O Presidente da República lamenta, num artigo publicado no jornal Público, a morte do ex-Presidente de São Tomé Evaristo Carvalho, dizendo que perdeu “um bom e leal amigo”, que “escondia um grande coração, uma alegria muito simples mas muito genuína”.

“Poucos, em Portugal, reterão o seu nome. E, no entanto, foi um bom amigo de Portugal”, escreve Marcelo rebelo de Sousa, classificando o ex-chefe de Estado de São Tomé como uma “personalidade reservada, contida, para os mais desatentos enigmática ou pouco afetiva”, mas que, “na verdade, escondia um grande coração, uma alegria muito simples mas muito genuína, uma perspicácia notável”.

No artigo intitulado “Evaristo Carvalho, um amigo de Portugal”, Marcelo Rebelo de Sousa lembra o ex-Presidente de São Tomé, que morreu sábado em Lisboa, como uma “personalidade desconcertante”.

“Era difícil de se entender de fora o que era dentro de si, mas o que era tornava-o mais amável, no sentido de merecedor de ser amado, mais inteligente, mais sabedor, mais sábio, ao jeito daqueles senadores que ajudam a abrir caminhos ainda quando se diria que os fecham ou dificultam por uma obstinação ou uma fixação incompreensíveis”, escreve.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Presidente da República sublinha: “Só espero que a pátria-irmã de São Tomé e Príncipe, tão marcada por duas grandes linhagens históricas, saiba, um dia, entender este Presidente quase improvável e supostamente quase honorífico que acabou por fazer o seu caminho próprio e, no meio da via sacra que foi a sua saúde, mostrar que há nos céus e nas terras mais realidades do que aquelas que nós pensamos existirem”.

“Veio a Portugal, como eu iria a São Tomé e Príncipe, em visitas de Estado. E esteve sempre muito ligado à nossa pátria”, sublinha Marcelo Rebelo de Sousa, sobre um amigo que classifica como uma pessoa com “uma determinação persistente no que entendia essencial”.

A sua coabitação com um governo de linhagem diversa — continua no artigo — “conheceria instantes mais tensos e outros mais distendidos. Situação contrastante com a que correspondera ao início do seu mandato, em afinidade mais clara com o Governo”.

“E, porque também eu experimentava uma coabitação, frequentes vezes cotejamos percursos e ele me ouviu sobre questões jurídicas ou políticas mais espinhosas. Assim como eu o ouvi sobre matérias idênticas”, escreve o Presidente da República, lembrando: “Houve mesmo dois anos em que, no meio de deslocações oficiais, consegui passar por São Tomé ou ir ao Príncipe quase só para falarmos”.

Nessas deambulações, acrescenta, “aprendi imenso acerca da doçura dos são-tomenses, dos desafios quotidianos de ir fazendo e refazendo uma democracia nesse paraíso terrestre, de como um Presidente visto por muitos como simbólico seria muito mais do que isso, de como a sua saúde penosa foi esfumando os sonhos de futuro e mesmo qualidade de vida no presente”.

Escreve ainda que Evaristo Carvalho deixou em Portugal imensos amigos, “alguns deles no exemplar Hospital das Forças Armadas, que nunca lhe faltou e vibrou consigo até ao derradeiro minuto”.

No artigo, Marcelo Rebelo de Sousa conta que Evaristo Carvalho “queria acabar os seus dias na sua pátria, São Tomé e Príncipe” e lamenta ficar “para sempre com essa mágoa” da promessa que não conseguiu cumprir, quando lhe prometeu que “partiria a tempo”.

Delfim Neves realça figura ímpar e exemplo para futuras gerações

O presidente do parlamento são-tomense, Delfim Neves, lamentou “a perda irreparável” do ex-Presidente são-tomense Evaristo Carvalho, que morreu no sábado em Lisboa, considerando-o figura ímpar e exemplo para as futuras gerações.

“Foi com sentimento de dor e consternação que eu e a minha família tomámos conhecimento” da morte do ex-Presidente da República Evaristo Carvalho, escreveu Delfim Neves numa nota divulgada no Facebook.

O presidente do parlamento refere que ele e a sua família lamentam “esta perda irreparável” e rendem “homenagem a esta grande figura que muito fez incansavelmente de forma abnegada, deu o seu contributo para a expansão executiva a nível nacional e internacional”.

“Evaristo Carvalho é e será sempre lembrado como um grande homem trabalhador, humilde, e de fácil trato, pois deixa um legado ímpar, que deve servir como exemplo as futuras gerações”, completou Delfim Neves, endereçando as “mais sentidas e profundas condolências” à família enlutada.

O ex-Presidente de São Tomé e Príncipe Evaristo Carvalho morreu no sábado, aos 80 anos, em Lisboa, vítima de doença prolongada, disse à Lusa fonte familiar.

O antigo chefe de Estado são-tomense (2016-2021) estava internado num hospital em Lisboa e faleceu cerca das 22:00 de sábado.

O Governo de São Tomé decretou cinco dias de luto nacional para “prestar tributo” ao ex-Presidente, considerando-o “figura ímpar do panorama político e da administração pública” do país.

“Será sempre lembrado como homem íntegro, de diálogo e amigo do seu povo, tendo-se revelado durante toda a sua vida como grande figura do Estado e nacionalista”, disse o secretário de Estado da Comunicação Social, Adelino Lucas, na leitura do comunicado do Conselho de Ministros de sábado.

O governo decidiu que durante o período de luto “a bandeira nacional deverá manter-se a meia-haste” e ficam proibidas “a prática de atividades desportivas, atuação dos conjuntos e bandas musicais, discotecas e demais atividades recreativas”, exceto as atividades do Dia Internacional da Criança, “considerando o significado cultural e histórico” que o dia representa para as crianças são-tomenses.

Eleito Presidente de São Tomé e Príncipe em 18 de julho de 2016, Evaristo Carvalho exerceu o mandato até 2 de outubro de 2021, quando foi sucedido por Carlos Vila Nova.

Pai de 25 filhos, Evaristo Carvalho era um histórico da política são-tomense, tendo sido, por duas ocasiões, primeiro-ministro em governos de iniciativa presidencial. Foi também presidente da Assembleia Nacional, ministro e deputado.

Técnico de agricultura, Evaristo Carvalho começou por ser um quadro do partido único – Movimento para a Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP-PSD) – após a independência e até ao início do multipartidarismo, na década de 1990.

Foi chefe de gabinete de Miguel Trovoada quando este foi Presidente da República e aderiu ao Ação Democrática Independente (ADI), partido hoje liderado pelo filho daquele e antigo primeiro-ministro, Patrice Trovoada.