Rebentou o primeiro escândalo no seio do novo governo de Emmanuel Macron. O ministro escolhido pelo Presidente francês para a pasta da Solidariedade e Pessoas com Deficiência, Damien Abad, foi acusado de violação por duas mulheres e já veio negar as acusações.

A notícia foi avançada pelo jornal francês Mediapart durante o fim de semana, revelando que duas mulheres acusaram Abad de as forçar a ter relações sexuais sem consentimento, em 2010 e 2011. Uma delas avançou com duas queixas na polícia, em 2012 e 2017, que terão acabado por ser arquivadas.

Confrontado com as acusações, o ministro não só as negou como apontou para a doença de que sofre, a artrogripose múltipla congénita, que afeta os braços e as pernas, para garantir que nessas condições nem sequer seria fisicamente possível cometer uma violação.

Em comunicado, no domingo, o novo governante especificou mesmo que, na sua situação, “o ato sexual só pode acontecer com a assistência e ajuda do parceiro”. Depois, endereçando o que serão os pormenores de uma das acusações, negou que conseguisse, assim “drogar, carregar, despir e violar uma mulher inconsciente”, classificando as alegações como “simplesmente inconcebíveis e abjetas”.

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A notícia dificulta o arranque do novo governo de Macron, que reuniu esta segunda-feira, pela primeira vez, os seus novos ministros, incluindo Abad, que deixou um partido conservador — Os Republicanos — apenas um dia antes de se juntar ao partido de Macron e ser convidado para integrar o governo.

Governo diz que não sabia, ativistas garantem que sim

A primeira-ministra, Elisabeth Borne, já veio entretanto garantir que “obviamente” não sabia das acusações antes de as ler no jornal, conforme cita o POLITICO.

E, assegurando que não pode haver “impunidade” no que toca a assédio e violação, remeteu decisões para os tribunais: “Se houver novos elementos, se o caso voltar aos tribunais, retiraremos todas as consequências das suas decisões”.

Também Emmanuel Macron desconheceria o caso. Pelo menos, foi o que garantiu a porta-voz do executivo, Olivia Grégoire, que disse aos jornalistas que, tanto quanto sabe, “nenhum dos membros do governo” estaria a par das alegações que envolvem Damien Abad.

“A questão aqui é o apuramento da verdade. Cabe ao sistema de justiça estabelecer qual é a verdade. Não me cabe a mim e acho que também não vos cabe a vocês”, acrescentou em declarações aos jornalistas. E fez questão de frisar que o governo francês apoia as vítimas de violência sexual, encorajando-as a “apresentarem-se sem reservas” às autoridades e colocando o executivo “ao lado de quem, depois de agressão ou assédio, tem a imensa coragem de falar”.

No entanto, indica a imprensa francesa, uma associação de apoio aos direitos das mulheres já veio dizer que informou dirigentes do partido de Macron e do antigo partido de Abad sobre as queixas no dia 16 de maio — quatro dias antes de ser anunciada a composição do novo elenco governativo.