Durante os últimos 32 anos, a jovem batizada como “a rapariga de Portbou” — o rosto que se vê no tweet partilhado pela jornalista Anna Punsí — pertenceu à lista de cadáveres por identificar. A sua história valeu inúmeras reportagens e até o livro La novia ahorcada en el país del viento (A noiva enforcada no país do vento, em tradução livre), do inspetor da Polícia Nacional de Espanha, Rafa Jiménez. A 25 de abril, uma equipa de repórteres conseguiu (finalmente) descobrir o seu nome e apelido.

A rapariga encontrada enforcada na pequena localidade espanhola de Portbou – o mesmo ponto na fronteira entre Girona e França onde o filósofo Walter Benjamin se suicidou – era Evi Anna Rauter e tinha 19 anos. Às oito da manhã do dia 4 de setembro de 1990, um morador descobriu o corpo pendurado próximo do cemitério.

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O mérito é do trabalho do programa Crims, liderado por Carles Porta, da canal catalão TV3. O jornalista sabia — e assim constava no relatório da Guarda Civil espanhola — que, na fatídica noite, um grupo de seis jovens austríacos tinha acampado perto do local onde Evi apareceu enforcada.

Havia a hipótese da jovem ser austríaca. Mas o que mais interessava era identificar os jovens [que pernoitaram] na tenda para ver se por acaso falaram com ela ou se sabiam mais alguma coisa”, explica Porta ao La Vanguardia.

A equipa do Crims optou por pedir a colaboração de um programa de televisão austríaco, que exibiu o episódio La chica ahorcada, com entrevistas e fotografias do enigmático caso.

Por coincidência, uma mulher, que estava a passar férias em Viena, decidiu ligar a televisão e acompanhar o episódio. Ao ver a imagem do cadáver, reconhecera-o: era a menina que havia desaparecido há muitos anos em Lana (Itália), Evi Anna Router. Como informa o El País, um dia antes de o corpo ser encontrado, a “rapariga de Portbou” estava em Florença com a irmã.

A mulher enviou um e-mail à televisão austríaca, que foi encaminhado para o Crims. Forneceu, entre outros dados, o número de telefone da irmã da vítima.

Carles está “satisfeito” em pensar que o jornalismo tem o “poder de ajudar a resolver casos tão antigos” e por ajudar a atenuar o sofrimento da família. “É evidente que os mecanismos internacionais de coordenação policial não funcionaram”, acrescenta.

A irmã foi à Catalunha na última semana para confirmar a identidade da vítima. Aliás, revela o La Vanguardia, a 6 de setembro de 1990, a familiar reportou o caso à polícia de Florença e descreveu as roupas que a “rapariga de Portbou” vestia da última vez que a vira viva: jardineiras, sapatos pretos e um relógio Casio. As imagens da roupa coincidiam.

Não sabemos o que aconteceu nas 20 horas entre o momento em que ela saiu do meu apartamento em Florença e quando chegou a Portbou. É um mistério. A minha família e eu estamos convencidos de que [o cadáver] é a Evi, mas não temos nenhum documento oficial da polícia”, afirmou a irmã.

O caso irá ficar agora a cargo da Guarda Civil espanhola, que já iniciou os procedimentos para a identificação oficial do corpo.

Mas há imensas perguntas que ainda estão por responder: Porque é que Evi se enforcou em Portbou? O que foi ali fazer? Como percorreu os mil quilómetros que separam Florença de Portbou? “Vamos tentar continuar a aprofundar para ver até onde esta história nos leva”, responde Carles Porta, em comunicado, citado pelo El País.