O ministro dos Negócios Estrangeiros da China chegou esta sexta-feira a Kiribati, nação insular do Pacífico onde o futuro de uma vasta área de pesca está em jogo, parte de um périplo que inclui Timor-Leste.

A visita de quatro horas de Wang Yi é a segunda paragem, depois das Ilhas Salomão, do périplo por oito países, que ocorre numa altura de crescentes preocupações sobre as ambições militares e financeiras de Pequim na região do Pacífico Sul.

Kiribati encerrou as suas fronteiras este ano, numa altura em que tenta extinguir um surto de Covid-19. O seu governo fez uma rara exceção, ao permitir que Wang e a sua delegação entrem no país.

Em causa está o futuro da Área Protegida das Ilhas Phoenix, um trecho de oceano quatro vezes maior do que Portugal e que foi declarado Património Mundial pela UNESCO.

Em novembro, o presidente de Kiribati, Taneti Maamau, anunciou que o país está a planear levantar a proibição de pesca comercial, que vigora desde 2015, e permitir a pesca de forma sustentável.

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Anna Powles, professora de estudos de questões de segurança na Universidade Massey, da Nova Zelândia, disse esperar que a visita de Wang produza alguns acordos no âmbito da pesca.

Powles disse que a China, que já domina a pesca na região, ofereceu-se para melhorar uma pista de aeroporto e uma estrada nas ilhas Phoenix. “Isso prejudicaria gravemente as reservas de peixe, que já estão sob pressão”, argumentou.

Ela disse que também há preocupações de que a abertura de uma base para as frotas de pesca comercial da China em Kiribati também possa ser utilizada para atividades de vigilância de Pequim.

O presidente de Kiribati disse que Wang vai visitar a sua residência para discussões bilaterais.

“A visita de Estado de alto nível é um marco importante para as relações Kiribati-China, pois fortalecerá e promoverá a parceria e a cooperação entre os nossos dois países, após a retoma dos laços diplomáticos em 2019”, disse Maamau.

A China diz que a viagem de Wang à região se baseia numa longa história de relações amigáveis entre Pequim e as nações insulares.

Segundo a agência Associated Press, Wang Yi vai tentar obter o apoio de dez pequenas nações do Pacífico para um acordo abrangente, que cobre aspetos desde política de segurança a direitos de pesca, no que pode constituir uma mudança no jogo de influências na região.

Um esboço daquele acordo, obtido pela agência AP, revela que a China quer expandir a cooperação na área da justiça e no âmbito da segurança “tradicional e não tradicional”.

A China também quer aumentar a cooperação na administração do ciberespaço da região e criar delegações do Instituto Confúcio, organismo estatal que promove o ensino da língua chinesa.

Pequim refere ainda a possibilidade de estabelecer uma área de livre comércio com as nações do Pacífico.

Wang espera que os países apoiem o esboço do acordo, como parte de um comunicado conjunto, que deve ser emitido após uma reunião em 30 de maio nas Fiji, com os homólogos daqueles países, incluindo de Timor-Leste.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, disse que, nos últimos anos, os intercâmbios e a cooperação entre Pequim e as nações insulares alargou-se, o que foi bem recebido pelos países do Pacífico.