Camuflada entre arbustos do lado das trincheiras ucranianas, está a peça de artilharia Howitzer M777, “a mais potente que o Ocidente forneceu [à Ucrânia] até agora”, escreve o The New York Times que a viu no terreno. A razão? Há cinco mais: não só é mais fácil de transportar e esconder, como atinge alvos mais distantes e com maior precisão — pois tem um sistema de GPS acoplado –, e é mais rápida do que outras armas deste género, como se pode ler no site da empresa Bae Sysrtems, responsável pelo fabrico do Howitzer M777, além de fornecer material a ministérios de Defesa de vários países.

Se dúvidas houvesse — visto que o anúncio do envio de 90 armas do tipo Howitzer M777 já faz algum tempo — agora, o jornal norte-americano confirmou que este obus (uma espécie de canhão) está mesmo a ser utilizado pelo exército ucraniano no leste do território invadido pela Rússia.

Tal como outros países, os Estados Unidos da América oficializaram o envio de armamento para a Ucrânia como forma de ajudar a combater a inferioridade militar — França e Eslováquia também vão enviar obuses.

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Acreditamos que os obuses estão a ter impacto, particularmente em Kharkiv. Agora, é este o único motivo? Não acho que iríamos tão longe ao ponto de dizer tal coisa, mas acreditamos que os sistemas que eles [Ucrânia] estão a receber — não só provenientes dos EUA, como também de outros países — estão absolutamente a ajudá-los a recuperar algum impulso e território”, afirmou um funcionário governamental, citado num comunicado do Pentágono divulgado na última segunda-feira.

Os Howitzers M777, autênticas máquinas de aço e titânio capazes de atingir alvos até 40 quilómetros, foram pela primeira vez usados pelos EUA no Afeganistão em 2005 e só outros dois países a possuíam: a Austrália e o Canadá.

Na Ucrânia já mataram dezenas de soldados russos e destruíram pelo menos três veículos blindados das tropas de Moscovo, segundo a estimativa do coronel Roman Kachur. Aliás, desde que entraram em combate, há cerca de duas semanas, já dispararam quase dois mil projéteis, avançam as autoridades ucranianas.

“Esta arma aproxima-nos da vitória”, vincou ao jornal norte-americano o comandante da 55.ª brigada de artilharia  — cuja unidade foi a primeira a usar a arma letal — reconhecendo (implicitamente) que é sempre necessário mais apoio: “Com todas as armas modernas, armas precisas, ficamos mais próximos da vitória”. Analistas salvaguardam, contudo, que isto “não é garantia de sucesso”.

Destruir infraestruturas militares da Rússia, como depósitos de munição e postos de comando, é o principal objetivo, assumiu o coronel, além de desmantelar bombardeamentos inimigos que visam atingir cidades ucranianas.

A habilidade em manusear a arma é a chave para o sucesso, mas são poucos os militares ucranianos que sabem como operar os 90 Howitzers recebidos. Por isso, apenas cerca de 12 estão a ser utilizados e pode durar semanas até todos estarem no terreno.

Durante seis dias as tropas norte-americanas ensinaram, em bases na Alemanha, 200 soldados ucranianos a dispararem estas armas. Posteriormente, o grupo foi dividido ao meio, sendo que 100 foram para a frente de batalha, e os restantes 100 ficaram responsáveis por treinar mais soldados.

A Rússia ao mesmo tempo que relativiza o poder desta poderosa arma, escolhe-a como alvo. “No processo de alcançar os seus objetivos, um conjunto de sistemas Giatsint-S eliminou uma unidade de Howitzers M777 feitos pelos Estados Unidos”, salientou um comunicado do governo, citado pela agência estatal TASS.

No vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa e que está a circular pelo YouTube, vê-se os obuses a serem atingidos por projéteis russos e, posteriormente, a procurarem refúgio na floresta — área que foi igualmente bombardeada.

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Esta terça-feira, Moscovo anunciou ter destruído depósitos de munições dos Howitzers. Há uma semana, Mikhail Kodaryonok, um ex-coronel russo, que primeiro criticou a estratégia de guerra de Putin e depois voltou atrás, mencionava os ataques da Rússia aos obuses norte-americanos na Ucrânia. Dizia que continuarão a ser um alvo das forças russas “num futuro próximo”. “Serão procurados, descobertos e atingidos”, garantiu o coronel na reserva, acrescentando que brevemente serão apenas “memórias”.

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