A revista Science acusou esta terça-feira o Supremo Tribunal dos Estados Unidos de ignorar a ciência sobre o aborto na decisão que possivelmente irá retirar a proteção desse direito, de acordo com um editorial.

“Abominável”. Supremo dos EUA pondera revogar lei do aborto que tem 50 anos. O que está em causa?

O texto, assinado pela professora Diana Greene Foster, da Universidade da Califórnia, é baseado num estudo liderado pela mesma autora que investiga os efeitos na saúde física e mental de um grupo de cerca de mil mulheres de todo o país durante cinco anos depois de ter um aborto ou de ter sido negada essa possibilidade.

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Segundo as conclusões dos mais de 40 investigadores que participaram no estudo, as mulheres que podem interromper a gravidez têm maior probabilidade de ter um filho desejado mais tarde e são mais capazes de sustentar aqueles que já tinham antes de abortarem.

Aquelas que podem abortar também são seis vezes mais propensas a fazer planos para melhorar a sua situação no próximo caso.

Por outro lado, as mulheres a quem é negado o direito ao aborto têm três vezes mais hipóteses de estarem desempregadas e quatro vezes mais probabilidade de viver abaixo da linha de pobreza.

A investigação, explicou Greene, pretende fornecer aos congressistas e juízes dados científicos sobre os efeitos a longo prazo do aborto nas mulheres, já que a falta de estudos tem sido citada como argumento para não permitir a interrupção legal da gravidez.

A principal conclusão do estudo é que as pessoas sabem o que é melhor para si e para as suas famílias. Os resultados não são teorias ou conjeturas”, defendeu a autora.

Greene aconselhou os magistrados do Supremo norte-americano a não ignorarem os resultados sobre a questão do aborto.

“Compreender a natureza, as causas e as soluções dos problemas das pessoas é um dos principais objetivos e uma das maiores dádivas da ciência”, disse.

No início de maio, foi divulgado um documento de uma decisão do Supremo que, se for confirmada, retiraria a proteção legal ao aborto dos Estados Unidos, para que cada estado ficasse livre para o proibir no seu território.

Supremo Tribunal dos EUA pronto para anular direito ao aborto

A questão instalou-se no centro do debate político no país, com constantes manifestações contra o Suprema e críticas do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, à possível condenação.

No último sábado, milhares de pessoas em diferentes cidades do país, como Washington, Los Angeles e Nova Iorque, saíram às ruas para protestar contra o projeto e defender o direito ao aborto.

O Supremo confirmou a autenticidade do projeto, mas esclareceu que não é uma decisão final. A decisão final deve ser conhecida no final de junho.