Depois de estar desaparecido durante décadas, o vestido usado por Judy Garland, enquanto Dorothy no clássico “O Feiticeiro de Oz”, regressa agora a ser foco de atenção. O leilão da peça, que se estimava poder atingir até 1,2 milhões de dólares (1,1 milhões de euros), estava previsto para esta terça-feira, mas foi impedido por um juiz porque uma mulher do estado de Wisconsin reivindica a sua propriedade, noticiam vários órgãos de comunicação social dos Estados Unidos da América, como o New York Times, por exemplo.
É uma nova reviravolta na história do vestido de xadrez azul e branco usado nas gravações do filme de 1939. Em abril, a Universidade Católica da América anunciava que ia colocar a peça em leilão através da Bonhams, após esta ter sido encontrada dentro de uma caixa de sapatos, num saco do lixo.
O leilão estava previsto para esta terça-feira em Hollywood, Los Angeles, e com o dinheiro conseguido na venda a universidade pretendia financiar o departamento de teatro. No entanto, a ação foi bloqueada pelo juiz distrital Paul Gardephe, após uma audição de um processo iniciado por uma familiar do padre Hartke, a quem a peça foi oferecida em 1973.
A sobrinha do sacerdote, Barbara Ann Hartke, de 81 anos, decidiu processar a universidade e a leiloeira Bonhams no início deste mês. Considera que, enquanto a herdeira mais próxima de Hartke, o vestido lhe pertence, uma vez que não há documentos que provem que o falecido tenha doado “formal ou informalmente” o vestido à instituição.
De Judy Garland às mãos do padre Hartke. Como é que o vestido de Dorothy foi encontrado na Universidade Católica?
Foi uma feliz surpresa quando o icónico vestido foi encontrado na Universidade Católica Americana dentro de um saco do lixo. Na altura, a instituição partilhou a descoberta no Instagram, lembrando que este estava desaparecido há quase 50 anos.
Segundo o The New York Times, o Museu Nacional de História Americana do Smithsonian autenticou o vestido, que inclui um corpete, uma blusa de gola alta e a saia. Há ainda uma etiqueta de tecido com a inscrição “Judy Garland 4223”.
O vestido foi parar à instituição pelas mãos de Mercedes McCambridge, artista residente da mesma e amiga chegada de Garland. Em 1973, a atriz norte-americana ofereceu a peça como presente ao padre Gilbert Hartke, que dirigia o departamento de teatro da universidade.
A atriz de “O Feiticeiro de Oz” morreu em 1969, com 47 anos, na sequência de problemas relacionados com hepatite e abuso de drogas, e a amiga cedeu o vestido à escola por achar que seria uma forma de perpetuar a sua memória. O vestido ficou então em exposição na universidade durante alguns anos, mas após a saída do padre Hartke da universidade o seu rasto perdeu-se.
O sacerdote morreu em 1986 e o paradeiro do vestido permaneceu um mistério até que, durante uma limpeza para as renovações do teatro Hartke a peça foi encontrada pelo professor Matt Ripa.
“Assim que a caixa me apareceu à frente, soube imediatamente o que era. Vi um padrão azul axadrezado e desatei a rir. Estava chocado pelo facto de estar a segurar numa peça que marcou a história de Hollywood”, revelou à época ao jornal Washington Post.
A herdeira de Wisconsin que reivindica o vestido de Dorothy
A partir daí tudo se complicou. A sobrinha do padre Hartke, Barbara Ann, residente no estado de Wisconsin, considerou-se a herdeira legítima do vestido de Dorothy, conta o New York Times.
No processo em que implicou a Universidade Católica, Barbara garante que a família nunca foi informada da descoberta da instituição. Diz ter ficado surpreendida com as notícias sobre o leilão, que não inclui uma compensação aos “donos legítimos”.
Barbara lembra que o vestido foi “publicamente” oferecido ao tio por McCambridge como demonstração de gratidão por a “ter ajudado a combater o consumo de álcool”.
Já a Universidade Católica alega que a peça foi um presente do padre Hartke e que era seu desejo mantê-lo dentro da instituição.
Em comunicado, os advogados explicam que Hartke, enquanto padre católico romano e membro da Ordem Dominicana, “fez um voto de pobreza” no qual se comprometeu a não receber presentes como propriedade pessoal.
O leilão ficou suspenso por ordem do juiz Paul Gardephe e o vestido só poderá ser vendido quando o processo estiver concluído. Os dois lados vão encontrar-se em tribunal no dia 9 de junho.
“O Feiticeiro de Oz” é um filme norte-americano, lançado em 1939 e baseado no livro homónimo de L. Frank Baum. A história acompanha Dorothy numa jornada para encontrar o feiticeiro na companhia de um Espantalho que precisa de um cérebro, um Homem de Lata sem coração e um Leão cobarde que quer coragem. O vestido com um padrão azul axadrezado marca a personagem, que o veste durante todo o filme, e a própria história de Hollywood.
Judy Garland vestiu várias versões do icónico vestido durante as gravações do filme. Para além desta só é conhecida uma outra versão, que foi vendida em 2012 pela Julien’s Auctions, por 480.000 dólares, e revendida em 2015, por quase 1,6 milhões de dólares. Segundo a Bonhams, a peça encontrada na Universidade Católica era um dos dois vestidos usados pela atriz, que ainda incluem uma blusa branca, para a cena do castelo da Bruxa Malvada do Oeste.