Mais do que os títulos, os troféus ou as vitórias, o maior mérito do trabalho de Rúben Amorim em Alvalade prende-se com a mudança profunda que o treinador proporcionou no clube: internamente e externamente, entre a forma como o Sporting olha para si mesmo a partir de dentro e a forma como os outros olham para o Sporting a partir de fora. Uma mudança profunda ao ponto de, atualmente, uma temporada em que os leões ficam em segundo, conquistam duas competições e chegam aos oitavos de final da Liga dos Campeões já não ser suficiente.

Vai um Pablo, fica um Pedro: e mantém-se o salero em Alvalade (a crónica do Sporting-Santa Clara)

Com a goleada imposta ao Santa Clara na última jornada da Primeira Liga, o Sporting igualou os 85 pontos da época passada e registou o maior resultado em Alvalade em todo o Campeonato. Pela primeira vez na história, os leões conquistaram 39 vitórias em todas as competições numa temporada, algo que corresponde a uma percentagem de 74% de triunfos em 53 partidas disputadas, e na Liga marcaram mais golos fora de casa (39) do que em Alvalade (34). A equipa de Rúben Amorim foi ainda a que menos golos sofreu em casa no Campeonato, oito, sendo que quatro deles ocorreram nas duas derrotas sofridas em Alvalade (Sp. Braga e Benfica).

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Na flash interview, o treinador leonino fez um balanço do jogo e da própria temporada. “Entrámos bem no início mas perdemos algumas bolas na construção, também tivemos alguma descompressão. Jogar pelo Sporting é sempre uma alegria mas é um jogo algo complicado. Depois tivemos ocasiões e não demos hipóteses. Tudo o fizemos, foi o que demonstrámos durante o ano. Fizemos uma época com bastantes pontos na Liga, passámos na Champions… Mas, sem título, sabe a pouco”, disse Amorim, comentando depois o facto de o Sporting ter conseguido acabar a temporada sem sofrer mais golos.

“Era o queríamos. Também é curioso ver a quantidade de golos marcados sem uma referência ofensiva. Vários jogadores podem jogar lá, temos opções para enganar o adversário. Sofremos mais golos do que merecíamos esta época. Deixámos os adversários chegar menos vezes mas sofremos mais”, acrescentou, deixando também algumas palavras para as estreias de José Marsà e André Paulo. “É por tudo o que fizeram durante o ano. O [João] Virgínia jogou mais este ano do que quanto estava no Everton, o Marsà também já vinha a merecer mas tinha jogadores à frente, o André Paulo tem tranquilidade e qualidade nos pés. Não lhes dou nada, eles é que conquistam. Merecem estes bocadinhos, obrigam os treinadores a metê-los”, explicou Rúben Amorim.

Mais à frente, o técnico comentou também a despedida de Sarabia — que recebeu com um abraço sentido quando o espanhol saiu para deixar entrar Rodrigo Ribeiro, já na segunda parte. “É difícil falar disso porque são mundos diferentes, ele também queria provar que é este jogador. O facto de nós, com o negócio do Nuno Mendes, podermos ir buscar um jogador que de outra forma não poderíamos… Juntou-se tudo. Custou-lhe no início a adaptar-se a algo mais familiar, sem grande luxo na Academia e almoços nos autocarros, mas ele vai melhor jogador daqui e vai ter dificuldades em lidar com menos exigência no treino. Ficou mais querido em Espanha e tudo acabou bem, sabendo que é difícil ele continuar”, atirou, abordando depois as eventuais saídas de Matheus Nunes ou João Palhinha.

“Não quero estar a dizer nada, as características deles são difíceis de encontrar. Também não queríamos perder o Nuno Mendes. O Vinagre não teve adaptação total mas tem talento para crescer. Quando o João Mário saiu, muitos não acreditavam no Matheus… Foi preciso o Guardiola dizer que ele era craque. Eles fazem coisas para as quais os adeptos não olham tanto, chega a todas as bolas, é muito forte no jogo aéreo. São difíceis de substituir mas não quero comprometer a Direção, será o que tem de ser”, afirmou, deixando ainda uma espécie de antevisão da próxima temporada. “Prometo o mesmo de sempre, lutar por todos os objetivos. Temos 23 Campeonatos, o Benfica tem 30 e tal, o FC Porto tem 30. Estão habituados a ganhar e nós temos de ser competitivos. Estou pronto a trabalhar, preciso de descanso. E o grupo também, acima de tudo. Posso pôr tudo em jogo para elevar o patamar, vamos ver se consigo”, terminou.

Já na conferência de imprensa, Rúben Amorim confirmou que vai permanecer em Alvalade. “Falar com o meu empresário? É um bocadinho indiferente. Não quero sair assim, não quero sair agora. Sei que corro o risco de ser despedido mas vou ficar no Sporting. Vou fazer pela vida”, disse.

O Comandante bateu continência pela última vez: Sarabia despediu-se do Sporting e Alvalade levantou-se para o aplaudir