O pianista e compositor Filipe Raposo apresenta, em junho, no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas, nos arredores de Lisboa, o seu novo livro-CD, “Øbsidiana”, segundo volume da trilogia dedicada às cores iniciada em 2019.

Em declarações à agência Lusa, o músico referiu-se a esta trilogia como um “ensaio sonoro e visual”, que é a sua “reflexão sobre a influência de três cores essenciais, o vermelho, preto e o branco”.

O branco será o tema do próximo trabalho, que se intitulará “Variações do Branco” e sairá 2024.

Questionado sobre o formato livro-CD, o músico lembrou que, em livretes anteriores, sempre associou a cada uma das composições pequenos textos, “às vezes citações de outras obras” ou pequenos comentários seus.

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Quanto a este projeto, Raposo decidiu por algo diferente: “[Queria] trazer um outro universo, que é o visual e pictórico; no [álbum inicial da trilogia] ‘Ocre’ escolhi imagens do pintor Sérgio Fernandes, que trabalha o tema monocromático, neste decidi trabalhar um conjunto de fotografias minhas, em volta da rocha e desta dimensão textural”.

Em “Øbsidiana”, cada um dos temas tem um texto de Filipe Raposo, que assina também 12 fotografias a preto e branco.

A obsidiana, de origem vulcânica, é uma rocha híbrida, “resulta de um processo de solidificação dessa lava vulcânica e representa também, ‘per si’, uma evolução que vai do primeiro para o segundo disco, há uma solidificação, um processo de transformação que faz parte da vida de todos, estamos sempre a acumular conhecimentos e a transformarmo-nos”, disse Raposo.

“Começo com a gruta de Lascaux que é um local de nascimento da arte, e depois vou para ‘O princípio era a noite’, são temas muito mais introspetivos, e depois o disco desenvolve-se e abre”, disse.

Sobre o álbum, constituído por 12 temas de sua autoria, o pianista disse: “Há esta entrada na gruta, a nossa própria gruta, o nosso espaço interior e há essa saída, metafórica”.

“Partindo da premissa que todo este disco trabalha uma cor, o preto, há aqui uma relação direta com a literatura”, defendeu o músico e compositor.

A trilogia, uma série de ensaios sobre a cor, reforça a ligação do universo literário à cor. “Há imensas referências literárias em que a cor acaba por ser a matriz condutora, subliminar ou categórica, das ideias do escritor, e já nem me refiro ao universo cinematográfico, onde é óbvio”, enfatizou.

Sobre este disco em concreto, em termos literários, o músico referiu o romance “A História Fabulosa de Peter Schlemihl”, de Adelbert von Chamisso, “que trabalha o tema da sombra, um homem que vende a sua sombra, uma ligação ao Goethe e ao Fausto”.

Para Filipe Raposo, “o negro está ligado à ideia de começo, às cosmogonias, que está presente em muitas culturas, todas elas falam sobre este início na escuridão, e foi o mote para escrever o que é o início, ou o começo da escuridão, foi o mote para Dylan Thomas escrever o célebre poema ‘Do not go gentle into that good night’, sobre a morte, o fim de um ciclo e o princípio de outro”.

“O preto foi sempre o farol, ou bandeira de finalização que conduz a composição e a ideia criativa”, argumentou o músico.

No dia 4 de junho, quando o trabalho estará disponível ‘online’, o músico sobe, às 21h30, ao palco da Malaposta, para apresentar o novo trabalho, entrecruzando com composições do álbum antecedente, “Ocre”. No dia 9 de junho, quando o disco é colocado à venda nas lojas, Raposo atua no Coliseu do Porto.