José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), reuniu-se esta quarta-feira, em Roma, com os prefeitos das congregações para os Bispos e para a Doutrina da Fé, para debater a questão dos abusos sexuais no seio da Igreja.

Em comunicado, a CEP sublinha que “a partilha de experiências (…) foi enriquecedora e os vários intervenientes manifestaram o seu apreço pelos passos dados pela Conferência Episcopal Portuguesa e pela Comissão Independente, e com quantos com ela colaboram, e reafirmaram a importância de estudar os casos de abuso sexual, acompanhar as vítimas e atuar preventivamente”.

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A CEP decidiu criar, no final de 2021, a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, e que iniciou os trabalhos no início deste ano.

A reunião desta quarta-feira, em Roma, surge depois de, em Assembleia Plenária realizada em Fátima, em abril, o episcopado português ter reconhecido que o trabalho da comissão independente criada pela CEP e liderada por Pedro Strecht, é “muito positivo”.

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No comunicado final dos trabalhos da Assembleia Plenária, a questão dos abusos ficou plasmada, sendo reconhecida “a importância das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis e consequente constituição de uma Coordenação Nacional para implementar procedimentos, orientações e esclarecimentos que possibilitem um melhor e mais articulado trabalho de todos”.

“Às pessoas que passaram pela dramática situação do abuso no âmbito eclesial, os Bispos reafirmam um sentido pedido de perdão, em nome da Igreja Católica, e o empenho em ajudar a curar as feridas. Agradecem também a quem se aproximou para contar a sua dura história, superando compreensíveis resistências interiores”, lê-se no comunicado, que refere também a passagem pela Assembleia Plenária de todos os membros da Comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, reafirmando que o seu objetivo é “estudar este drama na vida da Igreja”, para chegar, “de forma inequívoca e eficaz, ao esclarecimento e à verdade dos factos através do estudo dos Arquivos Históricos existentes em cada Diocese, num trabalho de colaboração e confiança mútua com cada bispo diocesano”.

Até agora, a comissão recebeu já mais de 300 denúncias, tendo encaminhado para o Ministério Público 16, como foi divulgado no dia 10 de maio, numa conferência sobre o tema, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

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Na reunião desta quarta-feira, em Roma, participaram o presidente e o vice-presidente da CEP, José Ornelas e Virgílio Antunes, o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, e os arcebispos de Braga, José Cordeiro, e Évora, Francisco Senra Coelho, além do padre Manuel Barbosa, secretário da Conferência. Por parte da Cúria Romana, estiveram presentes o prefeito e o secretário da Congregação para os Bispos, Marc Ouellet e Ilson Montanari, e o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Luis Ladaria.

“O esforço por erradicar o abuso sexual de menores, não só da Igreja, mas também da sociedade, continuará a ser uma prioridade para a Conferência Episcopal Portuguesa”, adianta a CEP no comunicado em dá conta da reunião no Vaticano.