O Tribunal de Santarém começa, na quinta-feira, a julgar um ex-comandante do posto da GNR de Alpiarça pelos crimes de denegação de justiça e violação de domicílio praticada por funcionário, por realizar uma busca num consultório médico sem mandado judicial.

O antigo militar da GNR, que se encontra a cumprir pena de prisão no Estabelecimento Prisional de Évora, no âmbito de outros processos, foi pronunciado para julgamento depois de o médico em causa, que fez a denúncia, ter pedido abertura de instrução face à decisão de arquivamento do inquérito aberto pelo Ministério Público.

O juiz de instrução decidiu pronunciar Sérgio Malacão, mas não os três militares da GNR que o acompanharam na busca realizada em dezembro de 2016 ao consultório médico, na qual esteve, igualmente, presente um representante da Ordem dos Médicos Dentistas.

Segundo a decisão instrutória, consultada pela Lusa, depois de elaborar um auto de notícia, por alegada prática de medicina dentária por profissional não habilitado para o efeito, Sérgio Malacão e outros três militares dirigiram-se ao consultório, “fardados e em exercício de funções”, tendo apreendido material médico, cadernos de notas e caixas de fichas de pacientes.

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“Essa diligência não foi ordenada por qualquer autoridade judiciária, não foi presidida por juiz de instrução criminal, nem foi acompanhada por representante da Ordem do Médicos”, refere a decisão instrutória.

Na sequência dessa diligência, na qual esteve presente um jornalista, que captou imagens, o médico foi detido e constituído arguido, acrescenta.

O ex-comandante do posto da GNR de Alpiarça é acusado de ter determinado e preparado a diligência, sabendo que não o poderia fazer e sabendo que o médico estava vinculado a sigilo profissional.

A presença de um jornalista é apontada como prova de que teve o objetivo “de se autopromover perante a comunicação social e a comunidade”, sabendo que a sua ação “teria, como teve, reflexo e prejuízo direto e grave na imagem social do assistente”.