O ministro da Educação admite que os exames nacionais do secundário continuem a contar apenas para o acesso ao ensino superior, e não para terminar o ciclo, medida que foi implementada com a pandemia. Em entrevista ao jornal Expresso, que foi divulgada esta sexta-feira, João Costa garante que está a ser “ponderado se este modelo” é “para continuar ou não”.

Mesmo assim, é necessário “ter a preocupação de que não haja fenómenos de inflacionamento de notas, porque os exames acabam por ter um papel regulador neste aspeto. A boa notícia é que nestes dois anos não assistimos a comportamentos desviantes”, defende.

Na primeira entrevista que deu desde que assumiu o cargo, o ministro da Educação revela que para os alunos do nono ano a decisão já está tomada: os exames nacionais voltam a contar para a nota, mas só no próximo ano letivo. “Temos que retomar a normalidade de forma progressiva. Sabendo nós que este ano letivo ainda foi bastante impactado pela pandemia, não seria justo que este exame relevasse já para a transição ou não para o 10.º ano”, justifica.

Atualmente, existem cerca de “sete mil” alunos que não têm pelo menos aulas de uma disciplina, mas o número poderá ser maior porque “há baixas que chegam” e “outras circunstâncias”. “Conseguimos reduzir o número quando permitimos que professores impedidos de concorrer [por terem recusado horários antes] voltassem a integrar as listas. Sem isso seriam mais cinco mil”, explica João Costa que garante não hesitar em fazer alterações na lista nacional de ordenação de professores se isso assegurar que não existirão alunos sem aulas.

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Desta forma, o governante acredita que é preciso “reduzir enormemente” a lista de 2.000 professores que são “cedidos às mais variadas instituições” como sindicatos ou serviços de Administração Pública: “Precisamos deles nas escolas”. Para evitar que os docentes andem “com a casa às costas”, João Costa promete abrir mais vagas nos quadros nas escolas e reconhece que a formação “tem de ser reconfigurada”.

O ministro da Educação criticou ainda o atual modelo de colocação de professores. “Temos um modelo que não satisfaz. Todos os anos em que há concursos ouvimos professores, escolas e famílias insatisfeitos. É o momento de perguntar: afinal, este modelo serve quem? Não está a servir para que um jovem ou até um professor que já está na carreira possa olhar para a carreira e sentir previsibilidade e estabilidade”, frisa em declarações ao Expresso. Para o governante o modelo tem “algumas irracionalidades, uma delas, que traz instabilidade, é a perspetiva de que, de xis em xis anos, e até de ano a ano, o sistema ser todo baralhado”.

João Costa quer, assim, o desenvolvimento de um trabalho de continuidade e defende a existência de colocações mais longas para dar “estabilidade às pessoas e às equipas”.

Quando lançámos as tutorias, investimos na formação de professores e formámos mais de 3.000 professores tutores, mas no ano seguinte foi ano de concurso e o que aconteceu foi que grande parte dos professores que tinham sido formados mudaram-se para escolas onde não estavam a desenvolver esse trabalho”, exemplifica.