemanha, que, na altura, tinha como líder Adolf Hitler. “A República também tentou negociar com a Alemanha, mas, como sabia que a operação podia ser muito prejudicial para a sua imagem, não deixou nada escrito”, explica Manuel Aguilera.

De acordo com o que o escritor conseguiu apurar por algumas fontes secundárias, a Alemanha não estava interessada nas Baleares, já que considerava que essa era uma área de influência de Itália, uma das suas aliadas. Aquilo que os dirigentes alemães almejavam estava mais a sul e consistia na integração das Canárias no Reich alemão.

Os planos nunca foram oficialmente avante, mas Itália ocupou de forma limitada as Baleares durante a Guerra Civil espanhola — mas sempre ao lado das tropas de Franco. “Os legionários italianos em Espanha viam a Guerra Civil como uma aventura. Serviam com um nome falso e conseguiam subir rapidamente” na hierarquia militar, indica Manuel Aguilera, que salienta que “muitos italianos desenvolveram vínculos muito fortes com Espanha e, em particular, com Maiorca”.