Lágrimas de espanto, de alegria e de alívio. Depois de perceberem que era mesmo verdade — alguém tinha saldado o pesado empréstimo bancário contraído para poderem pagar as propinas do Otis College of Art and Design de Los Angeles — muitos alunos passaram a encarar o futuro com outros olhos. Já não iriam começar o seu percurso profissional com dívidas às costas.

A boa notícia chegou no dia em que iam receber o diploma de final de curso, no domingo, em Los Angeles. Na cerimónia, o diretor de Otis College Charles Hirschhorn, escola de arte e design privada sem fins lucrativos, divulgou que o CEO do Snapchat, Evan Spiegel, e a mulher Miranda Kerr (supermodelo australiana e dona da marca de beleza Kora) decidiram saldar os empréstimos bancários dos 285 finalistas de 2022.

O anúncio não podia ter sido melhor para Farhan Fallahifiroozi, conta o Los Angeles Times. Membro da comunidade minoritária Bahai, no Irão, emigrara com a sua família para o Texas, nos Estados Unidos da América, em 2015, por não poder exercer livremente a sua fé no país de origem. Depois de fazer o ensino secundário, decidiu ir estudar para o Otis, em Los Angeles e para isso pediu cerca de 60 mil dólares (mais de 57 mil euros) emprestados ao banco para financiar os quatro anos do curso. Os pais voaram do Texas para assistir à sua graduação e nem queriam acreditar no que estavam a ouvir. A dívida do filho, que não conseguiam ajudar a pagar, deixava de ser uma preocupação constante.

Farham não é o único filho de migrantes nesta escola que tem cerca de 1.200 estudantes. Segundo o jornal norte-americano, 77% não são brancos, e 30% são a primeira pessoa da família a chegar ao ensino superior. A instituição é marcada pela diversidade étnica: tem negros, japoneses, persas, mexicanos-americanos e outras culturas.

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O jornal Los Angeles Times, diz que a doação do casal, feita através do Fundo da Família Spiegel, de que são fundadores, foi o maior “presente” na história centenária da escola, embora não tenha sido revelado o montante entregue.

O bilionário mais jovem do mundo em 2015, de acordo com a revista Forbes, tinha frequentado um curso de Verão no Otis de que guardara as melhores recordações: “Mudou a minha vida e fez-me sentir em casa”. E quando a instituição o convidou, tal como a Miranda Kerr para falarem na abertura do ano letivo e lhes manifestou a intenção de lhes atribuir graus honorários, decidiu pagar os empréstimos em dívida de todos os finalistas.

As imagens partilhadas na rede social Twitter são muitas e mostram a reação dos alunos que não esconderam as lágrimas, abraçaram-se e aplaudiram.

Os estudantes nos Estados Unidos recorrem, muitas vezes, a empréstimos para prosseguir a formação académica. Só na Califórnia, o Estado mais devedor neste âmbito, tem 3,8 milhões de residentes que devem no total 141,8 mil milhões de dólares (aproximadamente 134 mil milhões de euros). Com a pandemia de Covid-19, o pagamento dos empréstimos para se estudar nos EUA foram interrompidos em março de 2020, o que resultou no aumento da dívida na comunidade estudantil.

A propina anual em Otis, para 2022-23, é de 49.110 mil dólares (à volta de 46 mil euros), segundo o site da escola, e mais de 90% dos estudantes recebem ajuda financeira. A dívida média total de um aluno universitário após o curso é de 27 mil dólares (cerca de 25 mil euros), de acordo com o Departamento de Educação dos Estados Unidos.

Mas os problemas financeiros não se tratam apenas de dívidas de cinco dígitos; um estudo realizado em 2020 revelou que os empréstimos estudantis têm efeitos sobre os recém-formados e concluiu que a sobrecarga financeira prejudica a saúde mental dos alunos, atrasa casamentos e desencoraja novos desafios, segundo o site australiano The Conversation — que analisou este tema.

Agora, sem este peso, os alunos vão poder focar-se no futuro e perseguir os seus sonhos após uma caminhada em Otis, que Evan Spiegel  e Miranda Kerr consideraram, em comunicado, ser “uma instituição extraordinária que incentiva jovens criativos a encontrar as suas vozes artísticas e a prosperar numa variedade de indústrias e carreiras”.