Um investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) concluiu que a igreja de Guadalupe, em Vila Real, foi construída “pelo menos” três séculos antes de 1529, ano indicado até agora para a sua edificação, foi nesta terça-feira anunciado.

A UTAD referiu, em comunicado, que a igreja de Nossa Senhora da Guadalupe, na aldeia de Ponte, freguesia de Mouçós, concelho de Vila Real, é considerada uma das igrejas românicas “mais bem conservadas da Europa”. Desde 1983 que está classificada como Imóvel de Interesse Público.

Esta igreja apresentava, até agora, o ano de 1529 como data da sua construção e foi alvo de um estudo desenvolvido por David Martín Freire-Lista, geólogo e investigador que se vem especializando sobre as marcas deixadas pelos pedreiros nos monumentos.

“Cada um dos seus blocos mostra a marca dos pedreiros medievais que a construíram, sendo possível observar até nove tipos diferentes de marcas, correspondentes a letras protogóticas usadas nos séculos XII e XIII“, afirmou o investigador, citado no comunicado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

David Freire-Lista explicou que, pela “análise das paredes da igreja, seja através das marcas dos pedreiros, seja pela iconografia dos ‘cachorros’ nas fachadas, podem obter-se informações sobre a construção, permitindo entender a evolução ao longo da história e outros aspetos de natureza etnográfica, como sejam os principais produtos cultivados na região durante a Alta Idade Média”.

Com efeito, acrescentou o especialista, “na fachada noroeste encontram-se predominantemente ‘cachorros’ representando cabeças de homens, além de cabeças de monstros, cordeiros, barricas de vinho e mulheres mostrando os genitais”.

Por outro lado, continuou, “na fachada sudoeste predominam as mulheres representando seus afazeres diários, distinguindo-se fiandeiras, feixes de linho com uma escova de metal para descascá-lo e também referências ao vinho (mulheres segurando cabaças), bem como referências à olaria e ainda cabeças de monstros, ovelhas e cães com sua presa”.

Segundo o responsável, o “erro da datação do monumento” pode ter sido gerado pela obra “Memórias Paroquiais de Vila Real”, de 1721, na qual era apontada a presença na fachada da capela-mor de uma pintura mural com a inscrição de 1529, bem como o brasão de armas de Dom Pedro de Castro, abade de Mouçós na mesma época, a quem passou a ser atribuída a construção do templo.

O investigador considerou que a Dom Pedro de Castro “pode ter cabido uma possível reconstrução da capela-mor, tendo aí sido colocado, na data indicada, o seu brasão”.

David Freire-Lista fez também parte de uma equipa de três investigadores (dois portugueses e um espanhol) que participou na “revelação da idade absoluta” do monumento de Santa Eulália de Bóveda, em Lugo (Espanha), edifício historicamente atribuído à idade romana e polémico do ponto de vista funcional e cronológico.

De acordo com o estudo, a origem do edifício é do século IV e os seus “famosos frescos” terão sido criados no século VII. Os resultados do estudo permitiram obter uma cronologia absoluta para toda a sequência construtiva do monumento.