O candidato à liderança do PSD Luís Montenegro reivindicou esta quarta-feira ter muitas ideias para o partido e o país, mas ainda não ter retido nada de importante do que classificou como “a biodiversidade política da outra candidatura”.

Numa sessão de apresentação de mandatários distritais em Lisboa, a dez dias das eleições diretas de 28 de maio, Montenegro disse querer fazer “um ponto da situação” da campanha, com muitos ‘recados’ ao seu adversário interno, Jorge Moreira da Silva.

Temos sido muito acusados de ter poucas ideias, pouco pensamento para o país, mas a grande verdade é que se fizermos uma retrospetiva do que foi conhecido, são muito mais as ideias que temos lançado para o debate do que as que ouvimos dos outros protagonistas (…) Eu pessoalmente ainda não retive nada da biodiversidade política vinda da outra candidatura”, acusou.

Para o antigo líder parlamentar, “é muito bonito dizer que se tem ideias, que se tem pensamento, mas depois fica tudo na biodiversidade política que não chega a materializar-se numa mensagem que possa ser entendível”.

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Sem mencionar neste ponto o nome de Moreira da Silva, Montenegro disse que também era preciso comparar candidaturas, e fez questão de resumir o seu percurso político e profissional.

“Eu não padeço nem de arrogância intelectual, nem de arrogância política, eu não tenho esses males, eu tenho efetivamente uma postura de humildade, de capacidade de saber ouvir, eu não nasci autossuficiente para poder sozinho mudar o mundo”, afirmou.

Dizendo querer contar com todos os contributos dentro e fora do PSD, Montenegro deixou a garantia de ter “um conhecimento muito transversal da vida do país e dos seus grandes desafios“.

“Com toda a franqueza e frontalidade para aqueles que queiram tentar: não pensem que me vão diminuir facilmente, eu não vou aceitar isso e vou contrariar com factos”, disse.

Luís Montenegro lembrou, em particular, o seu percurso de 16 anos como deputado e seis anos como líder parlamentar do PSD.

“Eu estive no centro do debate político e da produção legislativa”, afirmou, dizendo ter tido “intervenção direta” em diplomas em todas as áreas, ter participado em muitas discussões orçamentais e até em processos de revisão constitucional.

Dizendo não gostar de falar muito de si, Montenegro avisou, contudo, que não aceitará que lhe digam que não está preparado.

“Estou mesmo preparado e motivado para regenerar o PSD, para reafirmar o PSD e muitíssimo preparado – e preparar-me-ei ainda mais nos próximos anos – para ser primeiro-ministro de Portugal”, assegurou, dizendo que a partir de 28 de maio irá promover a unidade, mas hoje era preciso “dar nota” das diferenças entre os dois projetos que irão a votos nas diretas.

Ao longo de cerca de meia hora, Montenegro passou em revista algumas das ideias que constam da sua moção de estratégia e que tem apresentado nas sessões com militantes pelo país.

A criação de um programa de emergência social para devolver aos mais carenciados a receita fiscal extra que o Governo terá com a subida de inflação, uma colaboração pelo menos com o setor social para que todos os portugueses posam ter médico de família ou a criação de um programa de acolhimento e recrutamento dirigido aos imigrantes foram algumas das ideias já apresentadas e que hoje que enunciou.

Em termos de ideias para o PSD, reiterou que pretende lançar uma espécie de ‘estados gerais’, o Movimento Acreditar, para preparar o programa eleitoral para as legislativas de 2026 já nos próximos dois anos para que este se possa “entranhar” nos dois anos seguintes nos portugueses.

Luís Montenegro adiantou que, se for eleito presidente do PSD nas próximas diretas, apresentará já no Congresso do primeiro fim de semana de julho a Comissão Autárquica, que irá preparar estas eleições de 2025, para que esteja “habilitada a tomar decisões imediatamente”.

“Não podemos deixar um vazio e arrancar com este trabalho só em 2024”, afirmou, ironizando que “não está mal” para quem acusa a sua candidatura de falta de ideias.

Na sessão, marcaram presença o antigo líder parlamentar Hugo Soares, o mandatário nacional, Miguel Albuquerque, e o mandatário para as Comunidades, José Cesário, que no seu discurso fez questão de citar quer o fundador Francisco Sá Carneiro, quer o anterior primeiro-ministro do PSD Pedro Passos Coelho.

Também marcaram presença alguns dos mandatários distritais — a maioria já eram conhecidos –, enquanto outros assistiram à sessão por via digital.

António Nogueira Leite, em Aveiro, Paulo Cunha, em Braga, Hernâni Dias, em Bragança, José Mendes Bota, em Faro, Rui Rocha, em Leiria, Ângelo Pereira, em Lisboa, Pedro Duarte, no Porto, Paulo Ribeiro, em Setúbal, e Couto dos Santos, em Viana do Castelo”, são alguns dos mandatários distritais de Montenegro.

Na Região Autónoma da Madeira, o mandatário será Pedro Calado e, nos Açores, Pedro Nascimento Cabral.

Montenegro diz que adora debates e só não haverá devido ao adversário

Luís Montenegro afirmou esta quarta-feira que nunca recusou debates, que diz adorar, e imputa a responsabilidade de não se realizarem nesta campanha interna ao seu adversário Jorge Moreira da Silva.

Na sessão de apresentação dos seus mandatários distritais, Luís Montenegro disse querer falar da “pequena querela” que tem marcado a campanha nos últimos dias, depois de Moreira da Silva o ter acusado de recusar debates e desafiado a reconsiderar.

“Quero que fique muito claro: eu nunca recusei debates, se há característica que me podem imputar é que adoro debates, tenho centenas de debates realizados”, afirmou Montenegro.

O antigo líder parlamentar do PSD detalhou que “havia dois debates pré-agendados”, um na próxima semana na rádio, dizendo que “só não se realiza” por que Moreira da Silva “não pôde confirmar”.

“E outro na televisão esta semana, que por vicissitudes que têm a ver com o confinamento obrigatório a que o nosso oponente está sujeito por ter testado positivo à Covid-19, não se pode realizar”, afirmou.

Montenegro prosseguiu a explicação, dizendo que “pelos vistos” o seu adversário interno retomará já na quinta-feira a campanha presencial.

“Mas a verdade é que na segunda fomos confrontados com notícias de que tinha testado positivo e fizemos o exercício normal de partir do princípio de que esta semana não haveria essa disponibilidade. É só por isso que não há debates”, concluiu.

A candidatura já tinha adiantado na segunda-feira à Lusa que na próxima semana já não tem agenda para a realização de debates.

Montenegro recusou que isso “seja uma dram”, dizendo que já participou em 30 sessões com militantes e fará mais 20 e dará várias entrevistas.

“Quer eu, quer o outro candidato, teremos muitas oportunidades de apresentar os nossos projetos, as nossas ideias”, afirmou.

Na terça-feira, Jorge Moreira da Silva manifestou “enorme desilusão e até tristeza” com a posição do adversário interno Luís Montenegro de recusar debates a dois por falta de agenda, apelando a que reconsiderasse.

Em comunicado, Moreira da Silva detalhou que aceitou convites “formulados há quase quatro semanas” de vários órgãos de comunicação social para frente a frente com Montenegro no âmbito da campanha interna que antecede as eleições diretas de 28 de maio.

O candidato salienta que “seriam debates democraticamente óbvios e debates essenciais”, uma vez que “nenhum dos candidatos está no exercício da presidência do partido” e defendendo que “o perfil dos candidatos é muito distinto” e “as moções estratégicas apresentadas por cada um deles são muito diferentes, nas opções que assumem e nos caminhos que preconizam para o país e para o PSD”.

“É, pois, com enorme desilusão e até tristeza que recebi a notícia de que Luís Montenegro (que não havia ainda respondido àqueles convites da comunicação social, nem aos contactos da minha candidatura para acertar os pormenores da concretização desses convites) veio hoje recusar quaisquer debates comigo, com a conhecida desculpa da ‘falta de agenda’”, aponta.