Dois jornalistas foram detidos na quinta-feira na Etiópia, denunciaram esta sexta-feira os seus camaradas, elevando para pelo menos 12 o número de profissionais da informação detidos ao longo de uma semana numa onda de detenções que gera preocupação internacional.

O jornalista Temesgen Desalegn, editor-chefe da revista em língua amárica Fitih, foi detido na manhã de quinta-feira por forças de segurança à paisana no seu escritório na capital, Adis Abeba, disse o seu camarada Misgan Zinabu à agência France-Presse.

“Primeiro levaram Temesgen para uma esquadra da polícia local… As forças de segurança transferiram-no depois para local desconhecido”, disse Zinabu, acrescentando que revistaram a residência de Temesgen, de onde levaram discos rígidos e uma máquina fotográfica.

Outro jornalista e youtuber, Yaysewe Shimelis, foi detido na tarde de quinta-feira em sua casa em Adis Abeba, disse também à agência noticiosa o seu antigo camarada Bekal Alamirew.

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“A polícia acusa-o de incitar à violência através das suas atividades”, relatou Alamirew, acrescentando que Shimelis compareceu esta sexta-feira perante um juiz.

As detenções ocorrem uma semana depois de dois canais de notícias do YouTube, Nisir International Broadcasting Corporation e Ashara, terem anunciado que os seus estúdios na região norte de Amhara foram invadidos e alguns trabalhadores detidos.

As autoridades regionais disseram que mais de 4.000 pessoas foram detidas no âmbito de uma operação anticrime, mas várias organizações de defesa da liberdade de imprensa afirmam que a comunicação social e os jornalistas também são alvos, em Amhara e em outras partes do país.

A Nisir International Broadcasting Corporation disse que quatro dos seus trabalhadores – jornalistas e funcionários administrativos – foram detidos e alguns equipamentos apreendidos na capital regional Bahir Dar. O destino de outros dois dos seus jornalistas continua desconhecido.

A Ashara disse que cinco dos seus trabalhadores foram detidos durante uma operação nas suas instalações em Bahir Dar.

O apresentador de TV Solomon Shumye, que tem um canal no YouTube, também foi detido em Adis Abeba na semana passada sob a acusação de incitar à violência, revelou a sua irmã Tigist Shumye.

Estas prisões estão a causar preocupação internacional.

Na terça-feira, o Departamento de Estado dos EUA expressou preocupação com o “estreitamento do espaço para a liberdade de expressão e a imprensa independente na Etiópia”.

O Comité para a Proteção dos Jornalistas e os Repórteres Sem Fronteiras exigiram a libertação imediata dos jornalistas detidos e pediram às autoridades que parem de perseguir a imprensa.

A Comissão Etíope de Direitos Humanos, uma agência ligada ao governo etíope, também pediu sua libertação.

“A detenção de trabalhadores dos media é particularmente alarmante… e as suas repercussões vão além do espaço da imprensa e da liberdade de expressão”, disse esta sexta-feira em comunicado o responsável pela Comissão, Daniel Bekele.

As autoridades de Amhara apoiaram o primeiro-ministro Abiy Ahmed e o exército federal na guerra travada desde novembro de 2020 contra a região vizinha de Tigray.