Onze golos, 13 assistências, 33 jogos. Não são propriamente grandes números para um avançado, também não são propriamente números de deitar fora num avançado sobretudo quando atua num ataque móvel. No caso de Lionel Messi, são os piores números. A temporada ainda não terminou, com o PSG a ter ainda um último (e quase fatídico, perante a falta de um objetivo em concreto desde que segurou o título da Ligue 1) jogo no Parque dos Príncipes com o Estrasburgo, mas esta é de longe a pior campanha desde 2005/06, nos primeiros passos que ia dando no Barcelona até se tornar a máquina goleadora que ganhou por sete vezes a Bola de Ouro. De forma natural, abrem-se cenários. Que podem não dar nada mas estão abertos.

Existem várias possíveis razões para esta espécie de eclipse em comparação com o rendimento que teve ao longo de uma década e meia ao mais alto nível. A adaptação a uma nova equipa, cidade e realidade que não sabia o que era desde que se mudou da Argentina para a Catalunha com 11 anos. O entrosamento com novos companheiros numa nova forma de jogar que muitas vezes lhe retirava o raio de ação a que estava acostumado e com jogadores que não estão habituados a um conjunto de 1+10 como havia nos culé. As ausências por motivos físicos, que o afastaram de mais de dez jogos (entre problemas no joelho, gripes, tendão de Aquiles, desgaste muscular ou novo coronavírus). Facto: Messi, o agora número 30 e não 10 que ficou nas costas do antigo companheiro nos blaugrana Neymar, não conseguiu ser Messi.

À beira dos 35 anos (em junho), e com mais um ano de contrato com o conjunto francês, tudo aponta para que cumpra mais um ano em Paris. No entanto, há outros cenários possíveis e agora mais falados.

Cenário 1. Com Mbappé de saída, Neymar em dúvida e a aposta total em convencer Zinedine Zidane para assumir o cargo de treinador, o PSG encontra-se numa posição muito confortável em relação ao jogador até por ter esse vínculo válido até 2023. Mais: a chegada do argentino ao Parques dos Príncipes permitiu que o clube batesse o recorde a nível de patrocínios, num total de pelo menos 300 milhões de euros (mais 13% do que na época anterior), e que fossem vendidas mais de um milhão de camisolas (60% de Messi), só ficando a perder num universo global de 700 milhões de encaixe nos direitos televisivos em virtude da derrota precoce nos oitavos da Liga dos Campeões em Espanha frente ao Real Madrid na segunda mão. O clube quer que fique, o jogador não manifestou pelo menos publicamente vontade de sair, resta apenas saber o que vai ser do projeto desportivo dos parisienses e de esta nova era sem contar com Mbappé.

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Cenário 2. O Barcelona criou uma nova era com o regresso de Joan Laporta à presidência onde nada parece ser impossível, como se viu no mercado de inverno e nas contratações feitas por um clube que há um par de meses estava à beira da bancarrota. E para a próxima época não só já terá garantido a custo zero o central Christensen (Chelsea) e o médio Kessié (AC Milan) como está a tentar resgatar já Lewandowski do Bayern. Por isso, há um sonho-quase-impossível de poder contar com Lionel Messi ainda como jogador.

“Regressar ao Barcelona? Oxalá, um dia”, atirou o pai e empresário do jogador, Jorge, este fim de semana. “Desconheço mas suponho que se tiverem algo para nos dizer, dirão”, respondeu Mateu Alemany, diretor do futebol dos catalães. Segundo o jornal catalão El Nacional, Laporta sabe que Messi ainda não esqueceu a forma como saiu de Camp Nou e que a relação entre ambos também saiu abalada no meio da novela mas admite superar isso caso exista um passo do argentino nesse sentido, contando também com a presença de Xavi como treinador, alguém que sempre foi muito próximo do número 10. A publicação diz mesmo que poderá haver uma cláusula capaz de facilitar a saída mas sem que por isso tenha havido avanços nesse sentido. Uma coisa é certa: só o regresso de Messi poderia rivalizar com o impacto Mbappé no Real Madrid.

Cenário 3. Messi sempre admitiu a possibilidade de terminar a carreira nos EUA, onde tem casa há alguns anos (Miami) e onde pretende que os filhos possam estudar antes da universidade. Agora, a imprensa do país, através do canal DirectTV, dava conta de um negócio que estaria prestes a ser fechado entre o argentino e David Beckham para assumir 35% do Inter Miami, o que a confirmar-se poderia fazer com que acabasse de jogar na Major League Soccer após terminar o vínculo com o PSG. Ao Sport, fontes próximas do jogador negaram qualquer tipo de acordo mas não recusaram a possibilidade de rumar aos EUA.

Em paralelo com tudo isso, o jogador continua a ser muito criticado depois de ter assinado contrato (após várias recusas anteriores, como acontecera com Ronaldo) como embaixador para o turismo da Arábia Saudita. “Viajar até à Arábia Saudita é uma coisa, que paguem para glorificar isso é outra. Já executaram pelo menos 106 pessoas este ano. Criticar as autoridades é uma ameaça de vida. Os direitos das mulheres são quase inexistentes. Os homossexuais têm a pena de morte como destino. É isto que o Messi vai apoiar?”, apontou a Amnistia Internacional da Noruega. Isto na semana em que o argentino passou a liderar a lista da Forbes entre os desportistas, destronando Conor McGregor com um total de 124,5 milhões de euros brutos ganho no último ano com menos salário do PSG mas mais receitas de patrocínios.