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Violência, confronto, amor e liberdade. “Rainha da Beleza” estreia em Famalicão e é uma peça “dolorosamente divertida”

Este artigo tem mais de 1 ano

Escrita pelo irlandês Martin McDonagh e encenada por João Cardoso, da companhia Assédio Teatro, a peça “Rainha da Beleza” chega a Famalicão esta sexta-feira para falar de amor, violência e solidão.

De sexta a domingo, a peça estará em cena na Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão
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De sexta a domingo, a peça estará em cena na Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão

De sexta a domingo, a peça estará em cena na Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão

Uma cozinha com direito a fogão, canecas de esmalte penduradas por cima do lava loiça, uma poltrona em frente a uma televisão coberta com um napron feito em crochet, ao lado uma mesa com um pacote de bolachas aberto. Estamos em Leenane, uma pequena vila na costa sul da Irlanda, no início dos anos noventa, um lugar onde chove muito e quase todos emigram para Inglaterra ou para os Estados Unidos da América à procura de trabalho e de liberdade.

É esta casa simples e modesta o cenário de “Rainha da Beleza”, uma comédia negra escrita por Martin McDonagh, entre 1996 e 1997, que conta a história de Maureen Folan, uma mulher de 40 anos, solteira e virgem, que cuida da sua mãe, Mag, egoísta, manipuladora e amarga. Graças a ela, fica presa a um passado instável e é impedida de viver um grande amor.

“O texto aborda um tema que está sempre na ordem do dia, a relação familiar entre mãe e filha. Enquanto as irmãs de Maureen casaram e saíram de casa, ela ficou a tomar conta da mãe e isso inibiu-a de viver outras coisas”, começa por explicar ao Observador o encenador João Cardoso, acrescentando que tudo acontece num país rural, fechado e, de certa forma, frustrante, “um lugar que não deixa as pessoas concretizarem os seus sonhos”.

É precisamente a mãe que queima todas as cartas e esconde os recados, sabotando assim qualquer eventual envolvimento entre Maureen e Pato Dooley. A relação entre mãe e filha é tão intempestiva, destruidora e dissimulada, que a personagem principal acaba por matar a própria mãe, “libertando-se de alguma forma”, ainda que nunca concretize a relação amorosa tão desejada. “Refletimos sobre o papel do cuidador e essa obrigação moral de cuidarmos dos nossos familiares ou pessoas mais velhas, exploramos um conflito geracional e a falta de resposta da sociedade para os problemas que ele levanta”, sublinha João Cardoso.

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Numa comédia trágica capaz de provocar o riso sobre os nossos próprios dramas e inseguranças, o texto já tinha sido encenado em 2010 pelo Teatro Meridional, e estreia esta sexta-feira na Casa das Artes, em Famalicão, numa coprodução com Benedita Pereira, João Castro, Filomena Gigante e Pedro Quiroga Cardoso no elenco. “É um texto violento, ácido, grotesco e cruel, cheio de humor, amor e solidão, em que o final trágico se torna inevitável, mas, ao contrário do esperado, não tem uma consequência feliz.”

O desafio maior e a peça que convida a questionar o presente, mas também o futuro

Benedita Pereira é a protagonista de “Rainha da Beleza” e não tem dúvidas de que Maureen é “o maior desafio” que recebeu até hoje. “Ela é muito diferente de mim, desde logo pela idade, e depois porque vive amargurada com a mãe, sem grande vontade de cuidar e sem esperança no futuro. Elas torturam-se uma à outra de forma bastante visível e sem grande noção da realidade”, revela ao Observador, ainda de peruca na cabeça e um figurino de cores escuras e pesadas.

Um passado traumatizante, solidão e um esgotamento, com várias alusões subtis à saúde mental, são alguns ingredientes que a atriz de 36 anos nunca tinha explorado em palco. “O processo está a ser dolorosamente divertido, tal como é a própria peça. Estou a divertir-me muito, apesar da minha personagem não ser a mais divertida, mas há requintes de malvadez e é tudo tão horrível que se torna engraçado, incluindo os momentos mais insólitos. Tive que trabalhar com um peso e uma densidade que talvez nunca tenha explorado noutras personagens, aliás, quando li o texto pela primeira vez pensei: como é que alguém me imaginou a fazer isto? Acho que não fui uma escolha óbvia, mas ainda bem que este desafio chegou na altura certa, sinto que já tenho maturidade suficiente para o concretizar.”

João Castro é ator e produtor da companhia Assédio Teatro, e nesta peça dá vida a Pato Dooley, um homem de 40 anos que foi obrigado a sair do seu país, a Irlanda, para ir trabalhar para Inglaterra, em busca de identidade e de um sentimento de pertença que nunca chega a alcançar. “Ele é maltratado, segregado, não tem amigos ou familiares, e quando regressa para a sua terra percebe que aquele sítio também não lhe pode trazer nada. A única alternativa que tem é ir para os Estados Unidos e criar uma vida nova lá com a Maureen”, explica.

Esta procura por um sítio melhor, pela evolução e pelo sucesso é partilhada de forma muito pessoal pelo ator de 40 anos. “Sinto na minha geração uma insatisfação constante no lugar onde se está e da forma como somos vistos ou reconhecidos pelo que somos e não pelo que fazemos. Por acaso neste momento estou a passar por essa reflexão, já sei onde é que a vida me levou, mas questiono muito esse sentimento de pertença e de identidade. Penso no que vem a seguir, quem sou, o que quero e qual é o meu papel a partir de agora?

Para João Castro, “Rainha da Beleza” é um “espelho” do país atual, principalmente das zonas mais rurais situadas a norte, onde o poder da comunicação é abordado à boleia de uma relação amorosa quase platónica. “Num mundo em que existem tantas formas e plataformas para comunicar, essas falhas de comunicação são imperdoáveis, há sempre qualquer coisa que o outro não diz, há sempre um pudor e quem fica aquém. A falta de comunicação muda completamente o rumo desta história, o destino é alterado por isso, o que acaba por se tornar muito revelador.”

A peça estreia esta sexta-feira na Casa das Artes, em Famalicão, onde permanece até domingo, seguindo depois, de 1 a 12 de junho, para a Sala de Bolso da companhia Assédio Teatro, no Porto. Preço dos bilhetes: 6 euros.

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