A comissária europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, defendeu, esta sexta-feira, a “urgência” de um “estreitamento de relações” entre União Europeia e EUA para enfrentar crises como a do sistema financeiro, a pandemia e a guerra na Ucrânia.

Há que convergir, há que criar alianças, até porque temos todos consciência de que a ordem mundial está alterada e as lógicas que estavam instaladas e que pareciam consolidadas, afinal, estão totalmente fragilizadas”, afirmou Elisa Ferreira durante um almoço organizado no Porto pela Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham).

Segundo salientou, “a guerra da Ucrânia veio alertar para a urgência da cooperação entre estas duas forças, que já antes cooperavam — já antes da crise do sistema financeiro internacional era óbvio que qualquer novo conjunto de regras que pudesse moderar os excessos da atividade financeira teria de ser criado e acordado dos dois lados do Atlântico — mas, neste momento em que há toda esta perturbação, mais do que nunca o estreitamento de relações é fundamental”.

“É fundamental estreitar a compatibilidade das regras, estreitar os laços de cooperação, estreitar, inclusivamente, as abordagens, nomeadamente no que diz respeito ao clima, à energia e ao nosso posicionamento estratégico no mundo”, sustentou, reiterando: “Tudo isto converge para que a Aliança Atlântica ganhe um outro significado e uma outra densidade que não tinha no passado“.

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Notando que “a nova administração [norte-americana] também veio permitir um estreitamento desta relação, com muito mais estabilidade e previsibilidade”, a comissária europeia referiu que “a União Europeia, como era previsto, não é um projeto acabado, mas vai evoluindo”.

“A frase típica é ‘a Europa vai-se construindo à medida que reponde às crises’. Tenho de confessar que, quando foi a crise financeira, muitos de nós questionávamos se esta lógica em que todos acreditávamos ia continuar a funcionar, porque demorou e houve ali momentos de grande perturbação, mas, felizmente, ela continuou a funcionar, funcionou para a crise Covid e está a funcionar, até agora, para a Ucrânia”, disse.

Alertando que “os desafios são cada vez maiores”, Elisa Ferreira defendeu que, “cada vez mais, a Europa tem de se reconstruir e de se aprofundar”, mas tem de o fazer “em parceria com aqueles que, no mundo, podem ajudar a que um bloco que, no fundo, é relativamente pequeno (embora seja grande em termos dos seus princípios, da sua presença comercial no mundo e da sua influência), possa consolidar uma presença internacional na globalização que, neste momento, é mais necessária do que nunca”.

Questionada por um dos empresários presentes no almoço sobre o risco de redirecionamento futuro para a Europa de leste dos fundos europeus de que têm vindo a beneficiar os países do sul da Europa, como Portugal, dada a necessidade de reconstrução da Ucrânia e do apoio aos países vizinhos mais afetados, Elisa Ferreira defendeu que o objetivo de Portugal não pode nem deve ser “ter sempre fundos”.

“O objetivo de Portugal não é ter sempre fundos. O objetivo de Portugal é não precisar de fundos, é ter uma dinâmica própria“, sustentou.

“Não podemos estar aqui a discutir milhões, mas o que se faz com os milhões, como é que se faz, que empresas, que universidades e que centros é que vão utilizar isso para darem saltos e para acrescentarem valor”, acrescentou.

De acordo com a comissária europeia, “nesse contexto há já universidades e consórcios universidade/empresa que estão a receber apoio já não pelo [PT]2030, que é contratualizado com a União Europeia, mas que estão a ir à primeira liga do campeonato, isto é, ao [programa] Horizon e a projetos europeus e redes europeias”.

“E essas têm de ser valorizadas pela sociedade portuguesa, essas estão na primeira liga do campeonato, e há aqui muitas empresas que são líderes e que têm de entrar na primeira liga”, rematou.