O almirante Henrique Gouveia e Melo, antigo coordenador da campanha de vacinação contra a Covid-19, afirma que Portugal está a viver mais uma nova “onda” no que diz respeito à pandemia, referindo que nunca mais se voltará “ao sossego anterior à pandemia”: “Julgo que o que está a acontecer é uma onda, ou seja, já não é uma epidemia no sentido inicial do termo, é mais uma endemia, e o que vamos ter são ondas, momentos em que estamos mais vulneráveis e outros momentos menos vulneráveis de forma sazonal”.

Numa entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, Henrique Gouveia e Melo volta a enaltecer a vacinação: “Esquecemo-nos de que houve alturas no nosso passado recente em que morreram 300 pessoas por dia e isso era a diferença entre ter a vacina ou não ter”. O almirante refere que a população que já interiorizou um “conjunto de cuidados”, sendo isso “regula a pandemia”. 

Para o almirante, a população não se pode assustar “facilmente” com uma onda; caso contrário, começa a reagir “de forma desastrosa a uma coisa que vai ser natural, esta doença veio para ficar”. “Mas veio para ficar de uma forma controlada e não de forma descontrolada como era no início e que causava grande perturbação”, ressalva, sublinhando: “Nunca mais vamos voltar ao sossego anterior à pandemia. As pessoas têm de perceber isso”.

Admitindo que será preciso uma dose de reforço para a “população mais vulnerável”, Gouveia e Melo menciona o caso do vírus da gripe. “A gripe não mata?”, questiona, acrescentando que a população já nem se lembra quantas pessoas mata aquela doença “todos os anos”. “Encaramos a gripe como uma doença natural e para não estarmos muito sujeitos a ela, o que fazemos é vacinar uma percentagem da população”, reforça.

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“Temos de saber lutar e viver com estes surtos em que temos de reforçar instantaneamente as nossas capacidades e depois desmobilizar as capacidades, isso vai fazer parte do nosso quotidiano a partir de agora”, salienta Gouveia e Melo.

“Na minha muito modesta opinião, quem levou a Finlândia e a Suécia para a NATO foi o senhor Putin”

Na mesma entrevista, sobre a guerra na Ucrânia, Gouveia e Melo defendeu exister uma dicotomia entre dois poderes no continente europeu: “Os poderes continentais, normalmente, são fechados e tentam ocupar espaços por conquista, os poderes marítimos são abertos, mais democráticos, em que a parceria é feita por troca e partilha de interesses, muito mais do que por imposição de interesses”.

Sublinhando que existem “duas mentalidades continentais uma contra a outra”, o almirante explica que os “estudiosos dizem que as potências continentais olham para a forma de obter poder como conquista territorial e submissão dos outros povos”

“Quem é que tem esse projeto neste momento? Não me parece que seja o projeto da NATO”, atira Gouveia e Melo, que justifica a entrada da Suécia e da Finlândia com o contexto de segurança europeu, que é “demasiado perigoso manter a neutralidade”. “Olhando para a geografia, para o terror que esta invasão criou, para a desestruturação de relações internacionais, e para a incerteza que traz às populações, o desfecho é o mais natural”, indica.

“Posso dizer que na minha muito modesta opinião, quem levou a Finlândia e a Suécia para a NATO foi o senhor Putin”, remata Gouveia e Melo.