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“Obi-Wan Kenobi.” Ewan McGregor não envelhece nem ganha pó — e o mundo de “Star Wars” também não

Este artigo tem mais de 1 ano

Ele pode ter enterrado o sabre de luz no deserto há uma década mas a Força é que manda e a série focada em Obi-Wan Kenobi já tem dois episódios na Disney+ para recuperar o essencial de um clássico.

É impossível entregar já o veredito final, embora este regresso de Obi-Wan Kenobi comece de forma muito reconfortante, muito graças à prestação de Ewan McGregor
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É impossível entregar já o veredito final, embora este regresso de Obi-Wan Kenobi comece de forma muito reconfortante, muito graças à prestação de Ewan McGregor

É impossível entregar já o veredito final, embora este regresso de Obi-Wan Kenobi comece de forma muito reconfortante, muito graças à prestação de Ewan McGregor

“Help me, Obi-Wan Kenobi. You’re my only hope (Ajuda-me, Obi-Wan Kenobi. És a minha única esperança).” Ou sou eu que estou a ganhar um certo apreço pela nostalgia — sinto que está a chegar aquele dia em que vou começar discursos com “no meu tempo…” —, ou bastam frases como esta para nos remeterem para memórias e momentos incrivelmente felizes do nosso passado.

Este pedido de ajuda de Leia, que vem lá dos confins de 1977, daquele que foi o filme original de “Star Wars”, decorei-o numa ida ao cinema com o meu pai quando tinha uns oito ou nove anos (numa reposição, não sou assim tão antiga). Lembro-me da sala, do veludo das cadeiras e de passar os dias seguintes a sugar ao meu pai toda a informação que conseguia sobre a Galáxia, monopolizando as conversas lá em casa. Se é o momento mais importante do filme? Não, mas nunca me saiu da cabeça, e voltou a passar em loop na estreia de “Obi-Wan Kenobi” — cujos dois primeiros episódios estão disponíveis na Disney+ desde sexta-feira, 27 de maio. Isto tudo para dizer que a frase com que começo este texto resume na perfeição o que é esta nova produção. Por vezes parece que estamos a ver mais do mesmo mas, quando esse mesmo é bom, queixamo-nos de quê afinal?

Situando “Obi-Wan Kenobi” na linha temporal de “Star Wars”, estamos agora entre os episódios III e IV, mais precisamente dez anos após Padmé ter morrido, os gémeos terem sido separados e Anakin ter sido resgatado moribundo e recauchutado pelo lado negro da Força, que é o mesmo que dizer “ter sido transformado em Darth Vader”.

[o trailer de Obi-Wan Kenobi:]

Para quem a memória falha — ou simplesmente é humano e não consegue dar conta de tantos filmes, spinoffs e afins —, há um resumo muito eficiente no início do primeiro episódio que explica tudoo que é preciso saber para compreender a história desta minissérie.

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Estamos no planeta Tatooine, para onde Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) levou Luke Skywalker para ser escondido por familiares. Obi-Wan quem? Ele agora é Ben, um tipo solitário que trabalha numa espécie de fábrica atracada a um qualquer gigantesco animal morto, de onde é retirada carne — ou o equivalente no mundo daquelas coisas estranhas que eles comem. Seguimos-lhe várias vezes a rotina terrivelmente monótona: o toque de saída, a viagem num autocarro voador lotado, o fim do dia numa gruta onde prepara uma mixórdia e a come sozinho a olhar o horizonte — uma cena que nos remete imediatamente para a solitária Rey no início de “Star Wars: Episódio VII — O Despertar da Força”. Volta e meia, ainda arranja tempo para ir espiar Luke, que vive na quinta dos tios, ainda a anos luz de saber a verdade sobre o seu passado.

Kenobi fez tudo para esquecer quem era, embora a sua vida anterior ainda o atormente em sonhos. No momento em que os Inquisidores (ou os capangas de Darth Vader que andam à caça de Jedi) aparecem, encolhe-se todo no interior de uma gruta, incapaz de reagir perante a possibilidade real de ver Owen (o tio de Luke) ser morto logo ali. Quando outro Jedi o encontra e lhe pede desesperadamente ajuda, um resignado Obi-Wan vira-lhe as costas. “A luta acabou. Nós perdemos.”

Obi-Wan é um herói que esteve sempre em segundo plano mas que agora, destruído pelos acontecimentos do passado (e preso neles), é capaz de reconhecer em si qualquer réstia de valor.

McGregor, que foi das melhores coisinhas (ou uma das únicas que não foram más) que os episódios I, II e III nos deram, consegue uma versão mais apurada e atormentada da personagem. À primeira vista, ninguém diria que lhe passaram 23 anos por cima desde “Star Wars: Episódio I — A Ameaça Fantasma”. Continua cheio de charme (menos a trança, graças a todos os santinhos). Apesar de podermos ficar indignados com as poucas rugas e papos debaixo dos olhos do ator, o que interessa aqui é a interpretação e, essa, está mais complexa e completa do que nos filmes. “O meu nome é Ben”, diz Obi-Wan mais do que uma vez. E, de facto, de Kenobi não resta nada. Ben sobrevive, somando dia após dia como um robot, sem mentores nem pupilos, apenas com uma profunda tristeza e uma culpa que a sua expressão facial denuncia em todos os momentos.

Existem mimos para os fãs antigos. Leia e Luke, mesmo que em versão miniatura, e Darth Vader, retomado por Hayden Christensen — alegadamente, pelo menos, porque até agora mal o vimos

Lucasfilm Ltd.

O primeiro capítulo nem sempre tem ritmo. Será que precisamos assim de tantas cenas da vida aborrecida de Obi-Wan antes que o homem se decida a ir desenterrar o sabre de luz e navegar por essa galáxia fora? É que a temporada tem apenas seis episódios, há que gastá-los de forma sábia. De forma muito relutante, no final do primeiro episódio, Obi-Wan Kenobi aceita partir numa missão para resgatar Leia — um rapto que, sabe-se mais tarde, foi pensado apenas para apanhá-lo. Na versão mini de Leia ganha uma co-protagonista que enche o ecrã em todos os segundos. Sinto (e espero muito mesmo) que esta dupla vai ser um dos pontos centrais dos quatro episódios que restam — a partir de agora disponibilizados um a um, todas as semanas. Vivien Lyra Blair é o nome da miúda mais querida que anda agora nesses streamings e arredores. A atriz ainda nem dez anos tem (apesar de a sua personagem ter, ela sim, uma década), mas é tão despachada a fugir por entre florestas e mercados quanto uma boneca com as suas tranças (a caminho de virarem icónicas) e Lola — o mini robot com asas de inseto que reinará certamente no mundo das latas nesta série, sucedendo a C3PO e a BB-8.

Quando, no segundo episódio, a história descola, é à velocidade da luz. Não se atrevam a desviar os olhos porque correm o risco de perder um Obi-Wan na rota para o renascimento. Ainda está numa fase muito inicial, na qual usa mais socos do que o sabre de luz. Porém, como diria Yoda, pressa não tenhamos. Do deserto passamos para Daiyu, uma cidade escura e decadente, cheia de néons, que faz lembrar “Blade Runner” e “Carbono Alterado”.

É impossível entregar já o veredito, embora este regresso de Obi-Wan Kenobi comece de forma muito reconfortante. Podemos ver “Obi-Wan Kenobi” como aquela pessoa que há muitos anos é visita frequente de nossa casa, aquela que não precisa de ligar antes de aparecer. Já “The Mandalorian”, a outra aposta da Disney+ saída de “Star Wars”, é aquela amizade com quem se bebe café uma vez por ano. Aqui, além de Ewan McGregor ser o protagonista, existem os mimos para os fãs antigos. Leia e Luke, mesmo que em versão miniatura, e Darth Vader, retomado por Hayden Christensen — alegadamente, pelo menos, porque até agora mal o vimos.

A fórmula pode até ser vista como gasta, mas também é um risco. Se for mal replicada, corre muito mal. Não é o caso desta vez. Os elementos que fazem de “Star Wars” um universo de culto perpetuam-se e são enriquecidos por novas personagens como Reva, a Terceira Irmã (Moses Ingram). Ela não quer só capturar Jedi, quer apanhar “o” Jedi, Obi-Wan Kenobi. Não há nada que deixe isso no ar nos dois primeiros episódios, mas esta obsessão desmesurada tem de ter uma explicação mais pessoal e complexa que estará certamente guardada mais para a frente. Há ainda Haja (Kumail Nanjiani), um charlatão que se faz passar por Jedi. Parece estar talhado para ser um aliado nas novas aventuras e tem uns pozinhos de Han Solo.

No meu tempo, “Star Wars” era a saga mais incrível de sempre. Bastavam os primeiros acordes da banda sonora de John Williams para o coração palpitar de tal forma que quase roçava a taquicardia. No meu tempo, contavam-se os meses desde que víamos um filme no cinema até podemos tê-lo nas mãos numa cassete VHS. Porém, neste meu tempo de agora temos direito a “Star Wars” no cinema, no streaming, em qualquer dia e hora. Há lá tempo mais incrível do que este?

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