A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) pediu esta terça-feira o reforço de psicólogos nos cuidados de saúde primários, para que possam atender crianças e jovens em sofrimento psicológico, que têm ficado sem resposta por falta de meios.

Para a Ordem dos Psicólogos não basta implementar medidas dentro dos muros das escolas para apoiar os alunos, são precisas também medidas “fora da escola”.

A posição da OPP surge na sequência da divulgação do estudo realizado este ano nas escolas portuguesas que revelou que um em cada três alunos apresentam sinais de sofrimento psicológico.

É preciso um trabalho integrado com os diferentes setores da comunidade. As escolas, neste momento, não estão a conseguir encaminhar as crianças e jovens que precisam de intervenção na área clínica e da saúde para os Centros de Saúde porque estes não têm capacidade de resposta. Não têm psicólogos para responder a estas necessidades”, alerta Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem.

Por isso, a OPP defende que é preciso reduzir as barreiras de acesso aos cuidados de saúde psicológica, através do reforço de psicólogos nos cuidados de saúde primários.

Durante a apresentação dos resultados do “Observatório Escolar: Monitorização e Ação | Saúde Psicológica e Bem-estar”, o ministro da Educação, João Costa, garantiu que as escolas portuguesas estão a cumprir o rácio de psicólogos por alunos nas escolas.

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Sofia Ramalho salienta que o trabalho dos psicólogos nas escolas “tem sido incansável”, mas lembra que “as necessidades de intervenção individual, cada vez mais necessárias e urgentes, não permitem um trabalho de prevenção e promoção para toda a escola, também ele essencial”.

A pandemia de Covid-19 veio acentuar as desigualdades preexistentes e aumentou os fatores de risco para o desenvolvimento saudável e o bem-estar das crianças e jovens. O Ministério da Educação pediu, pela primeira vez, um estudo para perceber o que se estava a passar nas escolas.

Os investigadores concluíram que cerca de um terço dos alunos acusa sinais de sofrimento psicológico e défice de competências emocionais que exigem atenção, assim como metade dos professores apresenta sinais de sofrimento psicológico.

Perante este cenário, a Ordem considera “urgente” que as crianças e os jovens sejam alvos prioritários de intervenção, nomeadamente através da prevenção e combate das desigualdades e da promoção da saúde psicológica e do bem-estar.

A OPP pede também a intervenção junto das famílias, com programas de promoção das competências parentais ou outros, e a promoção da saúde psicológica no contexto laboral das famílias, com a implementação de políticas e práticas de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional “amigas da família”.

O estudo, coordenado por Margarida Gaspar de Matos, da Equipa Aventura Social da Universidade de Lisboa, faz várias recomendações, como o reforço da literacia e das capacidades e competências individuais, nomeadamente das competências socioemocionais.

A OPP subscreve a medida, mas lembra que a promoção dessas competências “implica o aumento do número e a continuidade do trabalho dos psicólogos e psicólogas presentes nas escolas”.

João Costa anunciou a renovação dos contratos que permitiu colocar nas escolas cerca de 1.100 técnicos especializados, dos quais cerca de 70% são psicólogos, para os Planos de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário.