O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, assumiu esta sexta-feira na abertura do 14.º congresso que o lema da reunião e dos próximos anos de luta é de que “é tempo de ser tempo dos professores”.

“Neste tempo em que a Educação terá de ser prioridade, é tempo de ser tempo dos professores. E isto afirmá-lo-emos neste congresso, será lema que levaremos no futuro deste congresso, com o crachá que passaremos a usar”, anunciou Mário Nogueira.

Na sessão de abertura do 14.º congresso da Fenprof que iniciou esta sexta-feira em Viseu, e termina este sábado, com o anúncio do dirigente da federação sindical para os próximos três anos, o secretário-geral destacou dois temas atuais de luta pelos profissionais da Educação.

“O primeiro é a falta de professores que, cada vez mais, se sente nas escolas. A falta de professores é um problema anunciado, desvalorizado e que resulta de anos de parco investimento na Educação e nos seus profissionais”, apontou.

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Mário Nogueira responsabilizou os governantes que, “enganando-se a si próprios e querendo enganar os outros, afirmam tratar-se de um problema que se resolverá de acordo com a regra da procura e da oferta”.

No seu entender, para dar “resposta ao problema gravíssimo” da falta de professores, “não há alternativa à indispensável valorização da profissão docente” e, para isso, defendeu “não é necessário rever globalmente a carreira”.

“Basta que a mesma seja cumprida sem sujeição vagas impostas por decisão política, sem quotas que pervertem a avaliação do desempenho e sem eliminação de tempo que foi cumprido pelos professores”, apontou.

O dirigente sindical também disse que “não é preciso criar um regime excecional de vinculação, basta que se apliquem as normas gerais vigentes, deixando de se exigir  aos professores que trabalhem 10 e 20 anos para se livrarem da precariedade”.

Ao longo de meia hora de discurso, Mário Nogueira destacou também a falta de investimento na Educação, lembrando que “Portugal está longe de cumprir com as recomendações internacionais que apontam para os 6% do PIB, há anos que esse valor fica aquém de 4%”.

“Investir na profissão docente é fundamental, valorizando-a e se tal não está a acontecer não foi, como puderam comprovar na viagem para Viseu, porque o dinheiro foi gasto nas obras do IP3. Aliás, muitos não o confirmaram, porque evitaram esse traçado, optando por uma volta maior e entrando pela A25”, disse dando também o “buraco negro do Novo Banco” como exemplo.

O segundo tema destacado pelo dirigente sindical tem a ver com o “futuro relacionamento institucional” e fez notar que o congresso coincide com o início de uma nova legislatura que tem como ministro, João Costa, um antigo escuteiro, tal como Mário Nogueira foi.

“Quando tomam posse os governantes comprometem-se, por sua honra, a cumprir as funções que lhes são confiadas, tal como os escuteiros, na sua promessa, e comprometem, por sua honra, a respeitar a lei por que se regem”, comparou.

Para de seguida afirmar que estão marcados para os dias “16 e 18, segunda e quarta-feira, reuniões sobre mobilidade por doença e sobre maior estabilidade nas escolas para os docentes contratados” e, até hoje, sexta-feira, a Fenprof ainda não recebeu propostas do Ministério da Educação.

“Mas temos as nossas e vamos ver o que têm para apresentar e como agirão, sendo esta uma prova de fogo sobre a qual os professores estarão de olhos postos”, desafiou Mário Nogueira perante uma plateia com mais de 650 delegados e 30 convidados internacionais de 17 países da Europa, África e América Latina.

Na sessão de abertura, que começou com uma hora de atraso, o presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, aproveitou para, além de palavras de boas vindas, chamar a atenção para a descriminação do interior.

“Ouvi-vos dizer que o atraso se deveu a autocarros que vinham de Lisboa. É sempre assim, Lisboa chega sempre atrasada ao interior, mas tem a ver com as dificuldades, nomeadamente, das infraestruturas viárias que teimam, de facto, em não contemplar o interior”, disse.

E acrescentou: “Não conseguiremos fazer um país harmonioso e solidário se continuarmos com esta assimetria gritante entre as regiões do país, é um discurso que não me canso de continuar, porque acho fundamental se queremos de facto evitar esta sangria gritante do interior para o litoral”.

O congresso deu início com um vídeo com imagens de vários países e das “várias guerras” existentes, entre elas a destruição e a saída dos cidadãos da Ucrânia e a fome e desnutrição no Iémen, com imagens de criança sempre presente e que Mário Nogueira destacou também.

“É preciso que os professores ensinem aos meninos  e meninas que o futuro no mundo pode ser outro, pode ser melhor e que a paz é fundamental para que venha mesmo a ser. No contexto de guerras que vivemos, a Educação para a Paz deverá estar presente no projeto educativo de todas as escolas e na planificação do trabalho de cada professor”, desafiou.