Pela primeira vez desde que a polémica rebentou em Setúbal, o casal russo acusado de recolher dados de refugiados ucranianos e de manter ligações ao regime de Vladimir Putin quebrou o silêncio. Esta sexta-feira, Igor Khashin e Yulia Khashina vieram negar categoricamente que os dados recolhidos tenham servido para mais do que ajudar em processos de integração destes refugiados: “Garanto, com toda a seriedade, que não enviámos os dados para qualquer autoridade russa, embaixada incluída”, diz Igor Khashin.

Porque é que a Câmara de Setúbal não vai cair e mais 13 respostas sobre o caso dos refugiados

Numa entrevista concedida ao Público e ao jornal local O Setubalense, o casal defende-se das suspeitas que têm sido levantadas sobre o facto de Igor Khashin — que é monitorizado pelas secretas portuguesas há anos — ter estado a receber refugiados ucranianos na Câmara de Setúbal, por pertencer à associação EDINVSTO, de imigrantes de Leste, assim como Yulia, que é técnica da câmara (afastada das suas funções na sequência da polémica).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Desde logo, Igor Khashin garante não ser “espião” da Rússia e ter estado a receber os refugiados em Setúbal apenas por uma questão prática: o Estado não estava “preparado” para o fluxo de ucranianos a fugirem da guerra, argumenta, e o facto de perceber ucraniano e ter experiência na área da imigração ajudou.

Nesta entrevista, o casal assume que foram tiradas fotocópias e feitas digitalizações dos documentos destes refugiados, mas garante repetidamente que essas cópias não saíram da Câmara de Setúbal e que o único uso que lhes foi dado foi o envio para instituições como o SEF e o IEFP. Na mesma lógica, as perguntas que terão feito sobre os familiares que ficaram na Ucrânia — que não negam, assumindo que pode ter havido “conversas” sobre isso — seriam para os ajudar a fugir e não para os localizar, asseguram.

Mesmo tendo em conta que são conhecidas as ligações a várias entidades oficiais russas e que está a ser monitorizado pelas secretas, quando confrontado com a proximidade ao regime de Putin, Khashin desmente: “Na minha situação, é irresponsável apontar se estou dum lado ou do outro. Estou do lado humano. Sou pró-humano”. Quanto à guerra na Ucrânia, não aponta culpados, resumindo a situação assim: “É uma tragédia” que tem de ser resolvida pelos políticos.