A maioria dos crimes mediáticos vêm temperados com uma boa dose de mistério. Esse mistério pode estar relacionado com um autor desconhecido, quando existe, ou com as motivações, tantas vezes incompreensíveis dos criminosos, o seu modus operandi, a respetiva frieza e aparente falta de empatia e a forma tantas vezes invulgar como se apresentam e comportam.

Magpie Murders, a nova série do AXN, baseada no best-seller homónimo de Anthony Horowitz, vive de uma série mistérios que se vão entrelaçando: os mistérios criados pelo enredo do autor Alan Conway, em que várias personagens vão sendo misteriosamente mortas, o mistério deixado pelo último capítulo em branco e o mistério da sua própria morte, que obriga a sua editora Susan Ryeland a vestir a pele de investigadora e a tentar ligar realidade e ficção, numa investigação paralela.

A série, que tem estreia marcada para dia 25 de maio às 22h, no AXN, faz-nos recordar outros casos tão mediáticos como misteriosos, cada um pelas suas razões, tanto em Portugal como noutras partes do mundo. Recordemos alguns deles.

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Crimes Misteriosos e Mediáticos

Infografia: Diogo Batuca

Ted Bundy (1974)

Os primeiros crimes documentados cometidos por Theodore Robert Cowell – Bundy era o apelido do padrasto, que o adotou – datam de 1974. Mas é possível que já antes tivesse feito vítimas. Ted Bundy, um homem descrito como charmoso e eloquente, terá violado e assassinado mais de 35 mulheres em cinco estados diferentes dos EUA. As razões nunca ficaram totalmente esclarecidas, mas como o próprio reconheceu, em declarações reproduzidas no recente documentário Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes, o término da sua relação com Diane Edwards, a sua primeira namorada, terá tido influência no seu comportamento. E na escolha das vítimas: eram todas jovens até 25 anos, de pele clara e cabelos lisos e longos, com uma beleza convencional semelhante à de Diane. Ted foi condenado à morte e executado em 1989. O seu cérebro foi posteriormente estudado para tentar desvendar o mistério das suas intenções mas sem resultado: era um cérebro perfeitamente normal, sem lesões nem alterações morfológicas.

Richard Ramirez (1984)

Não foi uma infância fácil a deste filho de imigrantes mexicanos em El Paso, no estado do Texas. Vítima de violência por parte do pai desde cedo, Richard refugiou-se nas drogas e na companhia de um primo recém-chegado da Guerra do Vietname, que lhe mostrava fotografias de mulheres que teria torturado, violado e assassinado. Aos 13 anos, Richard viu esse primo matar a própria mulher. A partir daí, nunca mais foi o mesmo. O vício das drogas agudizou-se e Richard, também atraído pelo satanismo, começou a roubar para o sustentar. Em 1984, já em Los Angeles e sob o efeito de cocaína, assaltou a casa de Jennie Wilcow, de 79 anos, que acabaria também por violar e matar. Ao longo do ano seguinte, faria mais 12 vítimas, além de tentar violar e assassinar outras tantas. Agia sempre à noite, o que lhe valeu a alcunha de “Night Stalker”. Em agosto de 1985, ao fazer a sua última vítima, foi reconhecido por uma testemunha, o que acabaria por levar à sua detenção. No seu julgamento, bastante mediático, nunca mostrou arrependimento. Pelo contrário: riu, gozou, exibiu símbolos satânicos e, estranhamente ou talvez não – já que é um fenómeno comum em casos deste género –, acabaria por criar uma legião de fãs do sexo feminino. Casaria com uma dessas fãs em 1996, sete anos depois de ter sido condenado à morte. Richard nunca chegou a ser executado: morreu de cancro em 2013.

Vítor Jorge, o Mata-Sete (1987)

A 2 de março de 1987, Portugal acordou chocado com um crime macabro ocorrido na noite anterior na praia do Osso da Baleia, perto de Leiria. Cinco jovens, com idades entre os 17 e os 24 anos, foram assassinados por Vítor Jorge, funcionário da agência da Marinha Grande do Banco Espírito Santo e fotógrafo de festas em part-time. Foi precisamente depois de uma festa que Vítor levou os jovens até à praia e os assassinou. Entre eles estava Leonor Tomás, com quem mantinha uma relação. Junto ao corpo dela deixou um cartão com a mensagem “Isto foi porque tu quiseste. Os outros foram por arrastamento.” Não seriam as únicas vítimas dessa noite. Depois de matar os cinco jovens, Vítor arrastaria a mulher e uma filha para um pinhal próximo de sua casa, assassinando-as à facada. Foi uma outra filha, de 14 anos, poupada por Vítor, a alertar as autoridades. A caça ao homem terminaria a 5 de março e o assassino seria condenado à pena máxima, da altura, em Portugal: 20 anos. Libertado em 2005 por bom comportamento, viria a morrer em circunstâncias misteriosas em 2019, na ilha de Córsega, em França, para onde entretanto emigrara.

O Estripador de Lisboa (1992)

A alcunha foi-lhe dada pela polícia, inspirada no famoso caso de Jack, o Estripador, que no final do século XIX matou e esventrou pelo menos cinco mulheres em Londres, sem que alguma vez tivesse sido apanhado. O mesmo aconteceu com o Estripador de Lisboa. Entre 1992 e 1993, o mesmo homem terá matado três prostitutas, deixando-as mutiladas e com os órgãos internos expostos. Dois outros crimes de contornos semelhantes praticados em 1990 deixaram a Polícia Judiciária desconfiada de que o criminoso já teria currículo anterior. Apesar de todo o mediatismo do caso e de uma investigação subsequente que se prolongou durante anos, o mistério ficou bem preservado: o culpado nunca foi encontrado e os crimes, entretanto, já prescreveram.

Elisa Lam (2013)

O caso de Elisa Lam ganhou especial relevância no mundo inteiro após o lançamento, em 2020, do documentário “Mistério e Morte no Hotel Cecil”. Foi nesse hotel, em São Francisco, que o seu corpo foi encontrado num tanque de água situado no terraço. As últimas imagens de Elisa com vida foram também captadas nesse hotel, mais concretamente no elevador. Nesse vídeo, Elisa parecia estranhamente agitada, saindo e entrando do elevador, até finalmente desaparecer.

Na internet, surgiram dezenas de teorias da conspiração, algumas relacionadas com fenómenos paranormais, outras avançando possíveis culpados pela sua morte. Sabe-se, porém, que Elisa sofria de doença bipolar e que não estaria a tomar a sua medicação, pelo que a hipótese de ter sido ela a – devido a um surto – aceder ao terraço e entrar no tanque de água pelos seus próprios meios também não foi descartada pelas autoridades. O que é certo é que até hoje nunca se apurou o que de facto terá acontecido. Ou seja, o mistério venceu.

Já sabe, se é o mestre do mistério não pode perder no dia 25 de maio, às 22, no AXN, a estreia de Magpie Murders.