Durante os últimos 32 anos, a jovem batizada como “a rapariga de Portbou” — o rosto que se vê no tweet partilhado pela jornalista Anna Punsí — pertenceu à lista de cadáveres por identificar. A sua história valeu inúmeras reportagens e até o livro La novia ahorcada en el país del viento (A noiva enforcada no país do vento, em tradução livre), do inspetor da Polícia Nacional de Espanha, Rafa Jiménez. A 25 de abril, uma equipa de repórteres conseguiu (finalmente) descobrir o seu nome e apelido.
ÚLTIMA HORA: Identificada la “Noia de Portbou” després de 32 anys. @Crims_Oficial ha descobert que és Evi Anna Rauter i tenia 19 anys. La seva família italiana l’ha reconegut després de buscar-la durant tres dècades. Ara les peces encaixen aquí i allà. https://t.co/HXcu0PY8xW pic.twitter.com/DRVyYENwRh
— Anna Punsí (@punsix) May 17, 2022
A rapariga encontrada enforcada na pequena localidade espanhola de Portbou – o mesmo ponto na fronteira entre Girona e França onde o filósofo Walter Benjamin se suicidou – era Evi Anna Rauter e tinha 19 anos. Às oito da manhã do dia 4 de setembro de 1990, um morador descobriu o corpo pendurado próximo do cemitério.
O mérito é do trabalho do programa Crims, liderado por Carles Porta, da canal catalão TV3. O jornalista sabia — e assim constava no relatório da Guarda Civil espanhola — que, na fatídica noite, um grupo de seis jovens austríacos tinha acampado perto do local onde Evi apareceu enforcada.
Crims aconsegueix identificar la “Noia de Portbou” després de 32 anys. Es tracta d’una jove italiana de 19 anys que va aparèixer penjada en un pi de la població altempordanesa el 4 de setembre de 1990. La seva família n’ha confirmat la identitat. pic.twitter.com/9gxwhIZRgk
— Crims (@Crims_Oficial) May 17, 2022
Havia a hipótese da jovem ser austríaca. Mas o que mais interessava era identificar os jovens [que pernoitaram] na tenda para ver se por acaso falaram com ela ou se sabiam mais alguma coisa”, explica Porta ao La Vanguardia.
A equipa do Crims optou por pedir a colaboração de um programa de televisão austríaco, que exibiu o episódio La chica ahorcada, com entrevistas e fotografias do enigmático caso.
Por coincidência, uma mulher, que estava a passar férias em Viena, decidiu ligar a televisão e acompanhar o episódio. Ao ver a imagem do cadáver, reconhecera-o: era a menina que havia desaparecido há muitos anos em Lana (Itália), Evi Anna Router. Como informa o El País, um dia antes de o corpo ser encontrado, a “rapariga de Portbou” estava em Florença com a irmã.
A mulher enviou um e-mail à televisão austríaca, que foi encaminhado para o Crims. Forneceu, entre outros dados, o número de telefone da irmã da vítima.
Carles está “satisfeito” em pensar que o jornalismo tem o “poder de ajudar a resolver casos tão antigos” e por ajudar a atenuar o sofrimento da família. “É evidente que os mecanismos internacionais de coordenação policial não funcionaram”, acrescenta.
A irmã foi à Catalunha na última semana para confirmar a identidade da vítima. Aliás, revela o La Vanguardia, a 6 de setembro de 1990, a familiar reportou o caso à polícia de Florença e descreveu as roupas que a “rapariga de Portbou” vestia da última vez que a vira viva: jardineiras, sapatos pretos e um relógio Casio. As imagens da roupa coincidiam.
Não sabemos o que aconteceu nas 20 horas entre o momento em que ela saiu do meu apartamento em Florença e quando chegou a Portbou. É um mistério. A minha família e eu estamos convencidos de que [o cadáver] é a Evi, mas não temos nenhum documento oficial da polícia”, afirmou a irmã.
O caso irá ficar agora a cargo da Guarda Civil espanhola, que já iniciou os procedimentos para a identificação oficial do corpo.
Mas há imensas perguntas que ainda estão por responder: Porque é que Evi se enforcou em Portbou? O que foi ali fazer? Como percorreu os mil quilómetros que separam Florença de Portbou? “Vamos tentar continuar a aprofundar para ver até onde esta história nos leva”, responde Carles Porta, em comunicado, citado pelo El País.