Tudo começou há duas semanas, curiosamente num momento de festa do Moreirense após ter goleado o Vizela e ter garantido a presença no playoff de manutenção na Primeira Liga. E foi aí, numa altura em que Ricardo Sá Pinto passou pela bancada onde estavam presentes os adeptos do conjunto adversário, que teve início uma novela que terá como próximos capítulos duas queixas apresentadas por ambas as partes.

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O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, no seguimento do que estava mencionado no Relatório de Jogo, decidiu castigar o treinador dos cónegos com 15 dias de suspensão, ficando assim de fora dos dois jogos decisivos com o Desp. Chaves (sanção que o recurso não conseguiu suspender).

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“Percorreu parte do relvado em direção à bancada topo norte, onde se encontravam ainda parte dos adeptos do Vizela, e dirigindo-se a estes, disse de forma audível por parte do Comandante da força da GNR, a expressão “Tomai, toma lá car****” ao mesmo tempo que executava com os braços dois tipos de gestos. Um com os ambos braços afastados e semi levantados em festejo, bem como outro, com um braço na vertical e outro na horizontal, cruzados em frente ao peito, gesto comummente apelidado de manguito. A execução destes gestos e as palavras proferidas foram vistas pelos adeptos do Vizela, como provocatórias tendo-se seguido de forma generalizada, uma onda de injúrias”, justificou o órgão sobre o castigo.

“Estou a trabalhar na minha defesa, perante uma acusação em que que dizem que disse palavras que eu não disse. As imagens comprovam que não fiz os gestos que dizem que fiz. É uma grande injustiça. Sou uma pessoa emocional, é impossível mudar aos 50 anos. Sempre fui educado, se num dia não for estou cá para assumir essa situação”, referiu antes da primeira mão do playoff, jogada em Trás-os-Montes (0-2).

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“É uma grande injustiça estar fora. Este capitão da GNR Orlando Mendes foi um grande irresponsável. Ele deve ter ouvidos de super homem para ouvir aquilo que diz que ouviu. Era impossível ouvir no meio daquele estádio. Não percebo esta maldade, esta velocidade de decisão perante imagens que provam o contrário. Não fiz um gesto obsceno, não há palavras obscenas. Há braços no ar, isso é suficiente para tirar um treinador de uma final em que está em causa o sucesso de uma equipa? Este capitão é um grande mentiroso, pôs em causa o sucesso deste clube e desta vila e ninguém diz nada. As pessoas da Vila têm de se revoltar com este Capitão”, acrescentou depois na antecâmara da segunda mão em casa (1-0).

Ricardo Sá Pinto visa capitão da GNR nas críticas à sua suspensão no ‘play-off”

“Coloquei-me à disposição para tudo. Mostrámos tudo limpinho. Os delegados da Liga viram as mesmas coisas que o outro senhor viu e não escreveram nada. Era impossível ter visto, estava nas minhas costas. Acho incrível que o Conselho de Disciplina, que eu respeito, seja obrigado a penalizar-me pelo que ele escreveu. Este senhor é que me tirou do banco. Não fiz manguitos, como ele disse. Esbracejei, isso é motivo para tirar um treinador da final?”, referiu antes antes do jogo em Moreira de Cónegos.

Sá Pinto falhou mesmo o encontro da segunda mão e foi de um camarote que sofreu até ao final pelo golo que levaria todas as decisões para prolongamento, não conseguindo evitar a descida à Segunda Liga após o triunfo do Desp. Chaves na eliminatória. O técnico deverá agora deixar o comando dos cónegos mas nem por isso o caso ficou por aí, com mais trocas de acusações agora vindas de ambas as partes.

A GNR anunciou esta segunda-feira que vai participar criminalmente ao Ministério Público de Guimarães contra o técnico depois das palavras que teve antes do jogo da segunda mão, sendo que essa mesma queixa seguiu para a Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto. “Sublinha-se que a GNR empenha semanalmente uma média de cerca de 1.500 militares no policiamento desportivo, assumindo-se como uma das entidades de referência a nível nacional na transmissão dos valores contra a violência no desporto nacional, pelo que considera inaceitáveis as declarações em apreço”, completou.

CD julga improcedente recurso de Ricardo Sá Pinto para estar no play-off

“Ricardo Sá Pinto, com as suas palavras de ódio, pretende incentivar à desordem pública contra uma instituição que representa o estado de direito democrático, tendo, para além disso, utilizado os órgãos de comunicação social para injuriar um oficial da GNR. A GNR, na sua atuação em geral, e, neste caso, no policiamento de eventos desportivos, pauta a sua atuação pelo respeito dos princípios liberdades e garantias do Estado de Direito em que vivemos, tendo necessidade de atuar sempre que verifique que algum cidadão infringiu algum preceito legal”, defendeu a Associação Nacional de Oficiais da Guarda.

Agora, Sá Pinto anunciou também que irá apresentar “uma queixa-crime pela prática de um crime de falsificação de documento” contra o capitão Orlando Mendes. “No relatório por si realizado após o jogo Moreirense-Vizela, realizado no passado dia 14 de maio, fabricou este agente de autoridade, de forma consciente e deliberada, um documento falso relativo à atuação do treinador após o referido jogo, situação agravada pelas funções que exerce. Lamenta-se de todo este facto que não corresponde à verdade. Esta falsificação, para além de denegrir a imagem e o bom nome do treinador, foi relevante e decisiva para a suspensão de Ricardo Sá Pinto nos dois jogos que constituíram o playoff de manutenção na Primeira Liga. Na denúncia que irá apresentar decorrente da prática deste crime será reclamada uma indemnização por ofensa à dignidade e bom nome de Ricardo Sá Pinto”, defendeu o comunicado do técnico.