O assessor do presidente da Câmara da cidade ucraniana de Mariupol, atualmente sob controlo das forças russas, disse nesta terça-feira que quase 200 cadáveres estão em estado de decomposição na fábrica Azovstal, constituindo um perigo para a saúde pública.

A instalação metalúrgica com mais de 11 quilómetros quadrados foi, até à semana passada, o último bastião ucraniano na cidade portuária junto ao Mar de Azov.

“Durante a derrocada de um edifício de vários andares perto de uma estação (…) foram encontrados 200 cadáveres sob os escombros em grande estado de decomposição“, escreveu Petro Andryushchenko numa mensagem que divulgou através da rede social Telegram e que foi citada pela agência Unian.

O porta-voz do autarca de Mariupol, que há mais de um mês difunde mensagens sobre a situação na cidade, acrescenta que “perante a recusa da população, que não quis recolher os corpos, o Ministério de Situação de Emergência russo abandonou o local“.

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Assim, os cadáveres permanecem nas ruínas da fábrica sendo que depois de terem sido retirados alguns escombros, o “cheiro sente-se em quase todo o bairro”.

Andryushchenko referiu ainda que a trasladação de outros corpos enterrados anteriormente em jardins e pátios junto a edifícios ficou praticamente suspensa por causa das normas para exumação e enterros decretadas pela “administração” russa de Donetsk e que é conhecida como “ritual”.

As normas “para um enterro oficial gratuito” na zona controlada pelas forças russas preveem a integração do pedido numa lista sendo que familiares ou amigos têm de transportar por meios próprios o defunto para a “morgue” onde têm de declarar que a vítima “acaba de ser encontrada” e que foi “assassinada” pelo Exército ucraniano. A declaração (“ritual”) tem de ficar obrigatoriamente registada em vídeo.

“Por causa destas condicionantes uma grande quantidade de cadáveres foram empilhados numa morgue improvisada” na rua, diz o mesmo responsável, que também divulgou fotografias dos corpos.  “A cidade transformou-se num grande cemitério”, disse.

Andryushchenko apelou na segunda-feira à retirada urgente dos residentes civis que ainda se encontram em Mariupol porque podem vir a correr “riscos de epidemia por cauda dos corpos em decomposição”, frisando também a falta de água potável.

“Como consequência, Mariupol pode transformar-se num ‘gueto’ com consequências catastróficas”, alertou.

“A obstrução das canalizações está a fazer com que a água das chuvas esteja a chegar aos escombros. Os efeitos da putrefação e o veneno da decomposição dos cadáveres pode chegar a toda a cidade”, lamentou.