Com 18 anos, Payton S. Gendron, oriundo de Conklin, terá percorrido mais de 300 quilómetros até Buffalo, outra cidade no Estado de Nova Iorque, para entrar num supermercado e disparar. Terá sido o autor do atentado que matou 10 pessoas e feriu outras três — 11 eram negras. O caso aconteceu no sábado e está a ser investigado como tratando-se de um crime racial.

“Um ato de ódio e que deve ser tratado como tal”, declarou Letitia James, procuradora-geral do Estado de Nova Iorque, alegando que o agressor “se alimentava todos os dias” de um discurso de ódio através das redes sociais.

Cerimónia de homenagem às vítimas do tiroteio de Buffalo torna-se grito contra o racismo

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Após ter sido detido, um manifesto publicado online foi associado ao jovem, com palavras racistas e visões anti-imigração que clama a que os brancos americanos estão em risco de ser substituídos por pessoas de cor, noticia o New York Times. Segundo este jornal, o manifesto foi publicado no forum 4chan, tendo aí sido escrito que utilizaria uma câmara GoPro Hero 7 Black para transmitir o ataque no Twitch, para que “todas as pessoas com internet possam ver e gravar”, alegando que o tiroteio numa sinagoga em Halle, na Alemanha, em 2019, também foi transmitido ao vivo nessa plataforma.

Conforme foi noticiado pelo Buffalo News, a plataforma de streaming Twitch, muito usada para conteúdos de gaming (de jogos) e detida pela Amazon, confirmou que o suspeito do tiroteio usou a plataforma para fazer uma transmissão em direto do ataque. O New York Times diz que o Twitch garantiu que tirou o canal, onde estava a ser transmitido o atentado, do ar dois minutos depois do início da violência.

Num comunicado, citado pelo mesmo jornal, um porta-voz do Twitch declarou que a plataforma “tem uma política de zero-tolerância contra a violência de qualquer espécie e trabalha rapidamente para responder a todos os incidentes”, acrescentando que o “utilizador foi indefinidamente suspenso do serviço e estamos a tomar todas as medidas apropriadas, incluindo monitorização de qualquer conta que tenha retransmitido o conteúdo”. O Twitch tem uma média de 2,5 milhões de visualizações por dia.

Numa outra publicação numa rede social terá feito o que se acredita ser uma lista de instruções para si próprio que incluía “continuar a escrever o manifesto” e “testar a função da transmissão em vídeo ao vivo”. Para esta mensagem terá usado a plataforma de mensagens Discord. O nome do utilizador do Discord coincide com o do canal do Twitch. O Discord, segundo o New York Times, fez uma série de passos, nos últimos anos, para reforçar a moderação de conteúdos, especialmente depois de vários supremacistas brancos terem utilizado o site para planear a manifestação “Unite the Right” em Charlottesville, em 2017. Agora a plataforma garante estar a investigar as publicações, que foram feitas num servidor privado, e que estará a trabalhar com as autoridades, mas não quis fazer mais comentários.

A CNN acrescenta ainda que no manifesto o alegado autor terá escrito que comprou armamento há algum tempo mas não tinha planeado realmente usá-lo até janeiro deste ano. O manifesto, de cerca de 180 páginas, está ainda a ser analisado, para confirmar a autenticidade. O autor desse manifesto identifica-se pelo nome de Gendron, dizendo ter crescido em Broome, com os pais e dois irmãos. Diz ter concluído o liceu e estudar engenharia na Suny Broome. Diz ainda que não tem antecedentes militares e que nunca foi diagnosticado com alguma doença ou desordem mental.

Mas, segundo tem sido noticiado, Gendron terá ameaçado, em junho do ano passado, fazer um ataque ao liceu local (Broome), tendo sido, por isso, referenciado para avaliação mental, segundo noticiou o USA Today, que acrescenta que os pais do jovem estão a cooperar com as autoridades (o seu carro foi encontrado no estacionamento do supermercado de Buffalo e foi apreendido).

“Um diretor da escola reportou que este conturbado jovem fez declarações indicando que pretendia fazer um tiroteio, ou na cerimónia de graduação ou algum tempo depois”, declarou uma fonte do departamento da polícia ao Buffalo News.

Terminou os estudos secundários em 2021 no Susquehanna Valley Central School District, com os colegas a declararem ao News York Times que era um estudante de poucas falas, mas que demonstrava gosto por armas. Segundo uma informação do próprio, não confirmada, ter-se-á matriculado no programa de ciências da engenharia na Suny Broome Community College. A escola diz, no entanto, ao USA Today que não está atualmente inscrito, mas ao Buffalo News a escola confirmou ter um ex-aluno com esse nome. “Mas já não está matriculado”, declarou, por email, Silvia C. Briga.

Fará 19 anos no próximo mês, tem mínima presença online com o seu próprio nome.

Numa imagem da Sky News, quando foi presente ao tribunal, no qual se considerou inocente.

De acordo com as autoridades, segundo a CNN, o suspeito chegou ao supermercado The Tops Friendly Market, no coração de um bairro no leste de Buffalo, cuja população é maioritariamente negra, por volta das 2h30 (horas locais), fortemente armado, com equipamento tático e com um capacete com uma câmara incorporada que se acredita ter transmitido ao vivo as suas ações.

Usava roupa de estilo militar, um colete à prova de bala e uma espingarda — comprada legalmente no Estado de Nova Iorque — na qual foi vista a inscrição racial N-14 (“n”, inicial de uma palavra depreciativa para catalogar as pessoas negras, e 14, referência a um slogan de supremacia branca com 14 palavras). Alegadamente terá gritado insultos racionais durante o ataque.

Segundo os relatos nos jornais norte-americanos, o atacante disparou, primeiro, sobre quatro pessoas no estacionamento, tendo, de seguida, entrado na loja e disparado sobre os clientes. Um segurança tentou disparar contra o atacante, mas devido aos equipamentos de proteção, as balas não tiveram efeito, e o segurança, um reformado da polícia de Buffalo, acabou por ser morto. Quando a polícia chegou, o suspeito colocou, primeiro, a arma atrás do pescoço, mas depois deixou cair a espingarda e tirou algum do equipamento. Foi transportado pela polícia. Indiciado por homicídio em primeiro grau, Gendron declarou-se inocente da acusação, quando foi presente ao tribunal.

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